I Centenário da morte do Marquês de Pombal
Por iniciativa de um grupo de estudantes universitários, de Lisboa, Coimbra e Porto, celebrou-se por todo o país; em Maio de 1882, o I Centenário da morte do Marquês de
Pombal, que teve o apoio expresso não só do Estado e entidades oficiais, como ainda do comércio e da indústria nacional.
À tarde, cerca das 4 horas, realizaram-se no rio Guadiana as regatas de escaleres, que decorreram mesmo em frente da vila.
«O rio estava sereno.
Centenares de pequenos barcos se cruzaram de um para outro ponto, levando familias que de perto queriam presenciar essa pugna maritima. Todos os navios
embandeiraram. Uma immensa multidão cobria toda a praia na frente da villa, e as janellas dos edificios da mesma frontaria da villa estavam completamente cheias de senhoras».
As regatas que foram dirigidas pelo piloto mor, Francisco António da Silva, tiveram como participantes os seguintes escaleres de 4 remos:
Emily - propriedade do Sr. John A. Parkinson.
Pimpão - da delegação da Alfândega.
Regent - de Alfonso Gomes.
Acácia - de Francisco Lorjó Tavares.
Guadiana - de James Mason.
Viola - de João Viola.
A distância a ser percorrida pelos participantes era de cerca de 600 metros, entre a partida e a linha de chegada que se situava frente à vila. O prémio pecuniário era, para o vencedor, da ordem dos 2000 réis e para o segundo classificado de 1200 réis.
A prova foi disputada em duas mãos tendo vencido a primeira o escaler Emily, comandado pelo Sr. Francisco S. Noi, ao serviço do súbdito britânico Sr. John Parkinson; em segundo lugar ficou o Pimpão, que tinha por arrais o Sr. Gervásio da Costa Estevens, oficial da marinha mercante. Na segunda mão o Emily voltou a ser o primeiro, enquanto na posição imediata se sagraria o Regent, capitaneado pelo Sr. João do Carmo Vieira. Obviamente o triunfo coube à embarcação inglesa por reunir, no cômputo geral das provas, as melhores posições. No decurso das competições náuticas a filarmónica “Marquês de Pombal” - da qual faziam parte cerca de 40 instrumentistas realizou um verdadeiro concerto a bordo dum pequeno barco, oferecendo, deste modo, um outro brilho à prova desportiva e um novo alento aos valentes remadores. O numeroso público presente assistia à competição na praia, à janela dos edifícios ou a bordo das engalanadas lanchas e botes ancorados no cais. «A concorrência era enorme, não só nos predios que teem frente para o rio, onde se via o que ha de mais escolhido na sociedade algarvia, mas tambem em toda a praia. Muitas senhoras da visinha cidade d'Ayamonte, tinham vindo assistir a tão agradável passatempo, concorrendo com a sua presença para o brilhantismo da festa».
A comprovar a larga afluência de forasteiros à pacata vila pombalina bastava olhar para o porto onde, entre outros, se encontravam ancorados os vapores Izabel , Sahará
(Portugueses), Sarrault e Premier (Ingleses) e Evodoy (Italiano); de entre as embarcações à vela, merecem especial destaque o Mondego, Algarve, Tejo, Oceano,
Ungeni, James Davidson, Douro, Snowdon, Guadiana, Rio-Minho, Seven Sisters, Sado e Vascão e Rio Lima.
Após a competição desportiva das regatas, tiveram lugar, igualmente no Guadiana, as provas popularmente designadas por cocanha.
29 O mastro, ao longo do qual os concorrentes teriam de se deslocar com enormes cautelas, tinha cerca de 10 metros de comprimento e o seu diâmetro
estreito vergava com bastante sensibilidade a qualquer pressão. Curiosamente, e contrariamente, ao que era habitual, este mastro encontrava-se em posição horizontal, em direcção ao rio, ensebado e preso à proa dum navio, tendo na sua extremidade uma bandeirinha vermelha que os afoitos concorrentes teriam de apanhar. Além disso, não podiam agarrar-se ao mastro, mas antes equilibrarem-se de pé sobre ele. Logicamente muitos foram os participantes que tomaram um ou mais banhos
forçados, visto que o mastro, para além de escorregadio, vergava também com relativa frequência. Para que os concorrentes não desistissem com precoce facilidade, o cônsul
espanhol acreditado naquela vila, D. José Mirabent Pascual, oferecia aos dois primeiros classificados um prémio de 2250 réis, para cada um. Apesar de todas as dificuldades,
sagraram-se vencedores os marítimos João Lucas e José de Souza Azul. A filarmónica acompanhou mais esta manifestação de alegria e convívio popular através de algumas
das suas melodiosas peças musicais.
José Carlos Vilhena Mesquita
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