José Lopes

Nome do Pai: 

António Lopes

Nome da Mãe: 

Rita Benta

Data de Nascimento: 
1889-02-12
Distrito / Pais (se for estrangeiro): 
Faro
Concelho: 
Alcoutim
Freguesia: 
Giões
Estado Civil: 
Solteiro
Data de Falecimento: 
1914-12-17
Informação Pessoal: 

Biografia

Observações: 
Conhecido por O Gigante dos farelos empurrou, de joelhos, os “zorrinhos” das minas de São Domingos.
Empresa: 
Mason and Barry, Ltd.
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Local de Trabalho: 
Mina de São Domingos
Notas adicionais: 

Segundo dizia o meu avô Domingos Nunes: O Gigante dos farelos chegou a ir jantar à casa da minha bisavó Brazia Maria Estevão situada no Bairro Alto da Mina.(João Nunes)

O GIGANTE DOS FARELOS
"Chamava-se José Lopes e teve a desdita de vir ao mundo em dia abafado e turvo de certo mês de canícula do ano de 1889, no acolhedor monte dos Farelos, do termo de Alcoutim.
Filho de gente humilde (quem o não era?), tornou-se desde cedo o ponto para onde convergem as atenção de todos os habitantes do monte devido às grandes proporções que já então evidenciava. Todos começaram cedo a tentar desvendar o mistério percussor da bala que agora trespassava o coração de sua mãe, e depressa houve quem adiantasse que, sim senhor, fora castigo que Deus Lhe dera, por ela, reinadia, ter dito, algures na monda, diziam que na Triaga, e antes de se ajuntar, que gostaria de ter um filho gigante.
Muito viajado, ainda muito novo começou a andar em exposição por todos os grandes mercados e conhecidas feiras do país, entre as quais a de Castro e a da Praia, tendo-se exibindo até em Espanha durante cerca de dez meses, sempre acompanhado da sua expressão triste e desesperada que dele não mais se apartaria. Também empurrou, de joelhos, os "zorrinhos" das minas de São Domingos.
Concentrava nos seus dois metros e quarenta e cinco centímetros de altura os olhos arregalados daqueles que com grande expectativa o procuravam vendo nele As proporções agigantadas de todas as partes do seu já o herói de certa lenda.
corpo magro e rude faziam o terror das criancinhas o intraduzível espanto dos adultos. Para cúmulo, via se também repelido pelos rafeiros que ladravam furiosamente à sua vagarosa passagem.
seu braço media noventa e três centímetros, a sua mão trinta e cinco, e era o mestre Zé Gonçalves, da Alcaria, quem lhe fabricava os sapatos que calçavam os seus pés de quarenta e cinco centímetros de comprimento. Mas ele sabia perfeitamente que para si a vida seria curta e a morte longa. Uma angústia terrível via-se constantemente espelhada no seu rosto, e o seu olhar expressava bem a agonia que lhe triturava a alma. Sabia que morreria quando parasse de crescer.
Houve até quem dissesse que nunca sorriu. Ele, que não era um homem como os outros porque não podia agarrar-se ao timão de um arado e rasgar com um grito selvagem a terra, do Alvergil, que lhe não daria o pão! Ele, que não era um homem como os demais porque não dava arrancado um braçado de leitugas e serralhas para dar aos coelhos ou aos bácoros! Ele, que não se julgava um homem mas sim um cerro maior que o do Tacão, um bicho que deixava estúpida a gente crescida e fazia, sem querer, chorar os pequeninos!
Já muito conhecido pelo povo da sua região, do nordeste algarvio, morreria poucos meses após ter completado vinte e cinco anos de vida, em 17 de Dezembro de 1914, depois de ter agoniado durante alguns longos dias na enorme cama de ferro com colchão de palha de centeio, consumido lentamente pela angústia terrível de quem sabe que vai morrer.. Este texto encontra-se também no livro "ALENTEJO EM CARNE VIVA", escrito por José Manuel Silva e editado em 2009.

