Relatório do inspector geral das minas, ácerca do jazigo de cobre de S. Domingos

Ano: 
1860
Descrição: 

MINISTÉRIO DAS OBRAS PUBLICAS, COMMERCIO E INDUSTRIA DIRECÇÃO GERAL DAS OBRAS PUBLICAS E MINAS
Repartição de minas — 2 .ª S e c ç ã o

Sua Magestade El-Rei, a quem foi presente o projecto dos trabalhos de lavra a executar na mina de cobre de S. Domingos no concelho de Mertola, districto de Beja, apresentado pelos concessionários da mesma mina e elaborado pelo seu engenheiro James Mason; Considerando que, tendo sido esta mina lavrada em remotos tempos de que não ha noticia precisa, fora depois abandonada e as suas obras inundadas, conservando-se n’este estado durante muitos séculos; Considerando que os trabalhos da antiga lavra executados ,n’esta mina desceram pouco abaixo do plano horisontal que passa pelas pregas mais fundas do solo adjacente; Considerando que as antigas obras da lavra da mina de S. Domingos que tem podido ser accessiveis são muito irregulares na sua fórma, extensão e distribuição; Considerando que a maior parte dos antigos trabalhos está ainda inundada, ignorando-se por consequência qual seja o seu desenvolvimento; Considerando que a espessura dos massiços deixada pelos antigos em toda a região onde penetraram os seus trabalhos representa ainda importantes reservas; Considerando que a lavra de parte d’estes massiços póde ser tolerada entre os limites requeridos pela estabilidade e segurança das obras subterrâneas; Considerando que a natureza do minério, a possança da parte conhecida do jazigo, e as demais condições que este accusa no seio da terra, exigem um systema determinado de trabalhos; Considerando que as obras preliminares para a execução do systema de lavra a empregar devem emprehender-se no mais breve tempo possivel; Visto o relatorio do inspector geral das minas do reino, que por ordem do governo examinou este jazigo; Vista a consulta do conselho de minas: Ha por bem o mesmo augusto senhor, conformando-se com os referidos relatorio e consulta, approvar o projecto offerecido pelos referidos concessionários com as seguintes restricções: 1. a Que os trabalhos que actualmente se executam no campo em que a lavra se faz com a reserva de pilares na massa atacada pelos antigos trabalhos não deverão descer alem do nivel de 12“ abaixo do solo da galeria de esgoto marcada no poço n.° 1 ; 2. a Que os pilares reservados sejam de sufíiciente espessura e dispostos do modo mais regular que permittirem os trabalhos anteriormente executados; 3. a Que não será permittido nenhum despilamento n’este campo senão quando a lavra regular ahi chegar, vindo de baixo para cima; 4. a Que se proceda com a maior actividade ao esgoto dos antigos trabalhos descendo quanto antes á profundidade de 50“ pelo menos abaixo da galeria antiga de esgoto, e se prepare ahi o campo de lavra regular e vasto ! para a extracção total do minério, enchendo os vasios com ' entulhos; 5. a Que á medida que os trabalhos velhos se tornarem accessiveis se levantem as respectivas plantas detalhadas e acompanhadas dos perfis que forem necessários para dar conhecimento das dimensões e extensão dos mesmos trabalhos. O que pelo ministério das obras publicas, commercio e industria se communica aos concessionários da mina de S. Domingos para seu' conhecimento e prompta execução. Paço, em 17 de janeiro de 1861. — Thiago Augusto Valioso de Horta. ==Para os concessionários da mina de S. Domingos. . _____ Consulta a que se refere a p o rta ria supra Senhor.