Monografia Alguns aspectos Sociais da Região Mineira de S. Domingos-Felicidade da Paixão Marques- Abril de 1947

Ano: 
1947
Autor: 
Felicidade da Paixão Marques
Descrição: 

Monografia- Alguns aspectos Sociais da Região Mineira de S. Domingos
a Aluna do 3º Ano Felicidade da Paixão Marques
Abril de 1947

I- Situação
Distrito, concelho, freguesia, posição geográfica, nome da mina
A mina pertence ao Distrito de Beja, concelho de Mértola freguesias de Corte Pinto e de Santana de Cambas.
Está situada na Serra de S. Domingos a 3 km da ribeira de Chança, que separa o Baiхо Alentejo da província de Huelva, em Espanha.
Encontra-se a Serra aproximadamente a 34° 40' 30" de latitude N. e '1° 39' 30" de longitude E., de Lisboa; a 4 Km de Corte Pinto e 17 Km de Mértola.
S. Domingos, no tempo em que descobriram a Mina, era um sitio inóspito, terra vermelha e pedregulhos negros, onde só medravam ravinas rasteiras e quási secas.
Erguia-se apenas, junto da atual corta, a ermida de São Domingos Santo que deu o nome à Mina.
A mina é rica em pirite, com uma percentagem de 3% de cobre.
O solo desta região contem ainda outras espécies de minerais: rocha metamórfica, rocha amorfa de ferro exi-hidrático com pequenas cristalizações, escórias de explorações antigas, xisto talcoso subluzente, rocha estéril de sablanda do monte.
Como mostra a planta junta, a Mina de S. Domingos, como as de Aljustrel, lousal, Serra da Caveira, fica um filão, de minério, que se estende pela província de Huelva, em Espanha.
Aqui há um número maior de minas descobertas e em atividade.

Concessão
A concessão provisória da mina foi feita em 22 de Maio de 1858 — Diário do governo (nº129, de 1858- por Ernesto Deligny, Luiz Decazes e Eugénio Duclerc, na qualidade de concessionário de nicolau Biava.
Ficou determinado que o campo reservado para a exploração da Mina era hexágono irregular, cujos vértices se achavam situados no Cerro do Pego da Sarna, cerro do Vale de Cambas, Cabeço das Bicadas, Alto de Chabocais, Alto do Vale do Malta, e sinal da herdade da Careta, abrangendo uma área de 798.000 m² (consultar a "Planta Geral da mina de S. Domingos e suas dependências).
O centro dos trabalhos e campo da concessão estão situados na freguesia da Corte do Pinto, excepto una pequena área do lado sul a freguesia de Sant'Ana de Cambas. que pertence à freguesia de Santana de Cambas.
A concessão definitiva foi feita em 12 de Janeiro de 1859 - Diário do Governo nº26 de 1859.
Os negócios da mina eram dirigidos pelo engenheiro Diogo Mason.
Posição dos concessionários e dos seus representantes perante o governo
"A concessão da mina é propriedade de sociedade mineira denominada "La Sabina, originalmente constituída em Huelva e posteriormente legalizada em Portugal, como sociedade anonima de responsabilidade limitada, com a sede da sua direção em Paris
"Havia um representante dos concessionários perante o governo - o Sr. Óscar Deligny e o da companhia explorada, Visconde Mason de S. Domingos.
Arrendamento
A sociedade La Sabina contratou em 1858 James Mason, o arrendamento da mina de S. Domingos, nas seguintes condições principais:
-Que o arrendamento seria por 50 anos (1858 a 1908) podendo ser prorrogado este prazo, se assim convier ao rendeiro, por tempo indefinido.
- que o rendeiro pagaria 5 francos (960 reis) por cada 1.000 Kilos de minério extraído da mina.
- Que o mínimo de extração para os efeitos do pagamento da referida renda, seria no primeiro ano de 4.600 toneladas métricas, no segundo e seguintes, enquanto durasse o arrendamento, de 2.000 toneladas por mês ou 24.000 por ano.
-Que o rendeiro se obrigaria a despender no primeiro ano do seu arrendamento £ 2.400 (10.800$00) em trabalho de mineração, e no 2 ano a montar uma máquina a vapor para esgoto de força suficiente para as necessidades do serviço.
-Que ao rendeiro ficava salvo o direito de rescindir este contrato em qualquer ocasião, avisando os concessionários com três meses de antecipação.

