Rei D. Pedro V visita a Mina de São Domingos-1860

Ano: 
1860
Autor: 
Diário do governo
Descrição: 

MINISTÉRIO DOS XEGOCIOS DO REINO
Boletim do dia 29 de outubro de 1860

Sua Magestade EI-Rei, para satisfazer a um dos fins por que empreendeu a sua viagem ao Alentejo, partiu boje de Serpa as oito horas da manha em direção á mina de cobre de S. Domingos, no concelho de Mértola, acompanhado pelo Sereníssimo Senhor Infante D. João, pelos ministros do reino e obras publicas, pelo seu camarista, por dois ajudantes de campo, e pelo inspector das minas do quarto districto.
A estrada que conduz a S. Domingos atravessa uma herdade pertencente ao sr. marquez de Ficalho. S. ex.a, na passagem de El-Rei, praticou o mesmo que outros abastados lavradores da província já tinham feito, apresentando á beira da estrada, como n'uma exposição agricola, todo o gado das diversas especics que povoam aquella herdade, uma das principaes do Alemtejo.
Era Santa Iria, a cinco kilometros de Serpa, estava o parocho da respectiva freguezia esperando Sua Magestade e Alteza, para lhes dirigir saudações em nome dos seus parochianos.
Nos limites do concelho de Mertola apresentou-se o competente administrador com o director do circulo das alfandegas de Mertola e mais empregados seus subordinados, o director do correio e vários funccionarios públicos, e os cidadãos mais notáveis d’essa localidade.
Antes de chegarem os augustos viajantes á Córte do Pinto vieram receber as ordens de Sua Magestade e Alteza o governador civil do districto de Faro, o general Padua, commandante da 8.* divivisão militar, e seu estado maior.
As tres horas da tarde, depois de uma longa jornada, chegou Sua Magestade á demarcação da mina de S. Domingos, onde era esperado pelo representante da empreza, que dirigiu a El-Rei uma allocução agradecendo a visita que Sua Magestade se dignava ali fazer, para observar como a industria mineira estava implantada na serra de S. Domingos. El-Rei com o maior agrado respondeu que sentia grande satisfação, por ter sido no seu reinado feita a concessão para a lavra d’aquella mina.
Todos os empregados e operários, em numero de duas mil pessoas, formavam alas até ao sitio onde se achava a camara municipal de Mertola, aguardando occasião de testemunhar aos augustos viajantes o prazer dos povos do seu município pela presença de Sua Magestade e Alteza n’aquelles logares.
Ás tres horas e meia da tarde entrava El-Rei e o Sereníssimo Senhor Infante na casa da administração da empreza, a qual foi posta á disposição de Sua Magestade e Alteza, tendo sido victoriados entusiasticamente durante o transito pelo campo da mina.
Sua Magestade empregou o resto do dia a examinar as construcções exteriores da mina, que foram levantadas pela actual empreza na serra de S. Domingos, merecendo ao mesmo augusto senhor especial attenção as habitações dos mineiros. El-Rei dignou-se convidar, para o jantar, alem das pessoas da sua comitiva, o inspector dos trabalhos dc exploração, o representante da empreza, o governador civil de Faro, o presidente da camara municipal de Mertola, o general Padua e seu estado
maior.
Grande numero de funccionarios civis e judiciais, tanto daquelle concelho como dos de Alcoutim e Villa Real de Santo Antonio, tiveram a honra de ser admittidos á presença de Sua Magestade e Alteza.
Durante toda a noite o campo da mina apresentava o aspecto de uma verdadeira festa que se manifestava por illuminações, arcos triumphaes, descantes e danças, tudo acompanhado por incessantes vivas aos augustos viajantes, a El-Rei o Senhor D. Fernando, e á carta constitucional.
Dia 30
Depois da visita feita aos trabalhos do exterior da mina de S. Domingos, no dia em que ali chegara, hoje ás seis horas da manhã desceu El-Rei e seu augusto irmão aos trabalhos subterrâneos, que estão a uma profundidade de 40 metros.
N’este exame se demoraram por espaço de duas horas, tendo tido occasião de observar a maior parte das obras subterrâneas, executadas pela empreza, e algumas das que se acham feitas desde remotas eras.
Sua Magestade mostrou-se muito satisfeito pelo modo como encontrou estabelecida e dirigida a lavra da mina.
Depois do almoço, ás nove horas da manhã, partiu El-Rei e seu augusto irmão em direção a Serpa, passando pela estrada feita á custa da empreza até á aldeia de Santa Anna de Cambas, para observar o notável movimento de carros e cavagaduras que conduziam o mineral para o porto do Pomarão.
Seguiu depois o caminho de Morianes, a fim de tomar a estrada que vem de Mertola para Serpa.
Ao cabo de uma jornada, que durou nove horas, chegaram Sua Magestade e Alteza a Serpa, sendo esperados a grande distancia da villa por muitos cavalheiros e auctoridades, e recebidos pelo povo com o mesmo enthusiasmo que na vespera se patenteara.
Ás seis horas e meia da tarde teve logar o jantar, para que foram convidadas as mesmas pessoas que no dia da chegada de El-Rei a Serpa tinham alcançado esta honra.