— Ao conselho de minas foi presente o relatorio do inspector geral das minas, ácerca do jazigo de cobre de S. Domingos, no concelho de Mertola, e por este engenheiro elaborado, para satisfazer á commissão que lhe foi commettida, em virtude da consulta do mesmo conselho de minas de 24 de abril do corrente anuo. N’esta consulta havia o conselho pedido que a mina de S. Domingos fosse visitada por um engenheiro inspector, com o fim de esclarecer o conselho fornecendo-lhe os dados de que carecia para emittir a sua opinião sobre o plano que deve adoptar-se na lavra da sobredita mina. O inspector geral discute três questões no seu relatorio, que são: a da importância do jazigo, a dos methodos de lavra, e a dos processos para o aproveitamento das substancias uteis quê o minério contém. Para ajuizar da importância do jazigo estabelece os dados mais desfavoráveis, e apesar d’isso o mínimo a que chega mostra que o campo d’esta mina é tão vasto que o seu producto pode exceder o de todas as minas de diversos metaes dos celebres districtos reunidos de Hartz e da Saxonia. O conselho julga conveniente tornar bem evidente a importância d’este deposito, principalmente porque ha outros da mesma natureza no paiz, sobre os quaes muito conviria chamar a attenção das emprezas industriaes, e por isso faz algumas considerações com o fim de pôr bem em relevo essa importância. Procedendo á avaliação do volume da massa metallifera contida Teste jazigo, e mais particularmente no campo da concessão d’est.a mina, o auctor do relatorio, reconhecendo a existência de duas massas principais, e de outras muito mais pequenas, separadas d’aquellas á superfície por porções de schisto, limita as suas considerações á maior d’ellas, na qual se acham estabelecidos os trabalhos actuaes, no meio dos que em outras epochas, e mui remotas da actual, foram executados n’este jazigo. Este desprezo reduz consideravelmente o volume que se attribue á massa metallifera, sendo muito provável que todas as massas, separadas nos seus affloramentos por porções de schisto, se juntem a uma profundidade maior ou menor em uma massa unica muito mais possante do que a somma de todas. Medindo sobre a planta, da mina feita pelo engenheiro Mason a possança e comprimento do aflloramento da massa principal maior, achou para a primeira 90 a 92m, c para a segunda 500“, o que dá uma área de 45:000 a 46:000“2: suppõe comtudo uma hypóthese que, se não é impossível de dar-se, é ao menos extremamente improvável : suppõe que o jazigo diminue em largura, e toma 60“ para representar a possança media em uma profundidade de 100"’: nesta hypóthese o volume da massa em 100"1 fica computado em 3.000:000“°; isto é, dois terços do volume que teria, adoptando as medições eôectivas tomadas á superfície, suppondo que se conservavam uniformes na profundidade de 100“ , e muito menos do que seria suppondo, o que é mais provável, que esta massa augmente em extensão e possança com a profundidade, e que n’ella se juntem as outras massas reconhecidas pelos seus afloramentos no mesmo campo. Para passar do volume assim determinado ao peso da massa do minério contido n’este volume, é necessário conhecer o seu peso especifico medio: na falta de experiências directas, feitas Testa mina, recorre aos resultados obtidos por Ánciola e Cossio em numerosas experiencias feitas por estes engenheiros na mina de Rio Tinto em Hespanha, das quaes deduziram o máximo peso especifico igual a 5,089, o minimo a 4,458, e o medio a 4,803; mas attendendo á existência de numerosas fendas que dividem a massa do minério em S. Domingos, circumstancia que augmenta o seu volume, adopta como peso especifico medio 4,5, isto é, pouco mais do minimo achado em Rio Tinto, ou yj2 menos do que o medio calculado para a massa d’esta mina. Para exprimir em toneladas, com os dados anteriormente adoptados, o peso da