O mordomo do palácio
Victoriano Rosa, mordomo no palácio da Mina de São Domingos durante 44 anos(1861-1905) natural da Mesquita freguesia do Espírito Santo, surge com frequência em vários registos da Corte do Pinto nos quais ficou registado como presença assídua ao longo de várias décadas como padrinho ou testemunha em baptizados, casamentos e actos notariais, o que demonstra a sua importância no contexto social e económico da Mina de São Domingos após o seu redescobrimento em 1857 por Nicolau Biava.
Um exemplo para ilustrar o que foi referido anteriormente:Em 1874 Vitoriano Rosa aparece numa escritura que regista a descoberta de uma mina de cobre gris no Serro Alto-Monte das Estevas em parceria com Dom Eduardo Aurelio Barrera agente da companhia La Sabina.
"Aos vinte dias do mês de Julho de 1828 anos nesta paroquial igreja do Espírito Santo baptizei e pus os santos óleos a Victoriano José que nasceu a 10 deste mês filho legítimo de José Afonso natural da freguesia do Pereiro termo de Alcoutim e Maria Rosa natural desta freguesia e moradores na Mesquita."
“Aos 26 dias do mês de Dezembro de mil oitocentos e cinquenta e nove anos nesta paroquial igreja do Espírito Santo se deu sepultura a Maria neves casada com Victoriano José do monte da Mesquita desta freguesia.”
Em 1860 aparece já como "empregado na Mina de São Domingos" passando aqui residir provavelmente a partir do mês de Maio.
Pode-se atentar na caligrafia de Victoriano Rosa através do texto por si manuscrito no catálogo da exposição internacional do Porto de 1865 organizado pelo seu patrão James Mason no qual escreveu:"Este livro foi me oferecido pelo exmo(?) Sr (?) Julian Vardens(?) secretário do Exmo Sr(?) James Mason em 31 de Outubro de 1865 Seu próprio dono (assinatura)Victoriano Rosa" Surgindo depois escrito com outra caligrafia e outro tipo de tinta" que o ofereceu a Francisco Barão Lourenço"(Seu sucessor como mordomo no palácio?).
Em 1868 aquando do seu 2º casamento ficamos a saber que “Victoriano Rsa viúvo de Maria das Neves morador na freguesia da Corte do Pinto concelho de vila de Mértola há mais de 8 anos que para casar com Maria dos réis viúva de pascoal macias moradora na mesma freguesia também há mais de 8 anos tem banhos nupciais corridos sem impedimento.”
1868
“Aos 18 dias do mês de Junho do ano de 1868 nesta igreja paroquial de nossa senhora da Conceição da Corte do Pinto concelho de Mértola diocese de Beja na minha presença compareceram os nubentes Victoriano Rosa e Maria dos Reis com todos os papéis do estilo correntes e sem impedimento algum canónico ou civil para o casamento ele de idade de 40 anos viúvo de Maria das Neves natural da mesquita freguesia do Espírito Santo desta mesma diocese e ela de idade de 36 anos viúva de pascoal macias natural da Puebla província de Huelva bispado de Sevilha e ambos os contraentes residentes na Mina de São Domingos desta mesma freguesia os quais nubentes se receberam por marido e mulher e os uni em matrimonio procedido em todo este ato conforme o rito da santa igreja católica apostólica romana. Testemunha: João Maria Valente, médico na Mina de São Domingos."
Maria dos Reis ou Maria Del Rey informou que seu defunto marido morreu na mina de Tharsis e sepultado no cemitério de Alosno em Espanha.
Tal como referi anteriormente Victoriano Rosa foi uma personagem proeminente como se poderá constatar em alguns dos assentos de nascimento e de casamento no qual foi padrinho, testemunha ou só pelo facto de baptizarem as suas crianças com o nome de Victoriano como forma de “homenagem” como é o caso de Victoriano Paulino, neto dos meus tetravós nascido a 4 Janeiro de 1898 na aldeia da Corte do Pinto.
