Manuel Conceição
Barbara Gomes Aiamontino
Ana Paula Tirado Conceição
Maria Manuel Tirado Conceição
Biografia
O Homem que Tapava o Sol
O nome dele era Conceição, Sr. João Conceição. Ele era o homem mais forte do Bairro Alto. A sua fortaleza derivava de uma têmpera inoxidável, combinada com um património genético digno do planeta Krypton. Ele era grande em todos os aspetos. Grande em altura e em largura, grande a comer, grande a beber, grande a trabalhar, grande a divertir-se e tinha, também, uma alma grande.
Recordo sempre com um sorriso os seus episódios. Em certa ocasião, durante uma caçada, chegou atrasado ao almoço combinado pelo grupo. Quando se apresentou, olhou para a panela de 50 litros com carne à jardineira, ainda por metade, voltou-se para o grupo e disse: - Foi isto que me deixaram? Deixaram-me carne?
Numa tarde, aparece na taberna o bom do Sr. João com o cunhado e, não havendo nada para petisco, decide comprar uma folha de toucinho salgado ao Sr. Domingos Costa que por ali tinha passado a vender. A dita folha de toucinho, que teria umas 700 g, estava crua. Então, decidiram fazer um fogo na rua com um tojo e dar-lhe um entalão, o que a deixou mais torriscada que uma noite escura.
O que é certo é que os dois cozinheiros comeram a folha de toucinho morena e ainda despacharam 5 garrafas de vila dos gamas, branco. A justificação para beberem branco, diziam eles, era apenas por uma questão de afinidade cromática com a folha de toucinho.
No final, e com a língua anestesiada pela afinidade cromática, entre onomatopeias e risadas, o bom do Sr. João disse apenas que era melhor acertar contas no dia seguinte.
Deixo para o fim o melhor episódio. Uma certa tarde, apareceram na tasca 3 turistas ingleses conhecidos do Sr. João que, por uma questão de cortesia, tentaram acompanhá-lo a comer e a beber. O combate figurado começou por volta das sete da tarde e terminou à meia noite. E a noite não podia ter terminado melhor. Acabou com o bom do Sr. João a levar uma das turistas num carrinho de mão até ao respetivo alojamento, sendo que os outros dois ainda conseguiram, a trancas e barrancas, ir pelos próprios meios.
Hoje, o meu amigo João Conceição ainda resiste. Tem 89 anos. Ainda corre nas suas veias o poder, a resiliência, o olhar e a honra do puro sangue Alentejano. Hoje, o meu amigo João Conceição não é um eclipse total, mas ainda faz frente ao sol.
Continua grande e invicto.
Texto: Júlio Silva