UM PASSEIO ATRIBULADO-MINA 1926

Ano: 
1926
Descrição: 

UM PASSEIO ATRIBULADO-MINA 1926
MINA DE S. DOMINGOS

19-08-1926

Com o intuito de estabelecer carreiras diarias para transporte de passageiros e mercadorias entre esta Mina e Beja e ainda debulha de cereais a vapor acaba de organizar-se aqui a Sociedade Agrícola e Transportes, Limitada composta na sua maioria de Encarregados das Oficinas de Maquinas desta Empreza. Registamos o facto com imenso prazer, por ser uma grande iniciativa e um excelente melhoramento. Contudo,não deixaremos de, ao mesmo tempo, lamentar a maneira pouco atenciosa como alguns dos associados, logo de principio, tratam aqueles que pretendem auxiliar a referida Sociedade utilisando os seus transportes. Para exemplo basta que citemos o facto seguinte: No dia 15 passado um nucleo de 30 pessoas desta Mina pensaram ir a Beja em passeio e para esse fim estabeleceram com a citada Sociedade um contrato, alugando o camiom de passageiros, visto a sua lotação ser de 30 lugares, pelo preço de Esc. 150$00 ida e volta e com a condição bem expressa de sairem daqui ás 5 horas da manhã de 15 e regressarem na noite do mesmo dia a fim de os passageiros não faltarem aos seus deveres profissionais nos serviços da empresa.Para isso podiam chegar á Mina ás 2 ou 3 horas da manhã de 16, porque até à hora de entrada para as suas obrigações tinham tempo suficiente de descançar 5 ou 6 horas. Não o entendeu assim o condutor e também sócio da Sociedade Agricola recusando-se em Beja a transportar os passageiros para a Mina.

Tomou uma atitude inexplicavel, pois nenhumas razões apresentou a quem devia e simplesmente se limitou em prevenir o seu ajudante de que se ia deitar e que de manhã ao nascer do sol o fosse chamar para então o camion seguir para a Mina. Se o disse melhor o fez, depois de no carro se acharem unicamente 24 passageiros, visto os 6 restantes, naturalmente por conveniencia, já terem partido num outro camion. É claro que os primeiros ficaram seriamente intrigados com a atitude do Sr. conductor e sócio, e para o caso não assumir maiores proporções, resolveram dois dentre eles, ir procurar o referido conductor e sócio, afim de o demoverem dos seus intentos. Nada conseguiram porque não se dignou sequer recebe-los. Isto ainda mais indispoz as victimas daquela mania e resolveram então apresentar uma queixa á policia, pela qual foram recebidos com todas as provas de amabilidade e boa educação. O superior da esquadra policial informado do que se passava, mandou um seu subordinado ao hotel onde o homensinho se achava já deitado, prevendo de que desejava falar-lhe. A creatura veio, deixando, é claro, de saborear o prazer do sono, Alegou coisas sem nexo, e em face disso a autoridade policial fez lhe ver muito delicadamente a maneira pouco correcta como ele pensava proceder e disse-lhe que devia imediatamente seguir para a Mina. Assim fez, é verdade, mas, tendo saído de Beja á 1 hora da manhã de 16, só chegou á Mina ás 7 menos um quarto. Uma vingançasinha á mistura...
Em face do que fica exposto, achamos que se torna indispensável á Sociedade Agrícola & Transportes, Lda para que tome ao seu serviço pessoas, que reunam todos os predicados e que saibam ser agradaveis e atenciosos para os passageiros que não podem nem devem estar á "mercê dos caprichos repentinos de quem quer que seja. Quando se assume um compromisso, deve ele ser respeitado em 'todos os seus pontos, de contrario, achamos que não é bom caminho. Abstemo-nos de contar o caso com todas as suas peripécias, algumas muitíssimo interessantes, porque então, talvez a Sociedade tivesse que embolsar os passageiros da importancia que recebeu indevidamente doutros passageiros aqui na Mina e Val d'Açor, que só com consentimento dos alugueiros o podiam fazer. Mas não, não queremos, damos o caso por terminado. Não nos move qualquer má vontade seja contra quem fôr Simplesmente nos julgamos com o direito a ser tratados com a deferencia e consideração que é devida a todos os nossos semelhantes. Dentro da Sociedade Agrícola, creaturas muitissimo capazes de compreenderem a força das nossas afirmações, e estamos absolutamente convencidos que essas mesmas creaturas terão formulado já um juizo imparcial da questão ocorrida no domingo passado, e que a sua consciencia se não deixará vencer pelo interesse.