Pomarão

Data da Construção: 
1858-??-??
Uso: 

Embarque do minério proveniente da mina.

Estado: 
Outro
Localização: 
Observações: 

Pomarão, em 1859 -"Na quarta feira de cinzas, pela manhá, vieram da Mina de S. Domingos, a cavalo, os Srs.D. James Mason, acompanhado por um outro inglês, o Sr. D. Matias Gomes, espanhol, encarregado naquele porto, pai dos Srs. Alfonso Gomes e Francisco Gomes Sanches, meus compadres depois em VR, e José Felipe, encarregado no peso do mineral que vinha da Mina. As habitações em Pomarão nesse tempo, consistiam numa casinha pequena (...) e mais em baixo uma pequena casa e cozinha que servia de quartel para o Sr. D. Matias Gomes e José Felipe...".Manuscrito de António Machado capitão dos rebocadores da empresa.

Em 20/11/1860 o Pomarão é assim descrito:
«O Pomarão compõe-se de umas setenta moradas de casas, e quinze a dezeseis cabanas, alem do pa­lacete do director: no largo do embarcadouro está o mineral num montão, que excede a cinquenta me­tros de altura, de donde se transporta para os na­vios que, ancorados no Guadiana, estão arrumados á rocha em bem crescido numero, saindo diaria­mente tres a quatro, e entrando cinco a seis, de sorte que, com quanto andem perto de trezentos ho­mens empregados em carregar, não dão vencimento ao mineral que chega.«Este mineral depois de decomposto produz pra­ta, magnésio, etc.«Tanto para o sitio das minas, como para o em­barcadouro do Pomarão tem concorrido toda a qua­lidade de commerciante, desde o vendedor ambu­lante, até ás opulentas casas de negocio.«Indivíduos de todas as nações têem vindo visi­tar este phenomeno mineral, e ultimamente um bis­po inglez com dois engenheiros.»
Em 1864 apresentaram-se no Pomarão 563 navios para embarque de minério.

14/10/1865
«Um caminho de ferro communica a mina com o Pomarão, porto de embarque, situado na margem esquerda do Guadiana, junto á foz da ribeira .de Chança, que separa o Alemtejo da província de Huelva. A distancia a percorrer é proximamente de 18 kilometros, e o transporte, feito pri­meiramente por meio de muares, depois por um sistema mixto de muares e locomotivas, é agora completamente exe­cutado por locomotivas de construcção especial.«O porto do Pomarão não existia, fez-se. As margens aprumadas do Guadiana foram rasgadas, e formou-se o es­paço necessário para as differentes vias de resguardo do caminho de ferro, para deposito de mineral, para casas de habitação, escriptorios e armazéns.«Um excellente caes reveste em grande extensão a mar­gem e a elle encostam os numerosos navios de véla e a va­por que ali vem receber carga. O serviço está de tal modo montado que os waggons vem directamente descarregar o mineral nos porões dos navios.«Um vapor da empreza anda constantemente em viagens entre o Pomarão e a barra de Villa Real de Santo Antonio, dando reboque aos navios de vela quando não tem vento de feição. São oito léguas de rio onde até 1859 se ouvia apenas o som compassado e monotono dos remos de algum batel; hoje as aguas do Guadiana agitam-se aos impulsos dados pelo movimento de centenares de navios de vela e pelos propulsores dos barcos de vapor, que dão ao, rio uma animação e uma vida acima de toda a descripção, e tornam admiravel o panorama que o Pomarão hoje nos offerece.«Sem o rio Guadiana, de tão facil navegação, em uma tão longa distancia, sem um tão bom porto de embarque como o Pomarão, e o caminho de ferro construido pela em­preza, a mina de S. Domingos teria a sorte de muitas ou­tras, que vivem raquíticas á falta de facil circulação.«Hoje a impòrtancia d’este porto é tal, que se acha n’elle estabelecida pelo governo de Sua Magestade uma estação telegraphica e uma delegação aduaneira de primeira classe, onde são. registados os navios e onde são pagos os direitos de importação e de exportação.«Foi de 563 o numero de navios que durante o anno de 1864 receberam carga no Pomarão para a transportarem a diversos portos da Gran-Bretanha. A quantidade de mine­ral exportado n’esses navios foi de 123:000 toneladas inglezas de 1:016 kilogrammas.«A primeira carregação de mineral da mina de S. Do­mingos teve logar em 23 de março de 1859, e no periodo que decorreu até 31 de dezembro ultimo, a exportação to­tal tem sido de 400:000 toneladas.«Esta enorme quantidade de mineral representa todavia uma pequena fração do que a massa metalífera de S. Domingos pode fornecer. Só a quantidade de mineral contido ainda na parte da massa acima do piso ou andar de 52 me­tros, pode calcular-se em 6.000:000 a '8.000:000 de tone­ladas, o que dá para um consumo annual de 200:000 tone­ladas de pirites durante o largo período de trinta a qua­renta annos.
«Ê elevado o numero de pessoas empregadas nos differentes serviços — a direcção technica, a administraçao, os trabalhos subterrâneos e da superfície, as differentes officinas, o caminho de ferro, e o serviço do porto do Pomarão, occupam hoje perto de 900 pessoas. Entretanto este numero já foi mais elevado, e subiu a 5:000 enquanto durou a construcção do caminho de ferro.« O numero de cavalgaduras muares empregadas no in­terior da mina, nos differentes serviços exteriores, e na conducção de mineral pelo caminho de ferro era, em abril ultimo, de 269, e antes de estar construído o caminho de fer­ro, quando o transporte para o porto do Pomarão era feito somente por cavalgaduras, chegou a 1:500 o numero d’estas, empregadas diariamente n’este serviço.