massa contida nos 100“ de profundidade, estabelece o peso métrico d’esta unidade também de um modo muito desvantajoso para o juizo a fazer sobre a importância do deposito de que se trata; porque correspondendo a tonelada ingleza a 1016 kil e a tonelada mineira a 1067 kil acrescenta ainda 6 por cento d’este peso para perda dc humidade e dispersão, e attribue á sua unidade o peso de 1125 kil; e n’esta hypóthese 1“° produz bem 4 toneladas, e portanto os 3.000:000“° contém 12.000:000 toneladas. Seriam 12.000:000 toneladas mineiras; seriam 13.650:000 toneladas mineiras juntando-lhe mais a diferença que provem da diminuição na media do peso especifico adoptada; seriam 20.475:000 toneladas mineiras acrescentando ainda a diferença que provem de se terem tomado 3.000:000 em logar de 4.500:000 para representar o volume dá massa. Para ajuizar da quantidade de cobre contida no peso da massa anteriormente determinada, trata de classificar o minério segundo as differenças do seu teor, e de estabelecer a percentagem, ou os quantos por cento de cada uma das classes estabelecidas. Ainda aqui era indispensável recorrer aos dados obtidos por experiencias feitas na mina de Rio Tinto; mas comparando esses dados com os estabelecidos em relação á mina de S. Domingos vê-se quanto estes foram rebaixados a respeito d’aqueles: com effeito estabelecem-se para esta mina três classes, como para a de Rio Tinto, mas com teores médios e proporções differentes dos ' que lhe correspondem Testa mina. O teor de 1 .a classe é em Rio Tinto 7,232 por cento, em S. Domingos 6,000 por cento: de 2.a classe em Rio Tinto 2,184 por cento, e em S. Domingos 3,000 por cento: de 3.a classe em Rio Tinto 1,090 por cento, e em S. Domingos 1,500 por cento.
O teor medio para as proporções admittidas é em Rio Tinto 4,781 por cento, eem S. Domingos 3,000 por cento. As proporções são: da 1.a classe 0,547 em Rio Tinto, e em S. Domingos 0,200: da 2.a classe em Rio Tinto 0,304, e em S. Domingos 0,400: de 3.a classe em Rio Tinto 0,148, e em S. Domingos 0,400 por cento. Convém notar que o auctor do relatorio não duvida adoptar pela inspecçâo do minério de S. Domingos, que o seu teor medio seja de 4,5 por cento, isto é, pouco inferior ao do minério de Rio Tinto achado por experiencias; mas tendo de empregar os dados que estabelece na discussão da terceira questão acima indicada, na qual considera algumas combinações de processos em que o minério é vendido todo ou parte d’elle em Inglaterra, attende a que n’este caso o minério enviado a este paiz é ahi sujeito para- ser comprado a um processo de ensaio em que perde mais cobre do que na fundição, e é por isso que adopta para base das suas considerações o teor medio de 3 por cento em logar de 4,5; isto é, um terço menos do que se suppõe ser. Se amassado jazigo estivesse intacta, haveria, segundo os dados estabelecidos pelo auctor do relatorio, nos 12.000:000 toneladas de minério 360:000 toneladas de cobre, seriam 614:250 em 20.475:000 toneladas mineiras, seriam 969:909 no mesmo numero de toneladas suppondo que a percentagem media é como em Rio Tinto de 4,781 por cento; mas como a massa metallifera foi já em outro tempo, lavrada, é necessário abater do numero de toneladas computado as que já foram extrahidas nas antigas lavras; para fazer esta subtração é necessário conhecer a percentagem da extracção feita com relação á massa atacada, e o volume d’esta massa; para obter estes dados é ainda necessário recorrer ao que se conhece a respeito do deposito de Rio Tinto e dos de outras localidades antigamente lavradas. Em Rio Tinto os vasios designados pelas antigas lavras não chegam a 0,001 da massa atacada, e tem-se por