NOTICIA SOBRE O ESTABELECIMENTO MINEIRO DE S. DOMINGOS
(1868 A 1880) (Continuação)
N.° 15
Encanamentos e depositos de agua, poços e represas
Os poços de agua potável que existem, hoje, na mina de S. Domingos, servem apenas para o abastecimento do pessoal.
Em tempo, o chamado poço da horta serviu para fornecer agua ás locomotivas da Corta, mas depois de varias estiagens em que ficou a secco, bem como todos os outros que se tinham aberto para o mesmo fim, e quando o desenvolvimento dos trabalhos feitos a vapor e os da cementação levaram a em preza a construir os açudes n.ºs 3 e 4 (est. 8. n. 163 e 164), tornou-se de menor importância o serviço do abastecimento de agua proveniente de poços.
O poço da horta foi principiado em 1862, e no seu fundo abriu-se depois uma galeria, cortando a estratificação da rocha, para com ella se procurar mais agua.
Os outros poços abertos junto a linha férrea do Pomarão e na mina foram perfurados depois de 1863. O custo d'esses poços foi:
Poço da horta (incluindo bomba, malacate e tanques)..2:119$722
Quatro poços abertos na mina (incluindo bombas) em media...667$570
Um dito no Pomarão (para o abastecimento das locomotivas)...662$186
Um poço aberto na estação dos Salgueiros........288$926
Um dito aberto na estação de Sant'Anna... 288$926
Um dito aberto na estação do Telheiro.....288$926
Todos estes poços são esgotados por bombas de acção dupla de J. Warner e filho, de Londres, e em todos os casos, excepto nos quatro da mina, o serviço da elevação da agua é feito por muares que movem malacates, ligados às bombas, por meio de varaes e engrenagens que transformam o movimento circular em vertical alternado.
Nos quatro poços da mina estão montadas bombas de mão com os competentes volantes e manivellas. O custo e capacidade das represas construídas em S. Domingos é:
Represas Custo Reis Capacidades Metros
Nº 1 3.145.761 32.000
Nº 2 6.143.650 110.000
Nº 3 23.945.455 1.843.000
Nº 4 81.182.545 5.880.000
Nº 7 35.389.949 1.448.000
As represas n." I e 2 fest. 8. n. 163 e 164) Riram construidas de 1861 a 1864: a primeira para conter durante o verão as aguas de esgoto da mina, e impedir que inutilisassem as aguas do barranco do Chumbeiro; a segunda para conter aguas da chuva e parte das do mesmo barranco, a fim de serem aproveitadas nas primeiras experiencias do tratamento de mineraes, feito na Achada do Gamo.
No açude n.º 3 (est. 8. n. 163 e 161) são recolhidas as aguas das vertentes, ao norte da mina, destinadas para o abastecimento de officinas, machinas a vapor, regas de plantações e usos domesticos.
Communica esta represa com o n. 4, cujas aguas são destinadas exclusivamente para os trabalhos de irrigação dos minerios depositados na Achada do Gamo, passando a agua do açude n.° 3 para o n.° 4, por meio de siphões, sempre que as prolongadas estiagens assim o tornem necessário.
Os açudes n." 5 e 6 são pequenos e collocados abaixo da Achada do Gamo, por serem destinados ao represamento das aguas sulphatadas, procedentes dos trabalhos de tratamento. Durante o verão são estes depositos destinados, também, a facilitar a evaporação d'essas aguas.
O açude n.º 7 (est. 8. n." 163 e 165) é o deposito geral, durante o verão, d'essas aguas sulphatadas, para d'ahi serem despejadas no Chança, em occasião de cheia d'esta ribeira e do Guadiana.
O encanamento principal que existe nas minas de S. Domingos è o que conduz a agua do açude n. 4 para o estabelecimento metallurgico da Achada do Gamo.
Este encanamento é feito com tubos de ferro fundido com encaixe, de 12 pollegadas inglezas (0,305) de diametro. O custo d'estes tubos é de 65195 1éis por metro corrente, postos na mina.
Existem ainda vários encanamentos de tubos de grés para aguas sulphatadas que, postos na mina, custam a 1,5386 reis 0 metro corrente.
A affluencia de agua pluvial na occasião de trovoadas, augmentando consideravelmente o volume das aguas sulphatadas que se dirigem para a represa n.º 7 e para o Chança, tornando-se muitas vezes impossivel impedir que ellas deixem de passar aquelle rio e o Guadiana, antes da epocha propria para se fazer o desague por occasião das grandes cheias, determinou a empreza a encetar um trabalho importante de encanamento e desvio para essas aguas, mudando o curso natural de alguns barrancos, e especialmente do Musteirão, e abrindo-lhe desague directo para o Chança, sem terem de vir ao Chumbeiro.
Este trabalho, comportando a abertura de alvercas e sanjas muito extensas e a perfuração de um grande tunnel proximo da ribeira, tem obrigado a valiosos dispendios, e no fim de 1880 custava já á empreza 42:705$340 réis.
