VISITA RÉGIA À MINA DE SÃO DOMINGOS-1897

Ano: 
1897

Foto: Arquivo fotográfico de Lisboa

Descrição: 

Miséria no Algarve
Vila Real de Santo António 22 de abril de 1897
Cerca de 500 homens das Freguesias de Azinhal e Odeleite Vieram hoje aqui a hora da sessão camarária pedir trabalho. São os tristes resultados da grande crise agrícola que assoberba Esta região. Não há memória de um ano assim de fome. Em Alcoutim grande parte da população rural alimenta-se com raízes de Várias plantas Tendo se dado já casos de envenenamento.

A miséria no Algarve São Brás de Alportel 19 de maio de 1897
Há quase 3 meses que a chuva nos não visita. Por isto se pode avaliar o estado dos Campos. Os trigos na maior parte já estão secos e os que têm resistido se a chuva Se demorar também daqui a pouco ficaram perdidos. Pastagens não as há. A novidade da amêndoa e da alfarroba é escassa. Trabalho também não há.

VISITA A MINA DE SÃO DOMINGOS

escrevem nos dali muita gente erradamente supõe cá Mina de São Domingos está situada na província do Algarve quando aliás ela fica no Distrito de Beja e no concelho de Mértola no Alentejo. Isso não impede que a visita regia se Estenda até aqui
Deve ser realmente imponente a recepção que se deverá fazer em São Domingos ao chefe do estado. Ao contrário do que vários jornais têm noticiado não se sabe ainda se os senhores Viscondes de Pomarão James Mason e lady Evelyn Lindsay maiores proprietários da Mina vem Assistir a visita. Conforme está determinado e no dia 11 de outubro que os soberanos devem chegar e ser-lhe-á servido o almoço. Da Mina de São Domingos para alojamento ha um regular Hotel e ha que ver o seguinte: Os depósitos de material circulante, as oficinas de Serração serralharia e fundição; o interior da Mina Onde se pode ir abaixo da superfície do solo 152 metros; das máquinas que põe em movimento as oficinas, extraiem a água e fazem subir os carros com o mineral pelo sistema Funicular; os açudes um dos quais leva um milhão de metros cúbicos e o outro Comporta 5800 milhões de metros cúbicos e pouco mais.

Na Mina de São Domingos continuam os preparatórios para a recepção de suas majestades. Contiguo ao jardim da direcção Já se vê quase pronto o luxuoso Pavilhão no qual será servido o almoço aos reais visitantes. O pavilhão Obedece a um desenho elegantíssimo e ocupa um espaço de 7 metros quadrados. Também estão quase concluídas as carruagens salões para de Pomarão à mina transportarem os reais viajantes. Nas oficinas mecânicas projetam se trabalhos importantes que serão executados no dia da visita.

Informam da Mina de São Domingos: E tal Afinal com os arranjos e preparativos para abrilhantar a recepção de suas majestades que uma grande parte dos Operários ao serviço desta empresa se não entrega hoje em outra coisa trabalhando alguns também de noite. A carruagem real que já tivemos ocasião de ver chegou aqui no sábado último saindo de Pomarão à mina acompanhada pelo chefe senhor Purves que recomendava sempre o maior cuidado na marcha de tal objeto. No próximo sábado devem chegar aqui os serviçais de suas majestades.

Vão ao Algarve os seguintes representantes da imprensa de Lisboa: Rafael Bordalo Pinheiro pelo António Maria, José Parreira pelo correio da noite; lorjó Tavares correio da Manhã; melo Barreto, Novidades; ludgero Viana, século; Mariano Pina que já está no Algarve jornal do Comércio; batista Borges Diário de Notícias; e João Chagas pela marselheza.

De Vila Real de Santo António de Exu seguinte: Constante a comissão dos festejos que se têm propalado a notícia de ser a Mina de São Domingos e o estado que Tem contribuído com os meios pecuniários para abrilhantar a recepção de suas majestades nesta Vila, desmente terminantemente tais boatos e declara que a manifestação modesta mas digna é única e exclusivamente feita à custa do município e iniciativas particulares.

Vila Real de Santo António 28 de setembro de 1897
Partiu às 12:20 o vapor Rita rebocando uma Chalupa com destino a Huelva afim de trazer a carruagem para a família real com destino à Mina de São Domingos.

