António Machado
Ana dos Santos
Maria Paulina Rodrigues
- Maria Barbara n.1858-06-19 VRSA casou com João Guerreiro da Costa 1881-09-21 (filho:Alvaro Magno Guerreiro 1886-01-06)
- Ana Machado n. 1860-11-08 VRSA Fal. 05-07-1948 VRSA
- José dos Santos Machado 1863-04-05 VRSA F. 1923-08-11
- António Machado 1865-07-01 VRSA
- Maria da Glória 1867-11-01 VRSA casou com João António da Fonseca e Sá em 1889-09-01
- Adelina do Carmo Machado 1870-11-22 VRSA F.29/10/1918 casada com João António Carrilho em VRSA 1898-06-12
- António Machado 1873-07-26 VRSA Fal. 1877-11-23 VRSA
- João Machado- 1876-05-08 Fal. 1884-10-09 (tifo) VRSA
- Manuel Rodrigues Machado 1881-04-26 VRSA https://cemsd.pt/node/5987
- Inocêncio L. Machado 1879-02-26 VRSA https://cemsd.pt/node/9895
Biografia
Escreveu um manuscrito com 654 páginas, redigido entre 1863 e 1909 por António dos Santos Machado com a dimensão de 32 cm por 22 cm, cozidas à mão, pesando 2,3 kgs. Era uma espécie de diário de acontecimentos, presenciados pelo autor António dos Santos Machado, entre meados do Século XIX e início do Século XX. ocorridos em Vila Real de Santo António
António dos Santos Machado tinha sido capitão de um dos rebocadores da Mina de São Domingos, que se reformou em 1905.
"Muitas pessoas sabem, mas muitíssimas ignoram, que eu sou natural da Vila de Olhão, onde nasci no dia 22 de Julho do ano de 1836, numa casa da rua dos Mercadores. Que fui batizado no 1º de Agosto do mesmo ano, na Igreja da Sra do Rosário, padroeira da freguesia da mesma vila, sendo padrinhos o prior da citada freguesia Reverendo Domingos Tavares Bastos e D. Maria Antónia, naturais de Aldeia Galega. Que sou filho, e segundo do nome, de António Machado e Ana dos Santos, neto paterno de João Gonçalves e Josefa Maria, e materno de José dos Santos e Ana Maria." Teve quatro irmãos sobrevivos: Ana dos Santos, João Machado Goncalves, Maria Angelina e José dos Santos Machado.
Excerto de II volume de “Memórias & Documentos – Vila Real de Santo António (1863-1909)”, de António Horta Correia
Assento de casamento, em 08.06.1856, de António Machado, de 20 anos, filho de António Machado e Ana dos Santos, neto paterno de João Gonçalves e Josefa Maria, neto materno de José dos Santos e Ana Maria, todos naturais da vila de Olhão, com Maria Paulina, de 19 anos, filha de Manuel Rodrigues e Maria da Encarnação, neta paterna de Manuel Rodrigues e Joana Munhoz, naturais todos desta vila, neta materna de José Maria Rocha e Maria Garcez, de Ayamonte.
O meu casamento foi o mais modesto possivel, chamar-lhe-ei mesmo triste. A Sr.a D. Teresa do Carmo Ribeiro e o marido Sr. João Ribeiro Fernandes, padrinhos da minha noiva, foram às 4 horas da manhá a casa do Sr. Manuel Rodrigues e sua esposa, a buscar a filha que acompanharam até à igreja. Não se levantou nem Mãe nem ninguém, para abençoar ou dizer adeus à filha que quis jogar o seu futuro, ela foi ao quarto tomar a bênção só à Mãe e dizer adeus aos irmãos que se não levantaram com receio da Mãe. Presenciou este acto a Sr.ª Teresa Pincho, de Olhão, esposa do Sr. Manuel Ramos, hóspeda muito íntima da família Rodrigues.