muito provável que os antigos trabalhos não descessem a mais de 25“' do nivel do esgoto natural da massa atacada. O auctor do relatorio suppõe que a porção extrahida seja 0,02 da massa, e que os trabalhos descessem a 40“ abaixo da galeria dè esgoto natural; Testa hypóthese, extremamente desfavorável, resulta tomar-se como já extrahida uma massa quasi quadrupla da que seria adoptando os dados da experiencia. Na hypóthese estabelecida, havendo em 40“ de profundidade 1.200:000“°, os 0,02 d’esta massa são 24:000“° que subtrahidos deixam de resto 1.176:000“°$ aos quaes deve juntar-se 1.800:000“° de massa virgem .contida nos 60“ restantes. Portanto a massa que se suppõe existir vem a ser de 2.976:000“° ou 11.904:000 toneladas de 1:125 kil, as quaes a rasão de 100:000 toneladas por anno dariam trabalho para 119 annos de lavra. Estes algarismos que, como nota o autor do relatorio, representam o minimo da importância d’este jazigo, são ainda assim sufficientes para contentar a cubica de uma empreza poderosa; é facil de ver também pelas considerações expostas quanto a importância d’este jazigo deve exceder na realidade a que se lhe computa com os dados estabelecidos; póde mesmo sem receio de errar avaliar-se a massa contida nos 100“ de profundidade no dobro do numero achado. Tratando da lavra, estabelece o auctor do relatorio tres methodos: o primeiro reduz se á extracção do mmerio mais rico, exeavando nas partes onde elle se achar, deixando em pilares o minério pobre. Este methodo, que é o mais lucrativo para uma empreza que tenha a mina por praso limitado, não deve ser permittido pelo governo que íaz a concessão das minas por tempo illimitado^ impondo a clausula de ser a lavra executada segundo os preceitos da arte, e de modo que não se impossibilite o ulterior aproveitamento da massa restante. O segundo methodo, e o mais conforme com os preceitos da arte, seria descer logo com os trabalhos á maior profundidade possivel, estabelecer ahi um vasto campo de lavra, proceder á extracção de toda a massa do minério enchendo os vasios com entulho, e continuar do mesmo modo de baixo para cima em tantos andares quantos fossem necessários segundo a profundidade a que se tivesse descido. O terceiro, que é por assim dizer um meio termo entre estes dois methodos extremos, consiste em estabelecer dois campos de lavra, uni superficial com reserva de pilares ao nivel dos antigos trabalhos, outro profundo na massa intacta em que se faça a extracção total do minério, procedendo de baixo para cima, e. enchendo os vasios com entulhos. E este methodo mixto que o auctor do relatorio propoe; é este mesmo methodo que se acha indicado no ultimo plano para a lavra da mina de S. Domingos, apresentado pelo engenheiro Mason; é este também o methodo que ao con¬selho de minas parece mais rasoavel, e por isso o propõe com as restricções seguintes:
1. ° Que no campo dos trabalhos actuaes, em que a lavra se faz cora reserva de pilares na massa atacada pelos antigos trabalhos, se estabeleça que estes trabalhos não possam descer alem do nivel de 12m abaixo do solo da galeria de esgoto marcado no poço n.° 1;
2. ° Que os pilares reservados tenham sufficiente espessura. e sejam dispostos do modo mais regular que permitir em. os trabalhos anieriormente executados;
3. ® Que não seja permittido nenhum despilamento n’este campo senão quando a lavra regular ahi chegar vindo de baixo para cima;
4. ° Que se proceda com a maior actividade possível ao esgoto dos antigos trabalhos, se desça também com a possível brevidade á profundidade de 50m pelo menos abaixo da galeria antiga de esgoto, e se prepare ahi o campo da lavra regular, e vasta para a extracçào total do minério, enchendo os vasios com entulhos;
