Biografia
No Capítulo Instrução
Falam-nos os Exmos professores oficiais, D. Juliana Maria Carrasco e Amílcar José dos Santos.
Eis-nos de frente ao assunto. O nosso digno representante na Mina de S. Domingos preparou o terreno, quer dizer, levou-nos á presença de pessoa sabedora e enfronhada no flagrante caso do dia, sem se tratar, é claro, de falar em trigos, compras e vendas, mas de instrução, do magno problema nacional. Este problema é outro, sem contudo ser de somenos mérito. De novo no Club. Apresentação praxista : «O sr. Amílcar José dos Santos, professor oficial...» «o sr. fulano, redactor da «Ala Esquerda», e pronto, conversa entabolada com rumo ao tema. Desnecessário será dizer que ouvimos com agrado manifesto tudo quanto o ilustre professor nos relatou e que, finda a conversa da noute prometemos novo encontro para o dia seguinte, o que se deu um pouco mais tarde do que á hora combinada.
Là nos aguardava o sr. Amílcar José dos Santos dedicado e abnegado educador de crianças nos domínios de S. Domingos.
Visitámos as duas aulas masculinas instaladas no mesmo edifício e por sinal muito bem instaladas, mercê dos esforços persistentes do seu Director, o professor inteligente de que nos ocupamos. O material de ensino é bom e variado, o mobiliário, porém, é que destôa um tanto, por ser antigo e molestado por inscrições a canivete, obra de velhos alunos, hoje homens de regular idade. Visto que ficou tudo isto, falámos seguidamente em frequencia escolar. O sr. Amílcar dos Santos obtempéra sem demora :
-No que me toca, sexo masculino, crianças em idade escolar 292. No entanto, para leccionar êste sexo ha apenas dois professores, isto é, um professor, que sou eu, e uma professora, que é minha esposa.
— Nêsse caso seriam precisos muitos encarregados de ensino, não é verdade ? - metemos nós à guisa de pergunta.
— Sem dúvida. São precisos mais seis. Ainda não eram muitos.
Passou depois este nosso amigo a dissertar sobre causas que determinam todas estas irregularidades, prós e contras, comentando a um tempo o discutido caso dos desdobramentos. Mostrou-nos, tambem, o datilografado duma conferencia sobre instrução, realisada por si no Club Recreativo, trabalho credor dos mais escrupulosos elogios, porquanto, na verdade, versa um dos mais palpitantes temas em voga. Mas, ainda não é tudo, pois a seguir pôs-nos diante dos olhos toda a escrita referente á Caixa Escolar que organisou com modelar e original funcionamento, pelo que déla todos os alunos da sua intendencia, pobres ou ricos, colhem os melhores benefícios em troca dum escudo mensal por cada aluno.
Não quizemos importunar mais o mestre carinhoso e esforçado, despedimo-nos e agradecemos todas as explicações fornecidas, indo logo após a casa da exmª srª D. Juliana Maria Carrasco, antiga e valorosa professora oficial, que nos recebeu atenciosamente como éra de esperar.
A conversa foi breve, o suficiente para anotarmos o que nos fazia falta, porque muito além não podia ir a nossa demora, tanto mais que já havíamos colhido os informes restantes. Falou-nos esta senhora, com mágua, das necessidades da sua escola, mal servida material e mobiliário, se em confronto com as demais.
Indagámos da frequencia total da escola e a resposta veio rápida após busca nos cadernos de matrículas : «No ano findo, 75 alunas; todas leccionadas com aproveitamento. Frequencia muito regular».
Como éra já quasi noute démos por terminada a tarefa em casa da exmª srª D. Juliana Carrasco que, como o sr. Amílcar dos Santos, merece os nossos melhores encomios.
Reportagem de 1933