Sebastião Martins Adolfo

Nome do Pai: 

Joaquim Sebastião

Nome da Mãe: 

Maria Ana

Data de Nascimento: 
1925-12-18
Local do Registo: 
Corte do Pinto
Distrito / Pais (se for estrangeiro): 
Beja
Concelho: 
Mértola
Freguesia: 
Corte do Pinto
Local de Nascimento: 
Mina de São Domingos
Estado Civil: 
Casado
Nome do Cônjuge: 

Ema Camacho da Silva

Nome do Cônjuge (2ªs núpcias): 

Isabel Branco

Filhos: 

Maria Antónia Branco Martins

Residência - Localidade: 
Mina de S. Domingos
Morada: 
Rua da Corte
Porta nº: 
3
Data de Falecimento: 
2013-10-19
Local de Falecimento: 
Almada
Local da Sepultura: 
Cemitério da Mina S.Domingos
Assento de Nascimento: 
Assento de Casamento: 
Assento de Casamento (2ªs núpcias): 
Assento de Casamento (3ªs núpcias): 
Assento de Óbito: 
Empresa: 
Mason and Barry, Ltd.
Nº. do Sindicato: 
2388
Data do Registo: 
1950-10-04
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Data da Aprovação: 
1951-04-25
Nº da Caixa de Previdência: 
2067
Departamentos: 
Contramina / Engenharia
Profissão / Categoria: 
Safreiro de 1ª, passou a Apontador listeiro, passou a Controlador de 2ª
Local de Trabalho: 
Mina de S. Domingos
Ficha do Sindicato: 
Notas adicionais: 

S-Eu nasci a 18 de Dezembro de 1925 e trabalhei até 1967, na Mina de S. Domingos.
Ent-E quando é que começou ?
S- Comecei a trabalhar em Setembro de 1949
Ent-O seu nome completo é?
S- Sebastião Martins Adolfo.
Ent-Então e, na mina, fazia exactamente o quê?
S- Comecei por ser safreiro, depois passel a apontador, chamava-se o listeiro. Trabalhei também algum tempo nos escritórios do caminho-de-ferro, como pagador. Pagava ao
indivíduos que trabalhavam entre a Mina de S. Domingos e o Pomarão. Pagava à semana, nesse tempo pagava-se à semana.
Mais tarde trabalhei na Secção de Pessoal, junto aos serviços administrativos.

Ent- Portanto, esteve cá até ao fim da mina?
S Estive cá até 1967, praticamente até ao fim...
Ent - A mina encerra em 1968. E entāo depois foi para Lisboa?
S E depois fui para Lisboa Entrei na firma Sitel petrolíferas Deixei de trabalhar no dia 30 de Setembro de 2002 como apontador em construções
Ent- Mesmo assim trabalhou até tarde!
S Trabalhei 57 anos e 15 dias, assim distribuídos um ano na Barragem de Vale de Galo, quatro anos no Serviço de Fomento Mineiro, 17 na Mina de S. Domingos e trinta e
cinco na Sitel, firma com sede em Lisboa. Todos estes anos sem interrupções.
Ent-Então e nessa empresa fazia o quê?
S-Na Barragem fiz trabalhos diversos, no Fundo de Fomento na Brigada de Pesquisas e na Sitel como apontador, escriturário e controlador.
Ent-Antes de começar a falar do trabalho na mina, se pudesse falar um bocadinho sobre quem eram os seus pais.

-O meu pai era algarvio natural da freguesia do Cachopo, concelho de Tavira.
A minha mãe era da Mina de São Domingos.
Os meus avós paternos eram algarvios.

Ent- Então quando o seu pai veio para cá, foi para trabalhar como mineiro?
S-Sim. já o meu avô e o meu pai eram mineiros!
Ent-Mas aqui também?
S.-Aqui também!
morreu aqui na Mina de São Domingos em 1923 com 55 anos de idade.
Ent-Morreu novo...
S Morreu novo como quase todos os mineiros...Poucos chegavam a velhos,porque havia a tuberculose que dizimava a maior parte da gente.