23 de Outubro de 1909-chegou há dias Lisboa, vindo do Algarve, um rapaz de altura descomunal, que, havendo completado 19 anos e tendo lhe caído as sortes para o serviço militar, vinha, depois de haver sido examinado pelas autoridades locais, apresentar se à junta de recurso, no hospital da Estrela.
Trata se de José Lopes, filho de Antonio Lopes, já falecido, de Rita Bento, natural de Farelos, freguesia de Giões, concelho de Alcoutim, o qual se empregou até agora nos trabalhos da Mina de S. Domingos, ganhando ali 320 reis fortes, diários.
Tem 2m,8 de altura bastante proporcionado, exceção feita das mãos, que são alambazadas disformes, e dos pés que tão enormes, com 44 centímetros de comprimento, metidos nuns sapatonos de cabedal negro, que mais parecem odres.
O gigante é simpático é de boa pessoa, um tanto boçal, imberbe, vestindo calça e colete de ganga negros, cinta vermelha, casaco de cetim, camisa de oxford com gravata branca, um enorme chapéu negro na cabeça, que tem a espessura da de um homem mediano, correto de feições, o busto desempenado e a figura elegante.
O gigante, que dá passos de 1m,7 começou a desenvolver-se dos 6 para os 7 anos e ainda o ano passado, aumentou 10 centímetros, sendo de prever que, por estes anos próximos, atinja ainda maior altura e fique então sendo o mais curioso exemplar dos gigantes conhecidos.
O seu pouco salario e as tristes condições da sua vida têm feito com que não se haja alimentado devidamente, pelo que o seu peito não é hercúleo e bem conformado, trazendo escrito no rosto as privações por que tem passado.
José Lopes tem três irmãos, todos casados, e um irmão de 27 anos, chamado António, todos de mediana estatura, sendo a sua mãe tão baixa que lhe dá pela algibeira do colete e não se explicando o fenómeno por qualquer atavismo, visto que ninguém da sua família é desconforme.
O gigante foi para Lisboa recomendado ao Sr. Manuel de Jesus Pintasilgo, pregoeiro de leilões, morador na rua do Bemformoso, 264, 2º, que o hospedou num hotel da rua da Padaria onde não lhe foi possível arranjar lhe cama, tendo de dormir no chão, sobre dois colchões.
No dia da chegada saiu, a dar o seu passeio, mas tal quantidade de gente juntou em volta de si, que o seu mentor teve de tomar a deliberação de o meter n'um elétrico, meio dobrado, e de o encafuar em casa, onde terá de passar estes dias, até que possa ser exibido em qualquer casa de espetáculo, ou em casa própria, no que já se pensa.
Na verdade, é um curioso e único exemplar da nossa raça, onde os homens altos pouco abundam. Come pouco e nunca teve qualquer doença. É analfabeto e o aspeto da cidade provocou-lhe grande curiosidade e maior entusiasmo. Apesar da sua tão extraordinária altura, apenas pesa 113 kilogrammas.
(Notícia de jornal)

Testemunhos:
Segundo dizia o meu avô Domingos Nunes: O Gigante dos farelos chegou a ir jantar à casa da minha bisavó Brazia Maria Estevão situada no Bairro Alto" - João Nunes (GAMSD)
"O gigante de farelos era familiar de uns meus primos (Silvas) por parte da mãe. O meu pai também me disse que o gigante de farelos trabalhou sob as ordens do meu avô, a encher as vagonetes de minério, mas tinha que estar de joelhos, pois era demasiado alto." - Fernando Pedro Nunes (GAMSD)
"Quando era miúdo recordo-me de ouvir falar deste gigante ,e falavam que empurrava os "Zorrinhos" com os joelhos no chão, que se estivesse de pé não tinha força" - José Teixeira (GAMSD)

Pequenos Apontamentos
GIGANTES
Lemos há poucos dias a notícia de que na nossa província ultramarina de Moçambique vive um homem cuja estatura assume proporções gigantescas e, ainda com tendências para crescer, E isto nos trouxe à memória a lembrança do gigante português José Lopes, de Farelos, concelho de Alcoutim. Se fora vivo devia orçar pelos oitenta anos, talvez ainda não atingidos.
"Trabalhava nas Minas de São Domingos e quando chegou à altura da incorporação militar apresentou-se à respetiva junta em Alcoutim. Aqui nos acode um apontamento: Havia então no quintal do edifício camarário uma parreira, pela ocasião carregada de frutos, tentavam apanhá-los sem o conseguir, dois dos seus companheiros trepando um no dorso ao outro. Afastou-os, a sorrir. corno era seu modo, e fez ele o que os outros em vão tentavam. Rejeitou-o por incapacidade física o médico.sr. Dr. João José Marques. Interpôs da decisão para a Junta de recurso de Lisboa o coronel Mimoso, presidente da junta Médica. O que este senhor pretendia era enviá¬-lo à capital para o tornar conhecido. Um jornal diário publicou então uma fotografia em que se via José Lopes ao lado de um homem de estatura normal.
A sua fama estava lançada -Começou a exploração com a sua pessoa, certo indivíduo arvorou¬ -se em seu empresário e correu com ele terras de Portugal e Espanha e não sabemos se até chegou a França. Tornámos a vê-lo em faro e já então a sua indumentária era outra, mais distinta. Para o ver cada pessoa pagava, em Portugal, trinta réis ($03).
Morreu cedo o José Lopes porque a sua, estatura resultava duma doentia anormalidade e foi morrer à sua terra natal sendo sepultado no cemitério de Giões.
Uma sapataria da rua de Santa Justa e uma outra casa de comércio do Largo D. Estefânia, de Lisboa, exibem às vezes nos seus mostruários a primeira umas botas e a outra uns sapatos que dizem ter sido feitos para ele. Os pés, por desmesurados, ainda estavam em desproporção com o corpo. Ambas as casas erram na sua exposição: uma chama-lhe Manuel e a outra dá-o como mineiro de Aljustrel, onde, supomos nunca trabalhou. (Jornal Povo Algarvio de Tavira) Transcrição realizada por João Nunes (CEMSD)