Transcrição realizada por João Nunes-CEMSD
A MINA DE S. DOMINGOS está situada a 14 quilómetros do rio Guadiana em linha reta, e a 50 quilómetros do mar. Pertence ao concelho de Mértola, distrito de Beja. O caracter geognóstico d'esta parte do país é de uma identidade quási perfeita com a da região metalífera da província de Huelva (em Espanha).
Esta mina não foi reconhecida no estado de filão, mas n'uma massa de forma navicular, tendo na sua maior extensão 600 metros de comprimento sobre 60 de largura. O minério é pirite de ferro e cobre tendo de cobre 2,75 por cento. Esta massa foi explorada consideravelmente pelos romanos, o que está provado por sinais evidentes. Por outros sinais bastante vagos pode admitir-se uma exploração mais antiga, que se tem atribuído aos fenícios ou aos cartagineses. A exploração romana (segundo o testemunho numismático teria tido lugar na época compreendida desde os últimos tempos do reinado de Augusto ou elevação de Tibério, até à divisão do império, no reinado de Teodósio. Os trabalhos de exploração foram executados primeiramente em projeção horizontal, e hoje mais verticalmente, sobre altos planos ou pisos: O 1º estende-se a profundidade de 12 metros abaixo da superfície do minério; o 2º a 16 metros mais baixo e o 3º à profundidade de 24 metros abaixo d'este ultimo. Há poços que vão de um a outro piso, e que antes serviam para a extração do minério; hoje são empregados para estabelecer no interior da mina um sistema de ventilação perfeito e de comunicação direta sobre os diferentes pisos. A extração do minério útil (extração total) até ao fim do ano de 1871 é representada pelos seguintes algarismos: Escavações antigas, aproximadamente avaliadas em 150:000 metros cúbicos. Escavações modernas pela exploração atual, 310:408 metros cúbicos. Total, 400;408 metros cúbicos. Ou sejam pouco mais ou menos 2.035:000 toneladas inglesas. Com o fim de diminuir a despesa e facilitar a execução do desmonte, de permitir o esgotamento completo da matéria com menor perigo para os mineiros e sobretudo, de atingir uma maior rapidez e uma cifra mais elevada na extração do minério, começou a executar-se, em 1867, desentulho da massa estéril do solo sobreposta a massa do minério, da espessura media de 52 metros. Este projeto posto execução com a aprovação previa do governo tem produzido bons resultados já em 1873 estavam os trabalhos muito adiantados.
A extração do minério, feita antes por muares, é hoje feita por locomotivas. Para este fim tem sido aberto tuneis em continuação das galerias longitudinais, praticados na massa e terminando á superfície com maior ou menor inclinação. Do túnel superior, a extração é feita por maquinas da força de 30 cavalos, ao passo que a extração da pirite obtida dos níveis inferiores, tendo de elevar-se n'uma rampa de 30 por cento, é feita por zorras) puxadas por uma corda de fio de ferro e tendo por motor uma maquina de vapor fixa de força efetiva de 90 cavalos, montada a uma distancia de 180 metros da entrada do túnel.
Também este motor opera o esgotamento das aguas da mina, elevadas a superfície por uma bomba de simples ação e de grande diâmetro. Desde o principio foram ensaiados vários sistemas de preparações mecânicas, com o fim de assegurar aos exploradores da mina, vantagens marcadas sobre a simples exportação da pirite no estado bruto.