5. ° Que Testas restricções se faça comnunicação official ao inspector do respectivo districto recommendando-Ihe uma instante vigilância pela sua fiel execução. Comtudo Vossa Magestade ordenará o que tiver por mais justo; Sala das sessões do conselho de minas, em 4 de dezembro de 1860. = João Chrysostomo de Abreu e Sousa=Izidoro Emilio Baptista=João Maria Leitão = Francisco Antonio Pereira da Costa=José Victorino Damasio.— João Ferreira Braga=Carlos Ribeiro., secretario. Está conforme.— Repartição de minas, em 21 de maio de l861.=J.?zímwo José de Sousa Azevedo. Relatorio a que se refere a porta ria su pra SITUAÇÃO DA MINA A mina de S. Domingos, situada no concelho de Mertola, districto de Beja, dista apenas 3 kilometros da ribeira Chança, que separa Portugal de Hespanha, e 18 da sua confluência com o Guadiana, a jusante, mas mui proximo do porto do Pomarão, a uns 50 kilometros de Villa Real e 18 por baixo de Mertola. Este novo e excellente embarcadouro é devido aos esforços do director da mina por evitar um grande inconveniente para os embarques, que teriam que ser feitos na margem direita do Guadiana; porque antes os navios de grande porte não ousavam passar a embocadura da Chança, por baixo da qual a margem esquerda do rio pertence a Hespanha. DEMARCAÇÃO O campo da concessão fórma um hexágono prolongado, cujo eixo maior, seguindo proximamente a direcção do ja ¬ zigo, tem uns l:000m de comprimento, e o menor uns 550. A superfície foi avaliada ofíicialmente em 339:000ra2, cerca de 40 hectares. DISPOSIÇÃO DO JAZIGO Dentro d’esta ar;ea estão comprehendidos os affioramentos do jazigo, cuja parte principal se acha encerrada em um monte conhecido pelo nome de Serra de S. Domingos, que se eleva de 40 a 50‘” sobre o nivel do valle do Pego da Sarna, ao poente, onde vae desembocar a galeria antiga de desagúe. Os affloramentos, segundo o sr. Carlos Ribeiro que estudou ininuciosamente a parte geognóstica do jazigo, estendem-se em direcção a uns l:100m. N’esta linha estão reconhecidas duas massas: a do Pego da Sarna ao poente, que apresenta uma extensão de 60m sobre 30, e a do Curral do Concelho a levante, que tem mais de 600 m de comprimento com uma largura que, aumentando desde o minimum formado pelo estreitamento de levante junto ao poço n.° 6 até ao maximum de 130ra no poço Hueco para diminuir depois a poente, pode fixar-se como meio termo em 90m. Ao sul d’esta linha, na altura do Curral do Concelho, observam-se na encosta mais suave da Serra, que descáe para o valle de Càbo-C Jaes, outras massas secundarias que podem ser consideradas como pertencentes ao mesmo jazigo, fazendo abstração do schisto interposto que as isola na parte superior. Estas massas lateraes têem sido observadas cm outras minas, como cm Rio Tinto, e Agordo na Alta Venecia. N’esta ultima mina uma parte das excavações estão destinadas a reconhecer estes ramaes destacados. IMPORTÂNCIA DO JAZIGO Limitando-nos porém á parte mais conhecida do jazigo de S. Domingos, á grande massa do Curral do Concelho, onde se acham estabelecidos os trabalhos actuaes no meio dos antigos, achamos Telia um campo de lavra tão vasto que o seu producto pode exceder por si só os dos celebres districtos reunidos do Hartz e da Saxonia. Não é possível, no estado incipiente dos trabalhos, calcular com exactidão, nem mesmo approximadamente, o valor do jazigo de S. Domingos. Para avaliar com rigor o jazigo seria necessário conhecer os seus limites em todos os sentidos, e a lei media do minério. Esses algarismos, obra de alguns segundos para a palavra, resumem o trabalho de muitos séculos, e ainda mesmo que o jazigo concluísse a algumas centenas de metros de profundidade, sempre ficarão envoltos para nós nas trevas do futuro, e nas névoas do passado para os nossos vindouros. Porém, se não nos é dado por agora attingir, nem mesmo approximadamente, a um rigor absoluto, o. que seria talvez uma. vã curiosidade, seja-nos licito ao menos apresentar algumas observações que nos dêem uma certa idéa, se não uma idéa certa, do. valor d esta mina. Esse conhecimento bastará talvez para as nossas necessidades, ainda que não satisfaça completamente os nossos desejos;