O governo pôs um salão especial à disposição dos jornalistas que acompanham suas majestades ao Algarve. Para as viagens teem os representantes da imprensa passagem a bordo da canhoneira zaire. Os delegados dos jornais de Lisboa são os senhores lorjó tavares do Diário da manhã; Batista Borges do Diário de Notícias; Ludgero Viana do Século; Rafael Bordalo Pinheiro do Antônio Maria; José Parreira do Correio da Noite; Arnaldo da Fonseca do Branco e Negro; Melo Barreto das Novidades; Mariano Pina do Jornal do Comércio e João Chagas da Marselhesa estes dois últimos estão já no Algarve desde segunda-feira.

11 de outubro de 1897 as suas majestades e séquito partiram agora mesmo para a Mina de São Domingos. Sobem o Guadiana até Pomarão. Os navios de guerra Zaire Mandovy e Faro e o iate Real Dona Amélia. A chegada à Mina não será antes do meio-dia. Grande afluência do povo nas duas margens do rio tanto na portuguesa como na espanhola. No Guadiana bem como nos canelates. Navega grande número de embarcações miúdas, vapor e à vela. Do Alentejo teem chegado numerosas pessoas. As populações marginais de Castro Marim e Alcoutim estão em festa. De Ayamonte e São Lucar, na margem espanhola tem vindo a multidão aos esteiros.

Não só as autoridades locais deste concelho onde se acha a Mina de São Domingos como as autoridades do distrito de Beja foram cumprimentar suas majestades pela sua visita a esta parte do Baixo Alentejo. Ao desembarque em Pomarão para seguir em pelo caminho de ferro da Mina até São Domingos assistiu numeroso concurso de povo. Suas majestades devem regressar da Mina a Vila Real perto das 9:00 da noite a jantando e dormindo a bordo.

Última hora
Acabamos de receber um longo telegrama dando notícia da chegada de suas majestades arrumaram onde foram acompanhados pela flotilha de guerra incluindo a canhoneira espanhola Toledo. O adiantado da hora impede-nos de dar hoje este telegrama.

A CHEGADA A POMARÃO

As 9:00 estamos em frente de Pomarão. Soberbo Deslumbrante o seu aspecto visto do mar é uma delícia que os olhos não cansam de admirar. O cais artificial desaparece debaixo de uma verdadeira floresta de plantas as bandeiras portuguesas espanholas americanas e francesas formam uma abóbada tremulante e iriada. Aguardam ali suas majestades o senhor Bispo de Beja o governador civil substituto a câmara municipal de Mértola o Visconde de Pomarão pessoal superior da Mina de São Domingos etc.

O povo luzindo garridos trajes, apinha-se pela encosta formando um tapete movediço e irrequieto de onde de tempos a tempos saiem clamorosas saudações. A bordo da zaire toca a Charanga variadas peças musicais que concorrem para dar a todo este feérico espetáculo um tom de alegria a extraordinário. Espera-se a todo o momento o iate Dona Amélia com suas majestades.

O povo do local é muito ..... nos seus trajes pitorescos davam a ideia de uma grande Romaria toda visão formando linhas caprichosas e a ornamentação verdura bandeiras de ser produziam extraordinário efeito zaire chegou agora a canhoneira espanhola Toledo com bandeira portuguesa no mastro Real. Iate Dona Amélia conduzindo os reis Largo de Vila Real as 6:00 houve foguetes e aclamações em Terra subindo os marinheiros as vergas dos navios da esquadrilha. O iate subiu guadiana seguido das canhoneiras mandou vir Faro e Lagos todas as bandeiras em arco chegando em frente ao Pomarão às 10:00. Os marinheiros da Esquadrilha subiram as vergas fazendo o mesmo os do navio espanhol e a charanga do corpo de marinheiros tocou o hino Real. queimaram se muitas girândolas de foguetes.

Foi linda a entrada do Dona Amélia na Baía do Pomarão. A marinhagem nas vergas da zaire e da Toledo deu vivas. Após alguns minutos de descanso suas majestades desembarcaram recebendo cumprimentos e grande ovação do povo. As aclamações repetiram se na estação do caminho-de-ferro funicular das Minas onde o senhor Manuel Francisco Gomes vice-presidente da câmara de Mértola leu uma alocução dando as boas-vindas a suas majestades. Respondeu o Senhor Dom Carlos agradecendo. Novos vivas entusiásticos aos monarcas a rainha Dona Maria pia e príncipes. Pois desta cerimônia realizou-se a partida para as minas em salão Real Onde tomaram lugar além de suas majestades os senhores Bispo de Beja ministro interino da Marinha e governador civil. As canhoneiras Mandovi, faro e Lagos chegaram no momento da partida do comboio. Na gare havia muita gente das povoações próximas. Levantaram-se Vivas e uma filarmônica tocou o hino.

