As águas poluídas do rio Guadiana-1913

Ano: 
1913
Autor: 
Severiano Augusto Monteiro.
Editor: 
Administrador do Concelho de Mértola
Descrição: 

Ofício datado de 15 abril de 1913 enviado pelo Administrador do concelho de Mértola ao Governador Civil de Beja e acompanhado de uma cópia do Ministério do Fomento - Direção Geral de Obras Públicas de Minas -
Repartição de Coimas – datada de 22 de abril de 1911 e assinada pelo Diretor Geral Interino Severiano Augusto Monteiro.
O documento relata que os pescadores da vila de Mértola se haviam feito representar contra o prejuízo causado pelas descargas das águas da Mina de São Domingos no rio Guadiana e nele são mencionadas as conclusões da inspeção feita às represas da Mina de São Domingos na maneira como se faziam as descargas das águas e o resultado das análise feitas em laboratório das amostras mesmas colhidas a montante e a Jusante das confluências das ribeiras de Cualagon e Chança de que resultaram as seguintes conclusões referidas no documento:
1ª – “A mina de São Domingos faz a descarga das suas águas em períodos de cheias do Guadiana, que este serviço está devidamente instalado e não traz inconvenientes às espécies do rio”;
2ª – “Que a água da ribeira da Chança a montante estava límpida e isenta de substâncias minerais à piscicultura”;
3ª. “Que a jusante da foz da ribeira de Malagon a água se encontrava carregada de corpos que os tornavam impróprios à criação e à conservação das espécies que habitam o Guadiana”;
4ª - “Que estas águas são descarregadas diariamente à medida que se produzem pelas minas espanholas da bacia hidrográfica do Guadiana, que não possuem as necessárias represas, como a mina de São Domingos”.
O relatório da inspeção efetuada concluiu que eram as águas das minas espanholas vindas da ribeira de Crualagon e de Chança as causadoras dos prejuízos apontados pelos pescadores.
No entanto, no ofício que acompanha a conclusão da inspeção enviado ao Governador Civil de Beja no dia 13 de abril de 1913 relatada pelo administrador do concelho de Mértola, a versão dos factos é diferente da mencionada anteriormente.
Nele o Administrador do Concelho salienta que os pescadora da Vila de Mértola pedem que seja baixada uma ordem através do Ministro do Fomento de forma a que um engenheiro venha à Mina estudar o assunto e que para esse efeito fosse nomeado uma pessoas honesta e capaz de abraçar a causa. Em virtude das conclusões dos anteriores relatórios, não compreendiam o facto de que a água que vinha todos os anos da ribeira de Malagón e trazia água de minas nunca tinha causado prejuízo algum, e que na Mina de São Domingos quando se se faziam despejos das represas apareciam milhares de peixes a boiar no rio Guadiana.
O administrador do Concelho de Mértola reforça ainda a posição os pescadores dizendo que também “tem conhecimento de que a empresa mineira logo que faz os seus despejos, põe no pomarão barcos e homens a apanhar o peixe que aparece a boiar e o manda enterrar”. Terminado o ofício com a seguinte questão: “ Como se compreende pois que a empresa mineira faça essa despesa, que naturalmente é feita para que os pescadores não vejam o peixe morto, se não é com a água da mina, que lhes pertence, que o peixe morre”.

Fonte: Governo Civil de Beja - Correspondência Recebida e Expedida pelo Administrador do Concelho de Mértola no ano de 1913
Texto: Olinda Mareco

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