X VOLUME DA MASSA MINERAL
Os differentes engenheiros que têem examinado a mina de S. Domingos, inteiramente accordes em quanto á sua grande importância, só difíerem, como era de esperar, no grau da apreciação. O sr. Carlos Ribeiro calcula a secção da massa principal em 600m sobre 60m, isto é, em 36:000m2. O sr. Braga, adoptando o mesmo comprimento, attribue á massa uma possança dc 100m, o que dá uma superfície de 60:000m2. Osr. Masson, director da mina, avalia cada metro de profundidade em 125:000 toneladas de 78 arrobas (1146kil), c como elle só concede á massa um peso especifico de 4:430, resulta que a secção calculada por este engenheiro vem a ser de 32:333mq, ou sobre 500m em direcção, uma possança media de 64’” a 65m. Medindo na planta da superfície, feita pelo director da mina na escala de 4/ioot)» sóft>ente a Parte da área comprehendida pelas linhas consideradas como limites da massa do Curral do Concelho, entre os dois poços n.° 1 e n.° 6, distantes um do outro 500m, achamos 45:000 a 46:000m2, d’onde resulta uma largura media de 90m a 92‘”. Mas considerando que a possança póde diminuir em profundidade, como em Agordo e no Rammelsberg, ainda que também seja possível o seu augmento, como em Rio Tinto, suppondo o accidente menos feliz, adoptaremos para os nossos cálculos uma possança de 60m sobre 500m de comnrido, o que na profundidade de 100a dá um volume de 3.000:000nic. Apresentamos este numero unicamente como um minimum, que servirá de base aos nossos cálculos para apreciar a importância da mina de S. Domingos. PESO ESPECIFICO DA MASSA MINERAL O peso especifico de uma pyrite de ferro intimamente ligada com 15 por cento de pyrite de cobre pode variar entre 4:553 e 4:96,5. O meio termo é 4:759. Nas setenta e sete observações feitas pelos engenheiros Anciola e Cossio sobre exemplares de Rio Tinto, tomados em sitios differentes e com diversa lei de cobre-, o maximum foi de 5:069, o minimum 4:458, e o meio termo geral 4:803. Mas, como a massa mineral está atravessada por uma infinidade de fendas, e em muitos sitios alterada, especialmente nos pontos mais permeáveis, e sobretudo nas excavações expostas ao ar, o peso especifico da massa deve ser inferior ao dos fragmentos. Por este motivo adotamos para os nossos cálculos um peso especifico de 4,50. PESO DA MASSA CONSIDERADA A tonelada ordinária ingleza é de 20qq inglezes, que equivalem a. 1016kil, porém a tonelada admittida pelos fundidores é de 21qq ou l:067kil. A humidade e as perdas de minério por dispersão podem subir quando muito a 5 ou 6 por cento, de modo que a tonelada vendível será de 1125kil. N’este caso l mc produz folgadamente 4 toneladas, e os 3.000:000rac 12.000:000 toneladas. MINÉRIO — PYRITES DE FERRO E COBRE A massa mineral é composta essencialmente de pyrites de ferro e de cobre, em geral tão intimamente unidas que a preparação mechanica para separar o mineral util da ganga ferruginosa torna-se impossível, excepto nos casos em que a pyrite de ferro se apresenta isolada. Alem Testas especies mineraes encontram-se outras, que raras vezes abundam até ao ponto de adquirirem alguma importância industrial.
