Que destino terão os velhos operários da Mina de S.-Domingos?
A EMPRESA Mason and Barry,
A concessionária da exploração da Mina de S. Domingos há mais de um século, informou que até ao fim do corrente ano cessará a sua actívídade mineira.
Há muito que esta resolução se adivinhava, mas como nada havia de concreto, existia em cada um aquele fiozinho de esperança inatingivel e consolador; produto da fuga ao problema que surge, do receio de encarar a realidade dos factos. Porém, esse fiozinho ténue e piedoso o quebrou-se. Parece certo que a mina vai morrer. O gigantesco dragão do ventre de ouro agoniza. A sua boca e as suas narinas expelem as últimas golfadas de minério. O monstro imortal arqueja moribundo, batendo com a cauda enorme na terra vermelha e estéril e semeando o terror entre os seus matadores inocentes que lhe arrancaram as entranhas.
-Há ainda cerca de oitocentos operáríos que devem a sua vida à mina. É com o magro salário que ainda lhe arrancam que têm de fazer face a todas as despesas de uma familia, geralmente numerosa. E, entretanto, os meses passam! O fim do ano aproxima-se!
Este problema deveras delicado foi imediatamente encarado em toda a sua gravidade pelas entidades competentes, que o procuram resolver ràpidamente. Assim, a Junta de Emigração, mercê de uma acção imediata do Sindicato, abriu inscrição para vários paises da Europa..
A Mason and Barry, em colaboração com a empresa das Minas da Panasqueira, colocou nesta última duas ou três dezenas de operários, pagando-lhes as passagens e às suas familias e ainda o transporte das mobílias. A Mason tem pronta a funcionar uma fábríca de barcos de plástico, acelera a construção de uma fábrica para polimento de mármores e consta que num futuro próximo outra fábrica virá a ser construída. Pessoal desta firma ane es el' es tem sido também empregado nos trabalhos das suas associadas, no Algarve.
Na verdade, é grato ver como todas as Forçasse uniram nà resolução de um problema tremendamente angustíante.
No entanto, o problema não está totalmente resolvido, pois a emigração apenas é possível para individuos absolutamente válidos e até aos 40 anos de idade; as Minas da Panasqueira, naturalmente, tomam as suas precauções na admissão do pessoal, só admitindo individuos até aos 50 anos de idade e depois .de submetidos a rigoroso exame médico; e dos oitocentos (mais ou menos) operários¡ que a
empresa tem actualmente ao seu serviço, cerca de quatrocentos ultrapassaram já os 50 anos e por tanto não têm oportunídade de emigrar ou ir para a Panasqueira.
Nestas condições, não se pode negar que o problema subsiste, e agora na sua parte mais delicada, pois, em breve, a maioria dos operários da Mina de S. Domingos serão indivíduos com mais de 50 anos e aqueles que foram rejeitados pela emigração e pelas Minas' da Panasqueira.
Será com eles que a Empresa Mason and Barry pensa pôr em laboração as fábricas que está a construir?
Ou terá a: empresa, através de cem anos de exploração mineira, construído um Fundo de Reserva para acudir a situações desta natureza?
Se alguma das interrogações tivesse resposta afirmativa parece que o problema estaria resolvido.
Entretanto, até ao-rim do ano, algumas centenas de pessoas, atentas ao correr do calendário, cada vez que lhe arrancam uma folha, arrancam algo de si próprias.
SERRAO MARTINS
Que destino terão os velhos operários da Mina de S.Domingos-29 Maio 1965
Ano:
1965
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