Em 1907, a Mina de São Domingos, no Baixo Alentejo, foi palco de uma greve histórica, marcada pela luta dos trabalhadores contra as duras condições de trabalho impostas pela empresa inglesa Mason & Barry. A greve surgiu como um movimento espontâneo e desesperado de três mil mineiros, que exigiram melhorias básicas na sua rotina laboral. Estes trabalhadores, conhecidos como "operários da sombra", viviam numa situação de extrema precariedade, dedicando longas horas a um trabalho exaustivo e perigoso, com dificuldades que mal garantiam a subsistência das suas famílias.
A situação era tão grave que os mineiros reivindicavam apenas o essencial: uma jornada de trabalho reduzida para oito horas, um aumento salarial para 800 réis e segurança para as famílias dos que perdem a vida nos acidentes. Estas exigências, embora modestas, refletiam a esperança de uma vida um pouco menos penosa e mais justa. No entanto, os proprietários britânicos da empresa, beneficiários de lucros elevados com a exploração do cobre, não estavam dispostos a ceder. Mantinham um sistema rígido, onde o trabalhador era visto como uma peça facilmente substituivel.
Apesar do clima de tensão, a empresa manteve-se inflexível, e as forças militares foram chamadas para controlar os trabalhadores. No auge da luta, cerca de 150 soldados do exército foram mobilizados para manter a ordem e proteger os interesses da empresa, que continuavam a extrair grandes quantidades de cobre, acumulando uma riqueza crescente. Os mineiros, sem uma estrutura organizada e sem fundos de resistência, viram-se obrigados a regressar ao trabalho quando se esgotaram os meios de subsistência. Famintos e sem apoio, não tiveram como prolongar a greve e tiveram de abdicar, temporariamente, da sua luta.
A resposta da empresa foi implacável. Logo após o regresso ao trabalho, o diretor das minas, William Neville, abriu um inquérito para identificar e punir os supostos líderes da greve. Os guardas da empresa apresentaram uma lista de dezasseis homens, acusados de liderar os protestos e de instigar a multidão. Com o apoio do administrador local, as detenções foram realizadas de forma célere, resultando no encarceramento de oito operários que, na prática, foram detidos apenas por se manifestarem contra a sua situação de miséria.