Ou,
“Aos 14 dias do mês de maio do ano de 1860 pelas 4 horas da tarde na igreja paroquial de nossa senhora da Conceição da Corte do Pinto concelho de Mértola baptizei solenemente e não pus os santos óleos a uma criança do sexo masculino a quem deu o nome de António que nasceu pelas três horas da tarde do dia 22 do mês de Abril do ano de 1860 filho legítimo primeiro do nome e do primeiro matrimónio de domingos frade e Maria dos santos santos recebidos na freguesia de são salvador da cidade de Beja foi padrinho vitoriano rosa viúvo trabalhador morador no monte da mesquita freguesia do Espírito Santo.”
“Aos 14 dias do mês de Setembro de 1862 pelas 14 horas do dia nesta paroquial igreja de nossa senhora da Conceição da Corte do Pinto concelho de Mértola diocese de Beja baptizei solenemente e pus os santos óleos a uma criança do sexo masculino a quem dá o nome de vitoriano foi padrinho Victoriano Rosa viúvo natural de Mesquita.”
“Aos 19 dias do mês de Junho do ano de 1871 nesta igreja paroquial de nossa senhora da Conceição da Corte do Pinto de Mértola diocese de Beja baptizei solenemente e puz os santos óleos a um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de António e que nasceu na Mina de Santo Domingos foi padrinho Victoriano Rosa casado empregado na Mina de Santo Domingos e na mesma residente e madrinha Maria Del Rey casada residente na Mina de Santo Domingos.”
“Aos vinte e sete dias do mês de Dezembro do ano de 1885 nesta igreja paroquial da nossa senhora da Conceição concelho de Mértola diocese de Beja baptizei solenemente um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de Victoriano.”
No dia 11 de Setembro de 1898 casaram na igreja paroquial da Corte do Pinto, José Pedro Vasques, de profissão desenhador e empregado na Mina de São Domingos e Francisca Marques, filha de Matilde Teixeira por sua vez filha do meu tetravô Luís José Castilha de Martimlongo. O noivo era originário de Ayamonte.
Uma das testemunhas deste matrimónio foi Victoriano Rosa.
E após a morte do seu patrão em Abril de 1903, James Mason, o mesmo que tinha fundado a empresa Mason & Barry em 1859 na Mina, Vitoriano Rosa é contemplado no testamento com um cheque de 50 libras esterlinas do visconde de São Domingos após 44 anos como seu leal mordomo.
O jornal “A Folha de Beja” dá a noticia em 8 de Junho de 1903:
“Como recordação dos seus antigos e felizes tempos passados n'estes sitios, e em attenção aos bons serviços que como seu fiel mordomo na, Mina de S. Domingos lhe tem prestado há 42 anos contemplou o fallecido Sr. Visconde Mason de S. Domingos o mesmo seu serviçal Sr. Vitoriano Rosa,com um cheque de 50 libras esterlinas sobre o banco do Londres, cheque que supomos foi já negociado em Lisboa, conforme as leis bancarias de Inglaterra.
Este nosso amigo, mais d`uma vez havia já recebido brindes pecuniarios do benemérito titular em questão que mesmo no fim da vida, se não esqueceu d'aquelle seu antigo creado, destinando-lhe a supracitada somma.”
Em 1905 morre Victoriano Rosa:
“Aos vinte e quatro dias do mês de Fevereiro do ano de 1905 às 4 horas da manhã na Mina de São Domingos desta freguesia da Corte do Pinto concelho de Mértola diocese de Beja faleceu tendo recebido os últimos sacramentos o indivíduo do sexo masculino por nome vitoriano rosa casado com Maria Patrocínia (Maria Del Rey), de 77 anos de idade natural da Mesquita freguesia do Espírito Santo filho legítimo de José Afonso e de Maria Rosa o qual foi sepultado no cemitério publico da Corte do Pinto”
O jornal “A Folha de Beja” dá também a noticia do falecimento do mordomo:
“Faleceu aqui o senhor Vitoriano Rosa um dos homens mais alegres e bem-dispostos que temos conhecido contava de idade os 80 anos metade dos quais se não mais, foi até agora mordomo do senhor visconde de mason de São Domingos a quem acompanhou muito nos anos em que sua excelência por aqui permaneceu.”