Despezas com poços, represas e encanamentos
As despezas com poços de agua na mina não foram conta das na formação do imposto; as despezas com as represas applicadas ao trabalho metallurgico e com os outros poços e encanamentos entram na liquidação, quer no calculo das despezas de transporte, quer na conta corrente do estabelecimento da Achada do Gamo, como adiante teremos occasião de expor.
N.° 16
Caminhos de ferro e portos de embarque
No estabelecimento de S. Domingos existem vias ferreas destinadas para os seguintes serviços:
Para transporte interior, subterrâneo, na mina; Para transporte interior, a céu aberto, na corta;
Para extracção de mineral da mina e corta;
Para transporte de mineral para embarque no Pomarão;
Para extracção de entulhos da corta; Para transporte de mineral para o estabelecimento da
Achada do Gamo e d'ali para o Pomarão; Para transporte de entulho à superfície da mina;
Para transportes diversos para construcções superficiaes. D'estas differentes vias teem o caracter permanente a linha principal que liga a mina com o porto de Pomarão (est. 8. n. 163 e 164) e a segunda via d'esta linha construida até a Achada do Gamo; e são de installação mais ou menos provisoria todas as outras.
A linha principal tem uma extensão, desde a boca da mina até o porto de embarque, de 18km,210, approximadamente, um pouco mais de 11 milhas inglezas; e a segunda via, para a Achada do Gamo, mede uns 3 kilometros.
Os primeiros rails empregados n'esta linha eram de ferro fundido e do peso de 13,615 por metro corrente; desde 1869 foram, porém, sucessivamente substituídos por carris de aço, tendo os primeiros que se assentaram o peso de 73",5 cada um.
Todas as pontes da linha são de madeira e alvenaria. Actualmente o raio minimo das curvas é de 200 metros;
a rampa maxima é de 1 por 19 e a minima de 1 por 1:500. A largura das vias superficiaes e interiores da mina e corta, aonde chegam as locomotivas, é de 1,07 (42 pollegadas inglezas) e a dos caminhos de ferro interiores da mina è de 0,56 (22 pollegadas inglezas).
A linha do Pomarão, ao sahir-se da mina, entra no valle dos Chumbeiros em declive, atravessa este barranco em varios pontos (est. 8. n.ºs 163 e 164) até chegar á elevação onde se acha a estação do Telheiro, deixando á esquerda o estabelecimento metallurgico da Achada do Game. Depois, sobe para Sant'Anna de Cambas, passando a pequena distancia d'esta aldeia, para tornar a descer á estação dos Salgueiros; d'ali continua em rampa ascendente até um ponto culminante situado a uns 5 1/2 kilometros do Pomarão, d'onde segue em declive até a estação (est. 8. n.ºs 163 e 164) construída nas proximidades do porto, e d'ali até o caes de embarque (est. 8. n.ºs 163 e 164) em terreno horizontal.
N'esta linha os comboios descem pela acção da gravidade até a estação do Telheiro, são depois rebocados pela força motriz até Sant'Anna de Cambas, onde outra vez são abandonados, para descerem pelo seu proprio peso até os Salgueiros; engatados ali de novo aos motores, sobem até o ponto culminante situado a 5,5 do Pomarão para, d'ali, per correrem esta distancia ainda impellidos pela força da gravidade.
Existem, pois, na linha principal tres inclinações a favor da carga e duas contra.
Os terrenos por onde passa a linha ferrea do Pomarão e ramal da Achada do Gamo pertencem em parte à empreza, e a outra parte foi arrendada por cincoenta annos a diversos proprietarios.
Os outros diversos troços de caminho de ferro, construi dos em condições de curvas e rampas muito variaveis com as necessidades do serviço, são assentes nos tunneis de extracção, nos diversos pisos da córta e na superficie em direcções variaveis, conforme o trabalho de extracção de entulhos da corta, ou as diversas construcções dependentes da mina, o exigem.
No interior da mina, as vias de 0,56 de largura são assentes por toda a parte onde existem trabalhos de desmonte com alguma permanencia.
Todas as vias de 0,56 de largura são servidas por motor animal e as de 1,07 por motor a vapor nos trajectos de alguma extensão, e por motor animal nos pequenos percursos, mudança de via, formação de trens, etc., etc..
Em 1863 começou na linha principal do Pomarão, onde serviam como motor 160 muares, a trabalhar a primeira locomotiva.
Nos annos seguintes o serviço das muares foi sendo successiva e completamente substituido n'aquella linha, e hoje, depois de modificações continuadas, feitas no traçado primitivo para alterar as curvas e rampas, effectuadas principalmente desde 1872 a 1875, trabalham ali mais continuadamente as locomotivas de seis rodas e cylindros de 14 pollegadas inglezas, importadas n'estes ultimos annos pela empreza.
O serviço de transporte interior e extracção dos entulhos da córta começou a ser feito, em parte, por locomotivas no anno de 1868.
O serviço de extracção e transporte interior do mineral começou a ser feito, em parte, por locomotivas em 1869.