Como se formou a aldeia de S. Domingos desde os primeiros tempos da exploração da mina.
Para os trabalhos de mineração foram chamados muitos homens, sobretudo estrangeiros:
Artistas ingleses contratados pela empresa
Espanhóis quási todos trabalhavam como barreneiros, serviço para que estavam mais aptos.
Piemonteses davam mais rendimento como entivadores
Por fim a permanência de espanhóis e piemonteses tornou-se pouco duradoira, exceto para um numero muito limitado estabelecido definitivamente em S. Domingos.
Contudo a proximidade de estabelecimentos mineiros espanhóis contribuem para que não deixem de aparecer mineiros daquele país.
A pouco e pouco o trabalhador português foi-se adaptando e, passados alguns anos, predominavam os algarvios e alentejanos vindos estes últimos do Baixo Alentejo.
Nos trabalhos da Corta, onde não se precisam de conhecimentos especiais do serviço mineiro, abundavam quási sempre, os algarvios; predominando os alentejanos em todos os outros serviços superficiais e subterrâneos.
Verificaram que o mineiro propriamente dito, do sul do país, tinha uma grande tendência para ser nómada e raras vezes se ajustava ao trabalho da mina, depois de ter trabalhado ali em duas empreitadas seguidas. Desapareciam que busca de outras atividades, mas passado tempo regressavam.
Concluíram que isto era fruto do seu espírito aventureiro.
Os trabalhos mais importantes de S. Domingos foram executados por alentejanos. Se estes operários não tinham, nem a instrução nem as condições físicas que os tornassem altamente recomendáveis, possuíam a vantagem, de terem uma tendência natural e arrojo necessário, para os trabalhos subterrâneos. Suportavam melhor que nenhuns outros, os rigores da estação calmosa, quando trabalhavam à superfície da mina ou nos caminhos de ferro da empresa e nas margens do Guadiana.
Em 1874 falta de braços obrigou a empresa a promover a emigração de operários beirões que trouxeram uma certa perturbação ao estado regular de sossego que se notava antes da sua chegada sendo por isso necessário reforçar o corpo de policias, encarregado de manter a ordem.
As rixas e desordens tão frequentes antigamente em S. Domingos eram consequência da aglomeração numa charneca, de uma população perfeitamente heterogénea, composta de indivíduos de países diferentes, e muitos deles de conduta pouco exemplar, a quem sobremodo convinha o trabalho subterrâneo na raia de duas nações.
À medida que aumentavam o número de braços alentejanos, a ordem pública da mina foi sendo cada vez menos alterada.
Nestas épocas revolveu a empresa mandar fechar muitas casas de renda de vinho e outras bebidas alcoólicas, que exerciam a sua industria em pontos afastados da povoação. Proibiu também que nos domingos e dias santos estivessem abertas quaisquer outras tabernas.
O trabalho de empreitada dava origem a grandes discussões e desordens entre empreiteiros e seus peões.
Cada um procurava entregar a tarefa o mais cedo possível para receber o dinheiro e ficar como resto do tempo livre, até nova empreitada. Juntavam-se assim grandes bandos de trabalhadores que semeavam a discórdia e originavam os motins.
Até 1880 não se registaram greves.
Antes de 1868 existiam já as seguintes edificações principais:
Igreja
Escola
Escritório
Casa forte para uso dos empregados das duas secções administrativas
Hospital
Casa de recreio com bilhar
Teatro
Palácio, para residência do engenheiro diretor.
16 casas de residência para empregados das secções administrativas, artistas estrangeiros, capatazes e armazenistas.
Casas de habitação para artistas portugueses
Quarteis para mineiros e trabalhadores
Duas casas de Malta
Seis armazéns
Dois paióis de pólvora
Oficinas de carpinteiros e abegões, ferreiros, pintores, vidraceiros, etc....
Sala de desenho
Laboratório químico e fotográfico
Um edifício para abrigar o motor a vapor de esgoto e extração
Um quartel para o destacamento militar
Quatro estações de caminho de ferro (na mina, Telheiro, Salgueiros e Pomarão)
Trinta casas no Pomarão
Em 1869 começaram as demolições de uma parte destes edifícios, afim de se poder dar aos trabalhos da Corta, a necessária inclinação, para levar à maior profundidade a exploração a céu aberto....
Em 1873 continuaram os trabalhos de demolição, sendo arrasados:
O palácio do engenheiro diretor
Escritório da secção administrativa
Teatro
Várias habitações de operários
Igreja
Quartel militar e da polícia
Hospital e farmácia
Cemitério
Estação de caminho de ferro da mina
Mercado
Armazéns de viveres
Quartéis de operários
etc...

