Mariano Coutinho
Francisca Catarina Brito
Margarida Cavaco (1921/08/25 Alcoutim-2013/05/21 Pomarão)
- Biografia
- Assento de Nascimento
- Assento de Casamento
- Assento de Óbito
“Quando trabalhava por conta da mina, com um cunhado meu, cunhado e primo irmão, comprámos uma lanchinha que era para pescar, uma espécie de uma colher, com uma rede assim larga que tinha duas varas, era comprido, íamos contra a margem do rio para apanhar peixe. Eu faço redes é para um genro meu.”
“Eu saía do serviço, quando não podia ir ia a minha mulher, eu tinha 2 hortas, uma na terra de uma senhora dos Picoitos, que era a Maria Amélia, eu saía do serviço, quando podia ía para as hortas e quando não podia ia a minha mulher, todos os anos engordava um porco, assim como havia outros que quando saiam do serviço iam para a venda. Na mina, à do Sr. Chico Fialho, tinha lá uma loja, quando saía o pessoal da contra-mina, o balcão era cheio de copos.”
(“Procurando património mineiro num lugar insuspeito: a cabeça dos mineiros. Uma apropriação letrada dos discursos ditos destinada a eliminar vácuos do arquivo escrito.” Rui Guita
“– Lembra-se dos barcos que vinham ali ao Pomarão?
– Então, pois claro, ali vinha o inglês, vinha o francês, vinha o norueguês, vinha o português, vinha tudo a carregar minério. Ia minério para a França, Inglaterra, para a Alemanha, para vários países porque havia várias qualidades de minério. Havia um que era nº 10 que era assim como uma pedra, como o cascalho, havia outro que era o nº 14 que era mais miudinho um pouco, havia o nº 15 que era mais fino, havia o nº 3 e era assim, e havia também enxofre, a mina tinha uma fábrica que fabricava enxofre.
– E para que servia o enxofre?
– Isso agora é que eu não sei, o enxofre ia também para fora, e a união fabril levava muitas dessas coisas. Ali havia meses de, se calhar, de 30 navios, 3000 toneladas, 2000, 1500, conforme.”
“Eu trabalhei no Pomarão por conta da Mina e trabalhei na contra mina. A contra mina era o seguinte: lá trabalhávamos só com uns calçanitos que levamos para a praia, por causa do calor que era muito. A água-forte que caía constantemente em cima da gente, tínhamos de andar coçando as costas nos paus. (…) Pois, com o minério, dava muita comichão. E lá era o seguinte, lá quando nos púnhamos a comer, os ratos eram como rebanhos de ovelhas ali ao pé da gente, a comer miolinhos de pão, peles disto, peles daquilo e não se podia matar um rato, era proibido, porque os ratos é que davam sinal quando o terreno estava a dar, os ratos ficavam entalados, parte deles começavam a chiar e aqueles senhores mais antigos mandavam logo tirar a gente dali para fora. (…)
Era proibido matar um rato, esse que matasse o rato que o chefe soubesse vinha logo para a rua. E lá ia eu, por exemplo, com outro colega, o encarregado mandava a gente para uma canha, estava lá dentro trabalhando e estava outro ao fresco, o calor era muito, ao fim de um bocadinho vinha o outro para o fresco e ia o outro trabalhar, e era assim, isso era assim na contra mina. E no Pomarão era encher vagões de minério a maior parte dos dias, passar 30 e 40 toneladas pelos braços, a camisinha tinha de ser lavada todos os dias e quando se trabalhava no cais a levar os vagões para os navios, havia dias que uma pessoa ia, como eu que trabalhava no cais, trabalhávamos 2 quadrilhas no cais, eu trabalhava numa, e havia dias de ir 300 e 400 vezes à ponta do cais, ir e vir. Aquilo era mesmo o esfola, como se costumava dizer, e o que se ganhava não era nada. Nesse tempo, há 40 e tal anos, acabou há 43 ou 44 anos, esse processo que eu estou a falar, ganhava-se 1000 escudos por mês. A pessoa que ganhasse 1000 escudos já era um mês grande, hoje é o que ganha uma senhora numa hora.”
(“Procurando património mineiro num lugar insuspeito: a cabeça dos mineiros. Uma apropriação letrada dos discursos ditos destinada a eliminar vácuos do arquivo escrito.” Rui Guita