Não deram estes sistemas grandes resultados, pensando-se logo no projeto de estabelecer um sistema de cimentação em grande escala, por meio do qual a parte inferior da massa do minério, reconhecida muito pobre para sustentar as despesas da exportação, é posta em saturação. Esta agua de cobre é depositada em numerosos tanques de cimentação para recolher o metal pela precipitação sobre o ferro. Este sistema de cimentação é o que tem dado grande resultado à mina. As pirites da Mina são transportadas a Pomarão (porto de embarque) n'um caminho de ferro de largura de três pés e 6 polegadas inglesas entre o rail. As locomotivas empregadas n'este serviço têm a força media de 35 cavalos e a distancia a percorrer é de 17 quilómetros. O porto de embarque do minério é, como acima se disse, o Pomarão, sobre o Guadiana, estabelecimento fundado pelos atuais exploradores da mina á custa de grandes dificuldades e despesas, devido à natureza do terreno. A povoação é ligada à mina e consta de um palacete para quando ali vão os diretores; d'ama bonita igreja, teatro, farmácia, hospital, casa de recreio para os empregados, com jogo de bilhar. Gabinete de leitura, onde se encontram os principais jornais do país e estrangeiros; biblioteca; uma escola de instrução primaria para o sexo masculino e bastantes casas de habitação com mais ou menos compartimentos, segundo a categoria dos empregados. Uma vez por ano costuma o diretor gerente da companhia da mina sr. conde do Pomarão, (que reside em Inglaterra) ir visitar a mina. O pessoal superior da mina é composto dos srs. José Abecassis (administrador geral), Júlio Francisco de Sousa Mascarenhas (chefe da secção administrativa), Robert Hann (chefe do serviço da exploração dos jazigos mineiros), Alexandre Purwes (chefe do serviço de tração e oficinas) e Marriott Clinch (chefe dos serviços metalúrgicos). Há, além do que deixamos exposto, na povoação, oficinas de fundição e de trabalhos mecânicos, oficinas para construção e reparação dos wagons e para reparação das locomotivas que funcionam nas diversas partes da mina e no caminho de ferro para Pomarão. N'estas oficinas há numerosas e potentes maquinas para todos os serviços mecânicos, que são postas em movimento por um motor a vapor d'alta pressão, de força de 16 cavalos.
Há também vastos edifícios para armazenagem do material, numerosas forjas para reparação e confeção de ferramentas, duas serras movidas a vapor e espaçosas cavalariças.
Existem também varias represas d’água. O mais considerável d'estes reservatórios contem um volume de 5 milhões de pipas de agua e está sortido de muita variedade de peixe; para recreio dos empregados existem ali varias lanchas. Estas represas são à execução dos diversos processos de cimentação, etc., etc. Os escritórios são contíguos ao palacete e ali está também instalado o correio.
Em 1860 apenas existia na serra de S. Domingos uma pequena ermida dedicada a S. Domingos. A ermida era onde hoje está instalada a farmácia do hospital.
Uns engenheiros vieram por essa época fazer pesquizos ao concelho de Mértola, por conta da companhia Sabina. A mina de S. Domingos foi denunciada no governo, começando a exploração por conta da aludida companhia Sabina, propriedade da Mina.
Foi logo construída uma casa contigua àquela ermida que estava profanada tendo ido o santo para Santa Ana de Cambas.
A companhia Sabina mandou pouco depois construir também outra casa maior fora da massa do mineral, ao nascente) casa que ainda existe, assim como a primeira que serve de hospital.
Pouco tempo depois foi a mina arrendada á atual companhia composta dos srs. M. James Mason (hoje visconde Mason de S. Domingos), M. F. V. Barry (hoje barão de Barry). Tendo estes srs. manifestado á junta de Sant'Anna de Cambas, o desejo de que a imagem de S. Domingos fosse para a vasta e bonita igreja que n'essas condições existia na Mina, acedeu a referida junta a esse desejo, com a condição da mesma companhia mandar construir um coro na igreja de Sant'Anna. O santo veio processionalmente desde Sant'Anna de Cambas à mina, acompanhando a procissão os srs. visconde de Mason de S. Domingos, barão de Barry e outros cavalheiros. Por essa ocasião houve uma bonita festa na igreja da Mina, brilhantes iluminações o que se vai repetir agora por ocasião da primeira festa em honra do orago.
Existe na Mina uma modesta, mas decente casa de hospedes, sustentada pela companhia exploradora, para os visitantes que não vão especialmente recomendados pela direção.
A mina de S. Domingos pagou o ano passado, de imposto, 24:9575775 réis.
Os monarcas D. Pedro V, D. Luiz I e ultimamente, o senhor D. Carlos, visitaram esta mina, onde, a 4 de agosto próximo se realiza, pela primeira vez, com extraordinária pompa a festa ao Orago.