Em 1876, o Pomarão foi fatidicamente atingido pela cheia diluvial que quase provocou a sua total destruição. O dilúvio inundou as casas dos operários arrasando o ancoradouro, a zona do cais, o caminho-de-ferro e a casa da administração. Na reconstrução do porto, o palacete actualmente existente foi então implantado em local
mais elevado.

Pomarão, 9-2-931
É esta localidade o melhor porto de embarque de que dispõe o Baixo Alentejo pois que nele podem vir carregar barcos de 3000 toneladas, entrando aqui diariamente alguns vapores na sua maioria sob o pavilhão estrangeiro.
A sua população que é activa e morigerada excede o numero de 200 habitantes tendo alem disso, uma população flutuante de grande numero de operários que das povoações visinhas aqui veem procurar trabalho.
Tem também o posto da guarda fiscal com importante e movimento alfandegário, uma escola oficial regularmente frequentada e uma estação telegrafo postal de relativa importancia.
É finalmente um pitoresco e progressivo rincão alentejano que está reservado um prometedor futuro, quando os seus filhos e o poder central lhe dispensem a atenção e os cuidados a que tem jus, pois que, o Pomarão é ainda hoje uma terra votada desde ha bastante tempo ao despreso, pois se encontra privada dos seus principais melhoramentos, agua potavel luz, comunicações, sem que para isso haja motivo, visto ser um porto que bastantes interesses dá á Fazenda Nacional, em virtude do seu principal comercio (exportação de minerais), não se falando no adubo que aqui desembarca todos os anos destinado á lavoura do baixo Alentejo, embarques de grandes quantidades de trigo, para Lisboa e Porto etc. etc.
Apesar de tudo isto que todos conhecem e sabem, apesar das nossas reclamações, feitas em tempos no «Seculo», apesar do abaixo assinado que dirigimos á Camara Municipal ainda até hoje nao deixamos de ingerir aquela agua insalubre e impotável, completamente cheia de micróbios, que diariamente somos forçados a beber e que só unicamente prejudica a saude. O poço encontra-se na maior lástima é um completo charco, com a parede toda derrotada sujeito a que ali venham parar todas as imundicies, dando o resultado que atrás deixamos dito, o que não sucedia em tempos visto a Empreza da Mina de S. Domingos ter o poço tapado e vigiado por um operario onde tambem havia uma bomba, mandada construir pela mesma; infelizmente tudo isto acabou.
Sobre luz, em virtude da situação do terreno, de noite a maior parte das creaturas, não podem transitar nas ruas e as que o fazem,teem de se munir de luzes. A Empreza da Mina de S. Domingos disse ha tempos, estar estudando o assunto sobre o ponto de iluminação em Pomarão, o que muito beneficiaria os habitantes e bem assim os seus operarios que trabalham de noite, que necessitam de luzes e que disso se vêem privados, mas até á data ainda se não lançou mão á obra de tão importante melhoramento.
Quanto a estradas a mais proxima passa a 15 Km e como teem sido construidas e reparadas grande numero de estradas em todo o país, bom seria que as autoridades competentes, senão esquecessem dos povos da freguezia de Sant'Ana de Cambas, mandando construir a projectada estrada que liga Pomarão, Sant'Ana de Cambas, Mina de S. Domingos e Serpa, conforme o Diário de Noticias, noticiava em 17 de Dezembro do ano findo, pois esta importante obra não somente beneficiava os povos acima, como tambem atenuava a grande crise do trabalho que por aqui reina em virtude dos grandes despedimentos de operários, que a Empreza da Mina de S. Domingos, tem feito. Em virtude das nossas justas reclamações que mais uma vez expomos, esperamos que o seu resultado não seja debalde e assim confiadamente aguardamos o bom acolhimento dos mesmos.

Em 1946 é descrito um edificado de 30 habitações no Pomarão.