A Ermida de São Domingos já não existe, localizava-se na Serra de S. Domingos, Freguesia de Santana de Cambas, Concelho de Mértola. Devido ao seu desaparecimento, muito pouco se sabe sobre esta Ermida, são escassos os documentos históricos que a referem e não existe nenhum desenho ou esboço conhecido da mesma, nem sequer a sua localização exata é conhecida. Segundo fontes documentais consultadas por Jorge Custódio, em dezembro de 1858 via-se apenas na encosta da serra a Ermida dedicada ao fundador da Ordem dos pregadores São Domingos teria sido erguida no séc. XIII no local de um possível espaço de culto pagão ou islâmico, situava-se na encosta poente da Serra de S. Domingos e tinha uma orientação Este-Oeste, no largo fronteiro à pequena edificação cruzavam-se os principais caminhos regionais, a estrada de Mértola (possível via romana), os caminhos para a Corte do Pinto e Santana de Cambas e algumas veredas vicinais frequentadas essencialmente por pastores. Ainda segundo o mesmo autor, o ermitério era envolvido por uma pequena cerca, onde ainda se via um pequeno jardim nos primeiros anos da comunidade mineira e na encosta a sul do mesmo encontrava-se o único campo cultivado dentro da concessão, espaço onde existiriam igualmente as ruínas de uma casa rural. Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues no seu “Diccionario histórico, chorographico, biographico, bibliográfico, herauldico, numismático e artístico” de 1909 dão nota do seguinte: «…Em 1860 apenas existia na Serra de S. Domingos uma pequena ermida dedicada a S. Domingos. A ermida era onde hoje está instalada a farmácia do hospital … foi logo construída uma casa contígua àquela ermida, que estava profanada, tendo ido o Santo para Santana de Cambas … Pouco tempo depois foi a mina arrendada à atual companhia … tendo estes titulares manifestado à junta de Santana de Cambas o desejo de que a imagem de S. Domingos fosse para a vasta e bonita igreja que nessas condições existia na mina, acedeu a referida junta a esse desejo, com a condição da mesma companhia mandar construir um coro na igreja de Santana. O Santo veio processionalmente desde Santana de Cambas à Mina, acompanhando a procissão os referidos titulares e outros cavalheiros. Por essa ocasião houve uma bonita festa na igreja da Mina e Brilhantes iluminações.» Nas memórias paroquiais de 1758 o pároco de Santana de Cambas refere o seguinte: «… fora desta aldeia há duas ermidas, a saber: uma de São Bento e outra de São Domingos, que pertencem ambas a esta igreja … sucede algumas vezes irem os fiéis fazer romagem mas não tem dias determinados …» Em 1952, é publicada no Jornal de Noticias uma reportagem sobre a Mina de S. Domingos intitulada por “Mineiros da Charneca” em que é referido « … A capelinha está, transformada em sala de espera do modesto hospital e numa inscrição se lê: “esta era a única construção existente na região em 1858” …» A propósito deste assunto numa discussão ocorrida no grupo “Amigos da Mina de S. Domingos” no Facebook a D. Mariana Azevedo afirmou: «… O hospital da Mina, foi construído onde antes tinha sido um cemitério. Quando abriram as valas para os esgotos do hospital, apareceram várias ossadas. Eu era miúda e tinha medo de ver os restos das caveiras … Eu devia ter os meus dez anos, quando morreu com cem anos um vizinho meu que não ficou espantado ao ver as ossadas, porque dizia que ali tinha existido um cemitério …». O testemunho desta senhora vem dar força e consistência à tese que a Ermida teria sido resultado da sacralização de um antigo templo, provavelmente romano que existiria junto de uma antiga necrópole, lembre-se a este propósito que este jazido mineiro foi explorado intensamente pelos romanos entre o séc. I e o séc. IV e que os trabalhos de mineração eram realizados essencialmente com recurso a mão-de-obra escrava e que devido às condições e perigosidade inerentes aos trabalhos a mortalidade deveria ser bastante elevada. Este processo não é único na região, a Ermida de S. Sebastião em Mértola resulta igualmente da sacralização de um templo romano implementado junto de uma necrópole da mesma época. Hoje, para além dos documentos citados, já nada resta, ermida, cerca, caminhos e até a placa alusiva ao local desapareceram.
Fontes:
- ANTT (1758) – Memórias Paroquiais, Santana de Cambas e Corte do Pinto; Arquivo Nacional da Torre do Tombo; Lisboa.
- RODRIGUES, Guilherme; PEREIRA, Esteves (1909) – Mina de S. Domingos; in Portugal, Diccionario histórico, chorographico, biographico, heraldico, numismatico e artístico; João Romano Torres & C.ª Editores; Lisboa; pp. 1111-1113