António Vaz
Emília Rodrigues
Biografia
Tem nome de rua na Corte do Pinto.
Nota Biográfica: José Vaz Rodrigues, anarquista, morreu após 11 anos de prisão cumprida na Penitenciária de Coimbra. Julgado e condenado por participar do atentado a Salazar em 1937, acabou sucumbindo ao peso da prisão e dos maus tratos que lhe foram inflingidos. Morreu como tantos outros idealistas, acreditando numa sociedade de igualdade para todos. Para nós, deu a sua vida em troca de um acto inglório: atentar contra a vida de um ditador! Não acreditamos no sacrifício de um idealista em troca da vida de um tirano! Para nós, um tirano não merece um anarquista! Um acto de violência leva sempre a outro, e as maiores vítimas são sempre os libertários, os anarquistas! E se aprofundarmos um pouco mais a investigação, damos-nos conta de que um atentado premeditado, o sacrifício de uma vida mesmo sendo um inimigo reflecte sempre um pouco do estado interior de quem pratica, não deixa de ser um crime! O delinquente em potência está aninhado no inconsciente de muita gente à espera de uma oportunidade para vir à superfície, para se revelar e agir. E se, no caso de Salazar, esse delinquente surgia cometendo os seus crimes através da polícia, ele não deixava de ser deles responsável, apesar de os não cometer pessoalmente o caso de um anarquista que tentara cometer um crime de morte, julgando poder fazer justiça por suas mãos, não será por isso menos responsável. Durante a Revolução Espanhola "o delinquente" aflorou em muita gente, inclusivé nos cérebros de muitos "anarquistas"... e o resultado foi desastroso, matou-se muita gente inutilmente. Até anarquistas mataram anarquistas! Concluo esta homenagem a José Vaz Rodrigues declarando que morreu por uma causa inútil; a sua vida e a dos seus companheiros de atentado, a C.G.T. e o movimento anarquista português, valiam muito mais de que a vida de muitos ditadores!
Fontes: E. Rodrigues (1982). A oposição Libertária em Portugal. 1939-1974. Lisboa. Sementeira.
Nota do Autor: E. Rodrigues (1982)
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Na foto:Grupo de presos políticos na fortaleza de Peniche (1934). Texto datilografado de J. Francisco: “ Fortaleza de Peniche – 1934. Ao centro: Manuel Joaquim de Sousa, que foi o primeiro Secretário Geral da C.G.T. Da esquerda para a direita, sentados: José Francisco, do Secretariado da C.G.T. em 1933; António Inácio Martins, regressado da deportação em Angola, mas detido em Peniche. De pé, e pela mesma ordem: José António Machado, da Juventude Libertária; José Vaz Rodrigues, falecido na Penitenciária de Coimbra, onde cumpria pena por estar envolvido no atentado a Salazar; Francisco Mestre Valadas Ramos, militante rural alentejano, morto em combate na Guerra Civil de Espanha, participando nas Milícias da C.N.T.”
José Vaz Rodrigues, filho de António Vaz e de Emília Rodrigues, nasceu no Alentejo, em Corte do Pinto, Mértola, a 1 de janeiro de 1907.
Empregado de comércio e serralheiro mecânico, residente em Lisboa, era militante anarquista – ligado à Confederação Geral do Trabalho (CGT) e ao grupo «Propaganda e Estudos Sociais» – e esteve envolvido nas preparações da greve geral insurrecional de 18 de janeiro de 1934.
Foi preso «quando distribuía manifestos contra a situação», seguindo para a Prisão do Aljube a 4 de agosto e a 22 de novembro de 1934 para a Prisão de Peniche. Antes, a 9 de junho de 1934, fora julgado e «condenado à multa de 7.200$00 [que] não sendo paga no prazo legal será convertida em prisão correcional à razão de 20$00 diários [correspondentes a trezentos e sessenta dias] e perda de direitos políticos por 5 anos». A 6 de maio de 1935 é «restituído à liberdade».
José Vaz Rodrigues participou no atentado contra o presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, de 4 de julho de 1937 em Lisboa. Posto à disposição da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) pela Polícia de Segurança Pública (PSP) a 13 de abril de 1938, terá sido violentamente torturado.
A 15 de janeiro de 1939, foi condenado pelo Tribunal Militar Especial a uma «pena de quatro anos de prisão maior celular, seguida de degredo por 12 [anos] ou, em alternativa, de 23 anos e oito meses de degredo em possessão de 2.ª classe».
Em março de 1939, deu entrada na Penitenciária de Coimbra para cumprir a pena. A violência que se abatera sobre os suspeitos de envolvimento no atentado fora particularmente brutal e José Vaz Rodrigues não resistirá aos maus-tratos e ao longo período de prisão, morrendo a 5 de novembro de 1948, com 41 anos.