Domingos Cavaco Viçoso

Nome da Mãe: 

Amalia Cavaco

Data de Nascimento: 
1930-05-24
Local do Registo: 
Corte do Pinto
Distrito / Pais (se for estrangeiro): 
Beja
Concelho: 
Mértola
Freguesia: 
Corte do Pinto
Local de Nascimento: 
Mina de São Domingos
Estado Civil: 
Casado
Nome do Cônjuge: 

Angélica Maria Soeiro Viçoso

Residência - Localidade: 
Mina de S. Domingos
Morada: 
Rua do Mercado
Porta nº: 
15
Data de Falecimento: 
2020-02-02
Informação Pessoal: 

Biografia

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Profissão / Categoria: 
Carteiro
Serviço: 
Correios
Local de Trabalho: 
Mina de São Domingos
Notas adicionais: 

O Carteiro da Mina

Meio dia. O sol já desenhava uma figura geométrica usando o poial de casa. Espreito para a rua incandescente à procura de movimento. E eis que aparece uma figura bem conhecida por toda a comunidade. Era o Sr. Domingos Carteiro.
Fazia a subida sem dificuldade na sua pasteleira de cor escura e encostava-a ao muro com a eficiência de um gesto repetido centenas de vezes: levantava a perna por cima do quadro dois metros antes de parar e, com suavidade, encostava a manete ao muro de pedra.
Pendurada no guiador, trazia uma mala de pele castanha, retangular, funda e com duas pegas fortes e grossas. Era ali que ele guardava os segredos de poucos, a esperança de muitos, as notícias para todos e as saudades que chegavam de longe.
Para nós, moços com pouco mais de 10 anos, ele era uma espécie de super-herói. Botas impecavelmente engraxadas. Mola de madeira a prender a perna esquerda das calças. Farda azul escrupulosamente engomada. Ali estava o Sr. Domingos. Ele era o homem que trazia todas as novidades.
Com três passos entrava de rompante para dentro de casa em ritmo apressado, mas gracioso. E começava logo a distribuir correio por todos, libertando as cartas dos elásticos castanhos que as agrupavam. Ao mesmo tempo, e a uma velocidade difícil de acompanhar, contava partes e piadas que, invariavelmente, provocavam arraiais de gargalhadas e satisfação. A sua chegada era uma espécie de tónico contra o isolamento.
No final da distribuição do correio, e sempre com pressa, dizia:
- Catarina! Preciso de gasolina para acabar a volta. Quero um tinto com mistura. Tenho que me ir embora…
Bebia o cortado de golpe e abalava a toda a carga cumprimentando o pessoal com ar de gozo, a mão levantada a meia altura e dizendo: - Amanhã há mais! Não as posso gastar todas hoje...
E não gastou. O Sr. Domingos Cavaco vive ainda na memória coletiva de muitos mineiros, vibra ainda na diversão dos seus semelhantes, mas já descansa no espaço reservado aos nobres.

Autor:Júlio Silva (publicado no facebook no dia 03/04/2020)