GALENA E BLENDA
Em todos os jazigos similhantes, pertencentes á grande formação cuprifera de Huelva e Alemtejo, se tem encontrado a galena, não tanto nas massas principaes como nas lateraes menos importantes. Nas immediações de Rio Tinto e da Puebla de Guzman as escorias accumuladas ha séculos attestam que o minério de chumbo foi objeto em parte das operações metallurgicas dos antigos. A massa explorada em S. João do Deserto, junto de Aljustrel, que seguramente não é a principal d’aquelle jazigo, mostrou-se muito plumbifera emquanto durou a exploração agora abandonada. No jazigo do Rammelsberg a galena mais ou menos esparsida em toda a massa concentra-se principal mente no ramal do pendente que acaba em cunha a menor profundidade que a massa principal. Como a proporção do mineral de chumbo é de dois terços com um terço de minério de cobre, esta mistura complica extraordinariamente os processos de fundição, tornando-os custosos, sendo muito difficil obter um cobre de mediana qualidade. METAES PRECIOSOS Emquanto á prata e ao oiro contidos Testes jazigos, é questão que tem sido pouco estudada até agora, opinando uns que estes metaes preciosos podem ser extrahidos com vantagem, outros-que não. Os ensaios que revelam a sua existência referem-se aos resíduos das fundições antigas. Como o minério de chumbo fundido devia estar intimamente misturado com o de cobre, não admira que este metal ali encontrado seja argentifero e mesmo aurífero assim corno o chumbo. Quanto ao cobre obtido modernamente de minério isento de galena não se tem mostrado argentifero. — No Rammelsberg a blenda, companheira inseparável da galena, é considerada, como a origem da infiraa porção de oiro que se concentra na prata obtida do chumbo e do cobre d’aquelle jazigo. Em Agordo a prata apenas acompanha em proporção insignificante a galena que accidentalmente apparece naquella mina. Nas immediações do grande jazigo Tharsis vimos em 1846 alguns trabalhos de exploração em que a galena abundava mais que a pyrite de cobre, entretanto a massa principal apenas contém a galena como uma raridade. É pois mais que provável que os metaes preciosos encontrados no cobre das escorias antigas provenham da galena e da blenda, e neste caso é preferível que o minério de S. Domingos não seja aurífero nem argentifero.
ARSÉNICO E ANTIMONIO Estes metaes encontram-se constantemente Testas massas, chegando a sua proporção algumas vezes em Agordo a 2 */2 por cento, e sempre exercem uma influencia perniciosa, alterando a boa qualidade dos productos.
COBALTO, NICKEL, ESTANHO, ETC.
Apenas citaremos estes metaes, cuja proporção homoeopathica so e apreciável quando se acham concentrados nos productos.
QUARTZO
Entre as gangas terrosas só merece particular menção 0 quartzo. As analyses accusam 4 a 5 por cento em Rio Tinto e Agordo, e 1 a 2 no Rammelsberg. Em S. Domingos esta ganga não existe em quantidade sensível. A massa de Fahlum que tão pouco se assemelha ás do Rammelsberg, Agordo e S. Domingos, a não ser no teor do minério, contém 0 quartzo em quantidade sufficiente para escorificar 0 ferro. Esta vantagem é compensada nos da zona metallifera de Huelva e Alemtejo pelo enxofre, que se póde aproveitar como combustível na ustulação, e em parte como producto commercial. COBRE EM IRLANDA A proporção do metal util Testas enormes massas pyritosaá é sempre insignificante como quantidade. Os jazigos de Wicklow em Irlanda contêem tão pouco cobre que a sua lavra é devida quasi exclusivamente ao valor do enxofre, e á proximidade de Liverpool, grande ponto de consuramo para as pyrites empregadas directamente na fabricação do acido sulfurico. Alem d’esta vantagem é necessário ter em muita conta a bella organisação dos transportes, sem a qual as minas irlandezas perderiam a maior parte da sua importância. EM AGORDO Em Agordo onde ha tanto tempo existe uma lavra regular, e onde 0 minério é tratado por um processo metalíurgico mixto mui economico Taquella localidade, executam-se sobre 0 minério á medida que se extrahe da mina numerosos ensaios, cujos resultados comparados com os do tratamento em grande têem permittido chegar a uma apreciação exacta, assim do teor verdadeiro do cobre, como das perdas inevitáveis da extraeção metallurgica. Distinguem-se ali as seguintes classes: 1. a Malton (pyrite de ferro sem cobre que se não póde aproveitar). 