Ent-E ele morreu de tuberculose?
S- Crelo que sim. O meu pai morreu aos 79 anos com silicose e cancro, depois de trabalhar aproximadamente 50 anos na mina.
O irmão do meu pai morreu de tuberculose deixando seis filhos menores.
Como alguns mineiros abusava do álcool e, certamente, com uma alimentação fraca apressou o fim. A empresa era a seguradora de todo o pessoal operário e, como tal, não admitia a silicose e todos os mineiros, ou quase todos, morriam com tuberculose.
Quando a empresa entrou em declínio, com a necessidade
trabalhadores tinham de ingressar numa companhia de seguros. A Companhia de Seguros Douro aceitou o ingresso, mas não sem radiografar todos
Conclusão: Quase 50% mineiros foram rejeitados.
Possivelmente grassava a silicose. O pessoal de superfície foi todo aceite. Os operários de idade avançada também não foram aceites.
Até à fundação da Caixa de Previdência as reformas eram pagas pela empresa.
O trabalho da mina em si era um bocado difícil porque não havia as condições de trabalho que há hoje Depois disso, que eu saiba já as minas começaram a ter outras condições de trabalho e de higiene, que esta aqui de higiene não tinha nada!
Vivia-se vamos lá, vivia-se mal E não era pior porque a empresa distribuía a cada operário, os que quisessem e os que pudessem um bocado de terra junto à barragem onde se fazia a horta que complementava o fraco salário que tinham. não é? Colhiam o tomate, a batata, o feijão, qualquer coisa para ir vivendo e ajudando a quem vivesse só do ordenado para sustentar casa e família que era sempre numerosa, com 8,9,10 filhos.
Na casa do meu pai éramos 7 irmãos a viver em 16 metros quadrados de casa ou pouco mais que era o que aqui havia um quarto por 4 metros por 4 por cada pessoa.Embora depois tivessem juntado a esse quarto um anexo uma casinha ou um casinhoto onde faziam fumo...não tinham luz eléctrica não havia casas de banho e vivia-se mal.
No entanto havia uma certa predisposição também para uma alegria que dizíamos grande, talvez para compensar o que durante oito horas havia de mal no trabalho A saída das horas normais do trabalho ia-se para as hortas.Os filhos ajudavam os pais nessas lides.
Apesar de toda esta miséria havia, por vezes alegria. Havia cantares, grupos corais, bailes e danças pelo Entrudo. As colectividades viviam das cotizações mas também com
ajudas da empresa. Em todas as sociedades havia o interesse de alguns associados pela cultura. Todas tinham a sua biblioteca. Tudo isso acabou quando a mina encerrou.
Viveram-se aqui momentos difíceis. A primeira e última greve foi em 1932, em Outubro, tinha eu 7 anos.
Passou-se aqui por momentos difíceis, apesar das ajudas, segundo me disseram, de sindicatos mineiros da Bélgica e da França..
Os grevistas apenas reivindicavam aumento de salário, creio que de 20 centavos.
Ent -Tiveram a ajuda de mineiros da Bélgica?
S-Sim, parece que sim. Eu tive um tio que foi um grande sindicalista e humanista, não abandonando os operários nesses momentos críticos, apesar da empresa lhe oferecer certas benesses para propor o cancelamento da greve. Mas não aceitou.
Ent-Como se chamava esse seu tio?
5-Valentim Adolfo João. Depois dessa greve ou ainda enquanto ela decorria teve que se exilar em Espanha. Conseguiu regressar a Portugal, mas viveu na clandestinidade até ser preso pela PIDE em 1949.
Nasceu em Aljustrel em 1902 e faleceu em Setúbal em 1970.
Viveu desde criança em companhia dos seus tios que o adoptaram, Manuel Firmino que era guarda-fiscal e Maria Gata.
Fundou o Sindicato, a Associação de Socorros Mútuos, o Jornal "Voz do Mineiro" e a "Folha Subterrânea".
Ao meu tio acusaram de atentar contra o Salazar, em 1937, mas só foi preso em 1949, vivendo até então na clandestinidade.
Cumpriu 15 anos de prisão, sendo libertado em 1964. Depois trabalhou em algumas empresas no distrito de Setúbal, onde veio a falecer.

Ent - Então não foi reintegrado na mina?
S - Não, não voltou a ser reintegrado. Ele depois de sair da prisão esteve na clandestinidade..
Ent - Quanto tempo é que esteve preso?
S- Deram-lhe 23 anos, mas só cumpriu 15.
Quando veio de Espanha, viveu na clandestinidade e ainda trabalhou na zona de Setúbal uns tempos. Depois foi para o Porto.
Numa das viagens de comboio que fez do Porto para a família foi preso.
Foi então acusado do atentado a Salazar, em 1937, o primeiro e último atentado que o Salazar sofreu.

(....)

Entrevista publicada no CD "Mina de S. Domingos - 150 anos de História", um trabalho da Fundação Serrão Martins e Câmara Municipal de Mértola.

https://www.facebook.com/JarnJarn/videos/10205930179785988/