Os wagons actualmente empregados nos transportes de mineral são de forma rectangular, com a caixa de folha de ferro, rodas de ferro fundido com aros de aço, moveis, em torno de um eixo longitudinal, collocado na parte inferior da caixa, para facilitar a descarga (fig. n. 7, est. n.°11). A sua capacidade é de 1,30.
Os wagons para entulhos são tambem dispostos para vasarem o seu conteúdo logo que choquem contra um obsta culo (fig. n.º 8 e 9, est. n.º 11). A sua capacidade é de 1,10.
A est. n. 8 mostra o typo dos wagons empregados na condução de balastro em serviço nas linhas em construcção.
A carga de todos os wagons é feita á pá, à mão, ou por meio de um guindaste. A descarga do mineral no extremo da linha do Pomarão tem lugar fazendo voltar os wagons sobre um plano inclinado, que communica com o porão dos navios; e para os entulhos da córta é feita no extremo dos diversos montões de esteril, deixando correr o wagon livre por uma pequena rampa, para no extremo chocar contra um obstáculo e determinar o rapido esvasiamento do conteúdo da caixa. Os wagonetes empregados nas vias dos trabalhos subterraneos teem quatro rodas de ferro fundido, eixos de ferro forjado, e uma caixa superior de ferro e madeira.
Sobre o serviço das diversas locomotivas que percorrem as linhas do estabelecimento, força, custo, proveniencia, etc., teremos occasião de nos occupar no n.° 17, tratando de todos os motores a vapor empregados em S. Domingos.
Como detalhe relativo ao serviço das locomotivas, indica se no quadro n.° 18 o trabalho e despezas feitas por estes motores, desde o 1.º de janeiro de 1874 a 30 de junho de 1875 (tres semestres).
Todo o pessoal em serviço nas linhas é de nacionalidade portuguesa e educado no estabelecimento para este trabalho, excepto alguns serralheiros empregados na reparação do material, que são inglezes.
A despeza corrente com material fixo e circulante no caminho de ferro do Pomarão à mina de S. Domingos foi:
Ano Despesa por tonelada metrica e kilometro
1874 24.14
1875 24.00
1876 39.88
1877 26.22
1878 20.00
1879 21.65
Não contando nem juros nem amortisação dos capitaes fixo e circulante.
Para se obter aquelle resultado concorre a circumstancia muito especial do caminho de ferro ter três inclinações a favor da carga onde o mineral é transportado pela acção da gravidade.
Não se sabendo hoje a medida cubica de alvenaria empregada no caes de Pomarão, apenas me é possivel fornecer os seguintes dados sobre aquelle importante trabalho:
Comprimento do paredão 176,50 7,50
Altura 7m,50
Custo da alvenaria 17:660$820
Mão de obra de carpinteiro nos madeiramentos
dos caes de embarque e superstructura.... 604$800
Idem de ferreiros..560$000
Vigamentos, tabuado e ferragens.... 5:875$000
Mangas movediças para embarque do mineral,
forradas de folha de ferro... 314$000
Total.....25:014$620
Na tabella n.º 8 se indica a totalidade do capital invertido no estabelecimento de Pomarão. "
Materiaes para o caminho de ferro
O material fixo e circulante comprado pela empreza de S. Domingos para as diversas linhas ferreas, assentes no estabelecimento desde 1868 a 1880, está relacionado no quadro n. 19.
QUADRO N.º 19
(....)
Na organisação do liquido collectavel, as despezas com o pessoal e material feitas nas vias ferreas destinadas aos diversos transportes interiores, á extracção de minerios e entulhos, e ás conduções para as differentes construcções superficiaes são lançadas á conta dos respectivos serviços, e por isso serão consideradas nos números que a elles se referem. Apenas nos occuparemos, por agora, das despezas da linha do Pomarão e porto de embarque, como foram consideradas na formação do imposto.
Sendo a linha principal e o porto dois annexos da mina, e sendo o transporte do mineral para o mercado de consumo uma operação perfeitamente distincta da lavra, o modo de organisar as contas d'estes serviços não se acha subordinado ás instrucções regulamentares, que definem o processo de calcular o liquido das minas em relação ao imposto.
As despezas de transporte e embarque, desde a mina até bordo dos navios no Pomarão, entram, pois, na sua totalidade no calculo do valor do minério à boca da mina, tendo-se estabelecido, entre a empreza e as respectivas commissões avaliadoras encarregadas da organização do imposto, que o capital fixo invertido venceria o juro de 6 por cento ao anno, e ultimamente que se contasse a amortisação de 4 por cento, alem do que provém da deterioração do material fixo ou circulante, da inutilisação de alguma construcção, ou das transferencias de material para outros serviços.
O capital invertido no caminho de ferro do Pomarão e no porto de embarque, as amortisações e os liquidos sobre que foi calculado o juro de 6 por cento, considerado na organisação das despezas de transporte e embarque do minério, são designados nas tabellas n." 7 e 8.
(...)