O turista que viaja em direção à Mina não pode ficar indiferente perante o contraste da aridez do Baixo Alentejo, sobretudo das terras que se deixam depois de Beja, e a Mina, que, surge ao longe, como um oásis no meio do deserto.
Avistam-se as primeiras cúpulas dos pinheiros e sucessivamente, todo o arvoredo, através do qual se descobrem filas de paredes brancas- são as casas, agrupadas em dois bairros: "Bairro Inglês, onde vivem, em moradias isoladas, todos os chefes superiores, sendo a maioria ingleses, e ainda os empregados de 1ª e 2ª classe.
O Bairro Alto, que fica mais acima, completamente separado do primeiro, é habitado exclusivamente por mineiros de 3ª classe.
Esta divisão tão rigorosa, por Bairros traz, a meu ver, alguns inconvenientes a que adiante me referirei. Entre estes dois bairros ficam instalados:
O cais com todas os serviços da contramina, as cortas, as oficinas e trabalhos acessórios.
Da parte central, ao lado do jardim, é extraído o “Gossan” cuja exploração promete a demolição do teatro e dalgumas habitações.
Chama-nos a atenção o barulho ensurdecedor de todo aquele maquinismo que dia e noite, continuamente, pede a colaboração do homem para a tarefa difícil que lhes incumbe cumprir: arrancar o mineral às entranhas da terra, transformá-lo e pô-lo a servir.
Há duas enormes represas que ladeiam parte da mina. A maior é contornada por eucaliptos e pinheiros; a mais pequena pelas hortas dos mineiros.
O clima de S. Domingos é rigoroso: muito calor no verão e frio no inverno, com chuvas abundantes.
Parte do solo pela sua aridez e natureza do terreno, torna-se improdutivo.
População mineira
A empresa tem presentemente as seu serviço1.400 homens.
Nela se empregam não só a população da Mina e suas dependências - Achada do Gamo, Estação dos Salgueiros, Pomarão e Telheiro - como também alguns habitantes dos arredores como:
Corte do Pinto 200
Morianes 80
Santana 60
Monte Bens 30
Alves 20
Salgueiros 30
Picoitos 50
Montes Altos 50