O Sr. João Antonio Guimarães, meu padrinho, veio à mesma hora a minha casa aonde eu já estava preparado, acompanhou-me também à igreja, onde ficamos esperando que viesse o Sr. Prior. Eis o acompanhamento do meu casamento! O Sr. João Peres, prior da freguesia, recebeu-nos com o rito determinado pela religião católica apostólica romana, e ficámos casados," convidado para nos acompanhar a casa, não aceitou. Chegamos a casa acompanhados pelas pessoas já citadas, houve o costumado copo de água, simples, modesto como tudo, composto de doces, licores e genebra que eu tinha trazido de Lisboa, na importância de 4$500 réis. Depois de uma hora de conversa sobre diferentes assuntos, chegaram as despedidas dos nossos padrinhos, demonstrando os bons desejos em que tivéssemos muita saúde e felicidades, saíram. Ficamos eu, que não saí mais da casa nesse dia, minha mulher, a tia Francisca do Moreno, e uma criadita, Maria Fandanguita, 1ª criada que tivemos, e que ainda é viva. Jantamos os quatro à hora do nosso costume, então 1 hora da tarde, jantar também simples e trivial. O que deixo exposto justifica a classificação que dei antes ao meu casamento de modesto e triste, aumentado pela toilete da minha mulher casarmos. Agora, e mesmo naquele tempo, as filhas dos que tem alguma coisa de seu, vão geralmente casar vestidas com vestidos claros, brancos acto de
a maior parte, com cauda de seda, la ou outro tecido, véu de renda e a competente grinalda de flores de laranjeira, símbolo da pureza. A minha mulher pelo seu vestuário exprimia o luto, a paixão, como se fosse assistir ao acto da paixão do Senhor Jesus Cristo em sexta feira santa. Levava vestido um vestido de seda preta com quadros da mesma cor, que a Mãe lhe tinha comprado em Ayamonte muito tempo antes de pensar em casar e um véu regular também preto, unicamente. Eu fui vestido com sobrecasaca, calça e colete preto com chapéu alto, que nesse tempo usava muitas vezes. Naquela época não estava em moda as corbeiles de ofertas às noivas, por isso nós não tivemos quem nos oferecesse um simples alfinete. Mas ficamos casados!"
Conta A.S. Machado que seis dias após o casamento saiu para Lisboa, ficando a mulher em VR acompanhada pela criada. Por essa altura a sogra mandou-lhe um grandíssimo baú com uma peça de pano-patente dentro, foi o enxoval. Em Setembro desse ano, Maria Paulina foi passar uns tempos em Olhão a pedido da cunhada Ana dos Santos, que a queria conhecer. Também acompanhou o marido a Mértola para a apresentar a Constantino Lampreia e, pouco depois, numa viagem a Cádis.
De regresso, A.S. Machado esteve muito tempo em VR, sem ocupação, por não haver carregamento de trigo para Lisboa, até que certo dia, consultada a tripulação e os donos do barco, resolveu seguir para Lisboa, mesmo sem carga, para lá procurar um frete compensador. Seguiu-se, então, uma das "aventuras" por ele vividas e descritas em pormenor. Ao fim de alguns dias, tinha conseguido arranjar apenas "uma porção de fardos de algodão e caixas grandes de linha para a casa dos Srs. Orta & Ca de Aldeia Nova de S. Bento, uma pequena porção de tabuões de flandres e uma mobília para o Sr. D. Nicolau Biava o descobridor da Mina de Domingos, para desembarcar em Mértola, mas isto era pouquíssimo, precisava arranjar outra coisa e sendo tempo de vir cortiça para os portos do Algarve falei a um Sr. Anastácio, encarregado nas remessas de cortiça para a casa dos Srs. Garcia e outros de Silves, e para um judeu em Faro, prometia-me todos os dias mas nada resolvia." Em face desta situação, decidiu ir a Vila Nova da Rainha, onde conseguiu 360 fardos de cortiça para Faro, que já era carga suficiente.
Manuscrito de António dos Santos Machado transcrito por António Horta Correia