Aureliano Lopes de Mira Fernandes, nasceu na Mina de S. Domingos, Beja, a 16 de Junho de 1884.
Feita a instrução primária, prosseguiu os seus estudos no Liceu de Beja, onde fez os primeiros cinco anos, entre 1897 e 1902. Concluiu os dois últimos anos do Liceu em Coimbra entre 1902 e 1904. Em seguida inscreveu-se na Universidade de Coimbra como aluno da Faculdade de Matemática e do Curso Matemático. Aderiu à greve estudantil de Fevereiro de 1907 o que lhe causou a reprovação do ano pois não apresentou o requerimento de concessão de perdão. No ano seguinte apresenta-se aos exames e obtém em todos 20 valores.
Em 1909 conseguiu o grau de Bacharel, e em 1910 o de licenciado. Obteve o Doutoramento na Universidade de Coimbra em Março de 1911 com a classificação máxima de Muito Bom, 20 valores, com a dissertação intitulada Theorias de Galois/I/ Elementos da theoria dos grupos de substituições, primeira obra em língua portuguesa onde se expõem os princípios da doutrina iniciada por Lagrange, Vandermonde e Ruffini no século XVIII e depois desenvolvida e disseminada por Cauchy, Galois, Sylow e Jordan, no século XIX.
Em 1910 foi eleito deputado das constituintes pelo Partido Republicano. Abandonou pouco depois a vida política.
O seu percurso académico foi marcado por excelentes resultados, comprovados pelos prémios que o Conselho da Faculdade lhe conferiu. Em 1910-1911 foi professor substituto de geometria descritiva na Faculdade de Matemática. Em 1911 foi nomeado Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde leccionou até 1954 as cadeiras de Matemáticas Gerais, Cálculo Diferencial, Integral e das Variações, Mecânica Racional. Cumulativamente foi professor de Análise Matemática no Instituto Superior do Comércio.
Mira Fernandes realizou vários trabalhos de investigação no domínio do cálculo tensorial, aplicado à geometria diferencial e à relatividade. Publicou uma extensa série de trabalhos originais, que foram apresentados na sua maioria à Accademia dei Lincei, principal academia de ciência italiana de Roma, por Tullio Levi-Civita, com quem Mira Fernandes manteve, durante anos, uma correspondência assídua e particularmente amistosa. Estes trabalhos, num total de 17, foram reproduzidos por Aniceto Monteiro na Portugaliae Mathematica, nos seus primeiros números.
Sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, participou na fundação da Sociedade Portuguesa de Matemática, sendo o primeiro presidente da sua Assembleia Geral. Foi um dos fundadores da Junta de Investigação Matemática. Entre os seus muitos discípulos ilustres contam-se Bento de Jesus Caraça e Duarte Pacheco.
O seu magistério e o seu exemplo de investigador deixaram uma marca indelével na matemática e na cultura portuguesa.
Para além das comunicações à Accademia dei Lincei, Mira Fernandes foi publicando em jornais científicos portugueses algumas dezenas de trabalhos originais, quer de esclarecimento e promoção de doutrinas do seu magistério, quer de reflexões sobre a evolução de algumas concepções fundamentais da Matemática.
A partir de 1927 quase todos os trabalhos científicos e literários de Mira Fernandes foram inicialmente publicados ou posteriormente reproduzidos na Revista Técnica do IST. Com a eclosão da 2ª Guerra Mundial a divulgação dos seus trabalhos científicos fez-se principalmente através da Portugaliae Mathematica e da Revista da Faculdade de Ciências de Lisboa.
Aprendeu russo e latim, línguas que escrevia e falava fluentemente.
Faleceu em Lisboa, em dia 19 de Abril de 1958.
Na passagem dos 50 anos da sua morte foi homenageado pelos Correios com a publicação de um selo.
Fonte:Universidade de Coimbra
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