Características Psicológicas
Os mineiros, sobretudo dos trabalhos subterrâneos, isto é, da contra-mina, de aspeto rude, reservados, pensativos, taciturnos, sempre cabisbaixos, parecer, já ter perdido o hábito de contemplar o céu, ou adquirido aquele outro, proveniente da incerteza do piso, que lhes manda poisar primeiro os olhos e só depois os pés.
Tem por companheiro inseparável o gasómetro aceso, que é o seu guia, é a luz amiga que os orienta, na escuridão noturna, por entre os caminhos das entranhas da terra.
São desconfiados, pouco expansivos, geralmente isolam-se uns dos outros. Saem do trabalho para o balneário, e a medida que se arranjam, vão saindo.
Depois de servir a empresa o mineiro troca breves palavras com a família, toma o café e vai fara a horta: cavar, semear, regar e meditar- é a terra que escuta as suas confidências.
O operário das oficinas é mais comunicativo e conversador.
O mineiro reconhece que é rude, que ignora, não só a legislação, mas outros conhecimentos indispensáveis para se fazer exprimir, manifestar opiniões, que considera justas.
Tem enterrado bem fundo aquele sentimento de revolta que levaria a insubordinar-se. Parece humilde, é trabalhador.
Sofre, e sente-se com direito a mais pão para si e para os seus.
Desconfia de todos, vê no companheiro um espia. Culpa os empregados de II classe da vida difícil que arrasta, porque, diz ele, não o defende junto dos Chefes. Foi-lhes dada a chefia das obras de caracter social e acusam-nos de não fazer progredir em proveito de todos.
As mulheres dedicam se ao serviço domestico- trabalham de porta fechada.
Duma maneira geral são pouco comunicativas, vivem como não se conhecessem- não há ali o habito tradicional de todos se saudarem com "os bons dias, ou "boas tardes.
Nota-se sobretudo grande diferença entre os que moram no "Bairro Inglês e do "Bairro Alto”. Os primeiros têm até um certo desprezo pelos outros, nestes há mais miséria.
Há mineiros de 3ª classe que vivem no "Bairro ingles, talvez por isso, estas famílias são, em geral, mais asseadas e recatadas do que as outras da mesma classe.”
Concordo que as casas não sejam todas iguais.
O que não Vejo é vantagem de haver em bairro especial para patrões e empregados mais categorizados.
O facto de se evitar esta diferença, tão acentuada, de local de habitação, seria motivo de estímulo para muitas famílias, e daria mais espirito de união entre elas, tanto mais que se trata dum meio relativamente pequeno.
Nota-se também a influência das famílias inglesas. Estas vivem isoladas, passeiam apenas nos seus jardins privativos. O inglês é austero, concentrado, pouco expansivo. Diz que fala o menos possível ao mineiro - não lhe dá os bons dias. — para que este mantenha o respeito e evite assim abusos.
Quando um forasteiro, lhes fala da vida deles, desabafam a medo, têm medo que os denunciem aos chefes.
Não há lealdade entre os trabalhadores portugueses. Dizem eles, que os empregados de 2ª classe, que gozam de melhor remuneração e mais facilidades de vida" para caírem, nas simpatias do patrão, exigem dos seus subordinados um trabalho mais intensivo.
O mineiro não encontra nos seus superiores um ponto de apoio, e evita qualquer desabafo, para manifestar o seu descontentamento para com a empresa.
"O mineiro, aparentemente reservado, no fundo é comunicativo, sociável. Considerando-se cada um isoladamente, vemos que têm o sentido social, espirito associativo e solidário mas no conjunto não são unidos, reina entre eles grande falta de confiança, motivo porque não manifestam a sua maneira de pensar, nem procuram realizar em comum os seus projetos.
São capazes de se sacrificarem uns pelos ou quando reconhecem isso não é uma exploração, mas reverte a favor do bem comum.
Julgo que esta maneira de ser provém duma ausência de tradições que una a população entre si e à terra. Não há ali um passado que tenha criado raízes.
Hoje a maioria dos habitantes, são filhos do mesmo concelho e encontra-se mais união entre os que nasceram na mesma terra. Isto verifica-se nas associações secretas de auxílio mutuo, que têm о nome da terra dos associados.
Emigração
Antigamente era frequente em S. Domingos a emigração de famílias inteiras. Atualmente isto não acontece.
O desemprego é o único motivo que leva hoje muitos rapazes a saírem da Terra, ao passo que às raparigas é a miséria dos pais, ou seja, a falta de salários familiares, tanto uns como outros partem em direção à capital. Elas empregam-se geralmente em criadas de servir. A falta de preparação para a vida doméstica, já porque viviam na aldeia, já porque o meio era bastante pobre leva-as a uma certa instabilidade. Há casos de raparigas que se têm perdido. São as de famílias de 3ª classe, que se lançam assim à aventura.