Aguardavam A chegada das majestades o bispo de Beja o governador do bispado o governador civil substituto de Beja e a câmara de Mértola tendo à frente o vice-presidente Manuel Gomes. Na ponte os reis receberam os Cumprimentos do estilo e seguiram assim como a comitiva a pé para a linha férrea num trajeto de 10 minutos.

A VISITA A MINA DE SÃO DOMINGOS

A viagem pela linha Funicular das minas que é acidentada tendo muitos túneis e Pontes durou 42 minutos. As estações da Achada, gamo, telheiro, e Salgueiros estavam ornamentadas e cheias de povo. O professor Cortes achava-se ali com os alunos das escolas. A entrada das Minas foi verdadeiramente triunfal. Mais de 6000 pessoas a clamavam os soberanos. À saída do salão Real adiantou-se uma comissão composta de 7 senhoras presidida pela senhora dona Rosália Abecassis que enviaram lindos ramos de flores à senhora dona Amélia. A Guarda de honra era feita pela guarda fiscal. Mulheres e crianças acenando com os lenços exclamavam: "Viva a nossa querida Rainha." algumas mulheres ajoelharam à passagem de suas majestades que seguem a pé para o palácio da empresa. O caminho está adornado de grinaldas de bucho.
O senhor Abecassis administrador geral das minas leu uma alocução de boas-vindas recordando com elogio a visita de Dom Pedro V declarando que o dia de hoje será escrito em letras de ouro na história das Minas. Elogio as virtudes da soberana o interesse que el Rey toma pelo progresso do seu povo.

O senhor Abecassis diretor leu alocução em que agradeceu a visita de suas majestades à Mina terminando pelos seguintes períodos:
37 anos que o ilustre tio de vossa majestade Dom Pedro V veio presenciar os primeiros passos desta mina incertos na infância da sua exploração. Passaram anos, passou essa geração, modificou-se a direção da Mina mas não passou nem esmoreceu o sentimento da lealdade nos corações e a nova geração vem hoje saudar com o mesmo alvoroço e o mesmo entusiasmo pela presença do seu rei e de sua excelsa esposa. Conserva Inalterável o seu reconhecimento. Senhor: Este dia ficará marcado em letras de ouro na história da Mina. Em nome da direção da empresa, em nome de todo o pessoal, em nome dos empregados, artistas, mineiros trabalhadores em nome da Povoação toda, tenho a honra de dar a vossas majestades as boas-vindas a São Domingos elevando os mais fervorosos votos pela saúde daddy da preciosa vida de sua majestade de sua majestade a rainha e de toda a família real. Vivam suas majestades!.
Devo mencionar especialmente a Vistosa ornamentação que tinha a mina. A comitiva passou por entre filas de locomotivas de serviço da linha estando todo o vasto recinto com Vistoso embandeiramento e outras decorações. A música da Guarda de honra executou o hino nacional e a enorme população que se aglomerava em pontos mais elevados e espalhada por toda a parte.(jornal da tarde)

Entraram no comboio tomando lugar na carruagem vinda do estrangeiro expressamente para esta visita partindo para a mina que fica a 15 quilómetros. Ali o vice-presidente da câmara de Mértola leu uma alocução. À chegada do comboio a mina estão desejaram foguetes e soltaram-se vivas.

O comboio for é composto de duas máquinas salão Real mais três salões para os convidados e um para os jornalistas. Toda a comitiva seguiu entre alas compactas de povo para o Palacete do Visconde de Pomarão. Tendo sido aguardados os reis pelo senhor Abecassis administrador da Mina Júlio Mascarenhas guarda-livros, Robert Hann, encarregado dos trabalhos da Mina, Doutor António Maurício Vargas, médico da mina e muitas senhoras das quais sete entregaram bouquets à rainha. Toda a mina estava em festa sendo boa a ornamentação. Havia dois arcos triunfais e fazia a Guarda de honra um Esquadrão da guarda fiscal. O jardim a entrada do palacete estava adornado por um grande quadro contendo artisticamente dispostas todas as ferramentas usadas nos trabalhos da Mina. Ao centro quadro via-se o chapéu do Senhor Dom Pedro V levou a mina quando em 29 de outubro de 1860 a visitou. Os soberanos foram para a sala de toillete enquanto as filarmónicas tocavam o hino.

A Mina de São Domingos é um grande e importante centro de trabalho não havendo outro igual no país. Aquela povoação pertence ao Visconde de Pomarão ou a companhia por ele representada. O Visconde está no estrangeiro. Os operários ganham 500 e 600 Reis. Tu aos mineiros os salários são os mesmos, mas o trabalho é de 6 horas para uns e de 12 para outros. Há também empreiteiros. O depósito do material circulante é de muito valor.

