Conflito operário na Mina em 1923

Ano: 
1923
Descrição: 

PELA TERRA ALENTEJANA
Mina de S. Domingos, 5/8/923
Conflito Operário
Tendo os operários da Empresa da Mina de S. Domingos pedido, há meses, aumento de salários, e ficando o Gerente de estudar o assunto, deu no dia 26 p. p. a resposta ao mesmo pedido, dizendo que não aumentava os salários e sim dava ume gratificação destinada simplesmente á compra de artigos para vestuário, cuja gratificação seria uma senha de crédito, na importando de 120$00 até 270$00, conforme a família que o operário tivesse, e com esse abonos, os operários fornecer se hiam em qualquer estabelecimento até prefazer a quantia indicada, indo depois os comerciantes ao caixa da Empresa, trocar as senhas pelas respetivas importâncias. Sucede, porém, que os operários não conformes com a deliberação do Snr. Gerente, nomearam uma comissão para ir junto do mesmo Snr dizer-lhe que preferiam, a mesma gratificação em dinheiro e não em senhas; como o Snr. Gerente tivesse retirado foram atendidos pelo sub Gerente Snr. F Roskrow, que lhes disse nada poder fazer, visto serem estas as Instruções recebidas. Como nado se resolvesse, os operários no dia 28 pelas 2.34) horas da tarde, como protesto por não terem sido atendidas as suas justas reclamações, resolveram declarar se em greve, tendo todo o pessoal empregado na Empresa abandonado o trabalho. O pessoal conservou se sempre n'uma atitude ordeira, tendo oficiado ao Administrador do Concelho, pedindo lhe a sua intervenção, afim de mais breve ser solucionado o conflito; no dia 31 chegou o Administrador Snr. Antonio J. Sebastião, que depois de ter ouvido a comissão nomeada pelos operários, foi com a mesma conferenciar com o Snr. Roskrow, que lhes disse continuar na mesma atitude, visto que sem chegar resposta de Londres, para onde tinha telegrafado, nada se podia resolver, no entanto aconselhava os operários a retomarem o trabalho, ao que os mesmos responderam que não. O Snr. Administrador seguia então em automóvel para Beja, regressando no dia 1 acompanhado do Governador Civil substituto, Snr. Soveral Rodrigues, indo mais uma vez conferenciar com o Snr. Roskrow, tendo agora este Snr. dito que só passadas 3 semanas a direção em Londres podia dar resposta á petição dos operários. O Snr. Governador Civil, comunicou o caso aos operários, pedindo lhes que retomassem o trabalho e prometendo-lhes que reforçaria o pedido dos M.M. com a sua opinião como autoridade, e dizendo lhes que eram bem justíssimos as reclamações do pessoal, visto que para a Empresa, dar a senha, ou o dinheiro devia ser o mesmo, e no caso que a resposta da Direcção fosse desfavorável, o que ele não esperava, efluiu se assim o entendessem poderiam voltar novamente á greve, e que ele, G. Civil, tinha dito ao suo Gerente que depois nau contasse com o auxilio da autoridade, pois que, o que os operários pretendiam, era simples e de justiça. À vista d'isto resolveram os operários retomar o trabalha, o que fizeram no dia 2 do corrente, continuando já todos os serviços normalizados, esperando, e oxalá chegue durante as 3 semanas, urna resposta agradável. Durante o período da greve não houve o mais pequeno distúrbio ou alteração da ordem.
C.(Noticia Jornal "Os Novos")