Os rapazes que mais emigram são os filhos dos empregados de escritório que geralmente vêm recomendados a pessoas conhecidas. Os outros geralmente não se mantém fora muito tempo. A falta de preparação para a vida profissional, aumenta-lhes as dificuldades de colocação: hoje fazem uma coisa, amanhã outra e não passam da categoria de trabalhadores.
Para a solução deste problema preconizo a aprendizagem, de que falarei adiante. Ainda que não houvesse possibilidades de todos se empregarem na empresa, ficariam com preparação para a vida e com mais facilidade encontrariam onde ganhar honradamente o pão de cada dia.
Falarei também nos salários familiares medida indispensável para que cada operário possa manter o seu lar.
V-condições materiais de existência
Habitação-
Ass casas de S. Domingos parecem ter sido construídas em série, como se vê nas "vistas parciais, da aldeia. Todas da mesma cor, formato e altura. Não têm janela. As ruas são paralelas.
Pertencem todas à empresa à exceção duma meia dúzia que são de particulares.
As habitações estão agrupadas em dois bairros e classificadas em três categorias:
As de 1ª classe são moradias isoladas, de formatos diferentes, com Jardins privativos. Têm um maior numero de divisões e o material empregado é mais confortável. São em número de vinte. Estão ocupadas pelos chefes: Diretor, gerente e engenheiros.
As de 2ª classe Têm normalmente três a quatro divisões e quintal. Estão reservadas a capatazes, encarregados e empregados de escritório. São perto de cem.
As de 3ª classe-tem apenas uma pequena divisão e estão destinadas a todos os outros mineiros, chefes de família.
A alguns facilitam ainda um quintal em frente da casa, mas no outro lado da rua, onde muitos improvisam cozinha, casa de arrecadação ou ainda instalações higiénicas.
Estas divisões, nos primeiros tempos da Mina serviam apenas de quartos de dormir dos trabalhadores que não tinham família - condições em que se encontrava a maioria deles. Presentemente como a população tem aumentado e todos procuram fundar o seu lar, têm que se sujeitar às condições da terra.
Estas casas presentemente são em numero insuficiente para as necessidades dos habitantes: pais e filhos de diferentes idades e ambos os sexos ali vivem numa só divisão. Aqui a promiscuidade é grande e tanto maior quanto mais numerosas são as famílias, o que aliás é muito frequente. Talvez seja este um dos motivos porque os novos se respeitam tão pouco.
Muitos querem casar e não tem onde estender um colchão.
Algumas casas, sobretudo do bairro Alto, estão em mau estado de conservação.
Este problema não parece ser de fácil solução: empresa não quer construir mais casas, promete até a demolição dalgumas para alargar o campo da extração do gossan. Não permite também que particulares ocupem o terreno. A meu ver cabe à empresa resolver o problema para o qual aconselho:
1) Para aproveitar as casas que já existem, demolir algumas paredes interiores e de duas ou três, fazer apenas uma para que fique com mais divisões. Evitar-se-ia assim a promiscuidade. Refiro- me evidentemente às habitações de 3ª classe
2) Fazer mais construções, fora do solo que promete ser explorado, por exemplo: entre Moreanes e S. Domingos, ou entre a mina e a freguesia. Aqui o Terreno abunda e não havia perigo para agricultura. Preconizo ainda que estas novas construções tenham pelo menos quatro divisões e quanto possível todas com Janela.
Os operários que moram nos arredores de S. Domingos não têm qualquer facilidade concedida pela empresa para a aquisição de habitações. O motivo porque alguns mineiros vêm todos os dias de tão longe é a falta de casas na Mina.
Também não havia vantagem em se concentrarem S. Domingos todas as famílias das diferentes atividades da empresa. O que esta podia era facilitar os meios de transporte para os trabalhadores, utilizando como antigamente o caminho de ferro alguns andam 15km por dia ou mais. Todas eles vêm a pé dos arredores por falta de transporte.
Rendas de casa:
Os capatazes, encarregados e empregados superiores não pagam renda de casa.
Os outros dão a quantia de 6 $00 por cada quarto e 4$00 pela referida "casa de arrecadação.
As rendas são pagas à empresa no prazo de 1 a 28 de cada mês.
Os moradores que não trabalhem na empresa (alfaiates, barbeiros, sapateiros, comerciantes etc )pagavam 3$60 for cada quarto, ultimamente aumentaram-lhes para 25$00, mas os inquilinos levaram o caso para tribunal e a empresa perdeu a questão. Atualmente depositam os 3$60 na Caixa geral de Depósitos em Mértola, à ordem da empresa.
As rendas não são elevadas, mas creio que não estão socialmente distribuídas, visto que que os mais remunerados são os mais favorecidos, e isto é motivo de revolta para os mineiros. Era preferível aumentarem os ordenados dos empregados de 2ª classe de modo a suprir as despesas da renda de casa a facilitarem-na gratuitamente, o que os outros consideram injusta.

(Transcrição realizada por João Nunes/CEMSD)

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