As oficinas de Serração Serralharia e fundição são dignas de ser visitadas. A casa das máquinas é muito importante põe em movimento engrenagens distribuídas pelas diversas oficinas e aparelhos numerosos de variadas aplicações. Serve também para fazer subir os carros do material pelo sistema Funicular. Tudo ou quase tudo funcionou na ocasião da visita prestando os visitantes toda atenção e pedindo o rei e a rainha vários esclarecimentos.

A Mina tem 150 metros de profundidade nas Galerias das paredes das galerias cai água que vai reunir-se à que nasce no fundo. As máquinas lançam toda essa água em dois açudes, um que leva um milhão de metros cúbicos e outro que leva 5 milhões e oitocentos mil. Todo o serviço da Mina é curioso. A população é de mais de 5000 pessoas sendo só operários cerca de 2300.

O Senhor Dom Carlos agradeceu penhorado testemunhando muita satisfação por esta visita. Depois de alguns minutos de descanso começou a visita ao estabelecimento. Logo há jantar a bordo do iate, de 30 talheres. As minas teem muito valor. A 152 metros de profundidade a água é tirada a vapor. A população é enorme. As galerias estão separadas 20 metros umas das outras. Vai começar o almoço.

O ALMOÇO
Esta Refeição foi servida na sala grande do palacete do Visconde Pomarão. A decoração era azul e branco com verdura. Havia bonitos Mármores e retratos de Dom Pedro V, Dom Luís I, Dom Carlos e Visconde de Pomarão.
O almoço foi de 60 talheres. O Rei dava a direita a madame Abecassis e a esquerda a Dama da Rainha Dona Maria Francisca de Menezes.
A rainha dava a direita ao Bispo de Beja e a esquerda ao ministro da marinha. O rei convidou para o almoço os representantes da imprensa.
O menu foi: .....

Após o almoço no palácio das minas suas majestades saíram sendo alvo de uma grande ovação Popular. Estarão as oficinas das máquinas forjas fundição, admirando os soberbos trabalhos. Desceram à colossal mina de cobre por entre Carreiros abertos de propósito nos terrenos minerais. Entraram nas Galerias subterrâneas vendo a extração do minério, à luz de lanternas, percorrendo grande distância debaixo da Serra. Depois subiram o caminho-de-ferro subterrâneo até à superfície da serra. Suas majestades também foram à igreja. O povo aclamou muito os soberanos fazendo a manifestação mais Extraordinária a que tenho assistido no Algarve. A rainha mal podia caminhar tanta era a gente que lhe queria beijar a mão. Há uma dificuldade enorme de noticiar por falta de comunicações.

Findo o almoço Mariano Pina agradeceu à rainha em nome dos jornalistas convidados.
A rainha disse que desejava vê-los durante a viagem e que lhes ficava agradecida por fazerem constar o muito que se interessava pelo Algarve que tanta estima manifestara pela sua família.

VISITA ÀS OFICINAS
Nas oficinas assistiram os reis a Fundição de duas peças uma de chumbo e estanho e outra de ferro um corpo de bomba.
Depois desceram por carreiras abertas expressamente em redor da Mina até grande profundidade examinando os trabalhos e penetraram nas Galerias subterrâneas da Mina servindo-se todas as pessoas presentes de lanternas e assistindo a família real com o maior interesse a extração do minério estando iluminada a galeria a manganésio.
Tendo percorrido até grande profundidade as duas galerias tomaram lugar no comboio subterrâneo que os conduziu e à comitiva. O mesmo comboio fez mais três carreiras para conduzir todas as pessoas.
À retirada o povo tomou o alto das trincheiras espaço vasto onde estava o comboio sendo calculadas em 7000 as pessoas que ali se achavam.

Na Mina há 24 polícias criados e pagos pelo Visconde. Hoje estavam ali mais seis de Beja. O comboio voltou organizado como fora havendo segundo por não chegar o primeiro. Chegado o comboio a Pomarão realizou-se o reembarque no Iate Dona Amélia havendo demonstrações iguais às do desembarque.

REGRESSO A VILA REAL

O iate seguiu com os reis para Vila Real e nas suas águas as quadrilhas em São Lucar povoação da margem espanhola os carabineiros à passagem do rei formaram e fizeram as honras militares. São Lucar estava engrinaldada e iluminada. A imprensa ao embarcar em Pomarão levantou vivas à marinha portuguesa.