Carnaval na Mina de São Domingos

Ano: 
1940
Descrição: 

"O CARNAVAL NA MINA"

O Carnaval era uma festa de folguedo. Brincava-se, ria-se e tudo o mais que era próprio da época. Havia bailes em tôdas as Sociedades, sempre com muita animação e brincadeiras próprias da quadra. Havia as danças do Pai Bento, que era um grupo de quinze ou vinte rapazes e raparigas, fardados a rigor, com trajes folclóricos, marchando garbosamente, ao som da música, pelas ruas da Mina, sempre acompanhados pela garotada, que delirava com a dança.

Havia a "tia" Maria Domingas, mulher alegre por natureza, com a sua jovialidade contagiante, que sempre tinha pelo Carnaval una peça a apresentar aos seus concidadãos. Ela percorria as ruas da Mina, com uma alcofa e dentro dela o seu brinquedo erótico, bem acondicionado,"não fosse constipar-se", que a todos mostrava com desvelo, provocando risos às gargalhadas. Ela, ao mesmo tempo, ria e chorava, como só ela o sabia fazer. Era,realmente, uma comediante em potência. Na casa dela, com uma família numerosa, quatro filhas e dois filhos, podia não haver pão, mas havia concerteza boa disposição e alegria constante. Quem não soubesse, diria que era uma família sem dificuldades.

Aliás, as famílias na Mina sempre foram assim, não dando a ver as necessidades que as afligiam.

Pelo Carnaval, havia sempre o baile da "Pinha". Os rapazes inscreviam-se para essa dança especial, pagando uma certa quantia, a qual lhe dava direito a dançar com o seu par essa dança. Só os pares inscritos podiam dançar. Anunciada a valsa da "Pinha", que se iniciava sempre à meia noite, a música tocava sempre uma valsa, a dois tempos, e os pares iam para o recinto e começavam a dançar e quando o seu nome era anunciado pelo controlador da valsa, a rapariga, aproximava-se da Pinha e puxava uma fita, e se a "Pinha" abrisse, o prémio que lá estava dentro era para si e para o seupar. Normalmente, o prémio era um frasco de perfume ou um estojo de pinturas ou cremes, para si e para o seu par, uma gravata ou um conjunto de sabonetes. Era um avalsa com muita espectativa, muitas vezes a "Pinha" só abria nas últimas fitas e ouvia -se as pessoas dizerem à rapariga, puxa a fita verde, puxa encarnada, até que acertavam.

Havia, também, as diversas máscaras pelas ruas, com os trajes mais folclóricos que se pode imaginar, entrando por vezes em casa das pesed soas, as suas palhaçadas, provocando, óbviamente, risadas e mais risadas. Para divertir havia também o jogo da corda, que era os rapazes e as raparigas segurando uma corda, em circunferência, por o lado de fora, e por dentro, uma rapariga tentando agarrar um deles, que viria depois para dentro da corda. Levava-se horas nessa brincadeira e com a mesma rapariga ou rapaz dentro da corda. 0 Carnaval era mesmo divertido na Mina de S. Domingos. "
Memórias de Carlos Aleixo

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