2. a Povera (teor inferior a 1,5 por cento). 3. a Buona (1,5 a 4 por cento). 4. a Ottima (4 a 8 por cento e raríssimas vezes 20 a 25 por cento). O meio termo e a proporção são os seguintes: Teor Proporção Ottima.................... 6,053 % 0,0222 Buona................... 2,4616 0,4616 P o v era ................. 0,6334 0,5163 D’estes numeros resulta para a totalidade do minério um teor medio geral de 1,5971, do qual se obtem por meio da cimentação e fundição reunidas 1,4819, vindo a perder-se 0,1152, isto é 7,214 por cento do teor. A lavra limita-se á extraeção annual de 15:000 a 16:000 toneladas métricas. A classe plumbifera é puramente accidental. Quanto ao minério desaggregado, que ali chamam SM ichs, e que se extrahe da parte superior do jazigo, fórma uma categoria á parte que segundo a sua qualidade se reparte pelas tres classes principaes. EM RIO TINTO Em Rio Tinto, mina pertencente ao governo hespanhol, estão muito longe de haver obtido os resultados docimasticos e metallurgicos de Agordo. Os numerosos engenheiros que têem escripto sobre aquelle jazigo de primeira ordem attribuem ao minério um teor de 4 a 5 por cento. Os engenheiros Anciola e Cossio, commissionados pelo governo para estudar a questão economica daquella mina, são os que apresentam os dados menos incompletos. De 98 ensaios praticados, que oscilaram entre 0,3 e 14,8 por cento, obtiveram um meio termo de 4,444 por cento. Porém como os citados engenheiros dividem 0 jazigo do Rio Tinto em zonas de differentes tamanhos mais ou menos cupriferas, calculando 0 volume d’ellas e attribuindo a cada uma um teor typo, 0 meio termo a que chegaram em ultimo resultado é superior ao que resulta dos ensaios, porque inversamente do que succede em Agordo as classes mais ricas são, segundo aquelles engenheiros, mais abundantes em Rio Tinto. Eis em resumo 0 seu resultado:
Teor Proporção 1. a classe............. 7,232% 0,547 2. a classe............. 2,184 0,304 3. a classe............. 1,090 0,148 O meio termo d’estes numeros é 4,785. A proporção de cobre em Rio Tinto tem chegado algumas vezes a 30 por cento, mas este teor é tão raro que a sua influencia não póde ser sensivel no teor medio.
A MASSA MINERAL NÃO É HOMOGENEA
Os resultados docimasticos obtidos em Rio Tinto e em Agordo, assim como em outros jazigos, provam que Testas massas o minério de cobre, qualquer que seja a sua especie (cobre gris, pyrites, sulfuretos simples, oxydos), não está repartido igualmente pela pyrite de ferro, e que algumas vezes falta por completo, como no matton de Agordo, que se encontra igualmente nos outros jazigos. Esta circumstancia póde ser "importante para a extraeção do cobre, permittindo classificar um minério que não é possível enriquecer por meio da preparação mechanica, e submettendo as differentes classes segundo a sua riqueza a tratamentos metallurgicos diversos.
MINÉRIO DE S. DOMINGOS
N’esta mina ainda não estão estabelecidos systematicamente (como acontecerá mais tarde) os ensaios docimasticos, que são absolutamente necessários n’uma lavra bem entendida. O minério actualmente é enviado a Inglaterra, sem ser classificado, para ser vendido ás fundições de cobre depois que nas fabricas de acido sulfurico foi extrahido em parte o enxofre. Esta ustulação faz perder ao minério 25 a 30 por cento em peso, o que o torna mais rico na rasão directa d’esta perda. Os ensaios são praticados pelos fundidores, e algumas vezes pelos mineiros, porém empregando um método de ensaio em que se perde mais cobre que na fundição em grande. A apparencia do minério de S. Domingos indica uma lei superior a 4 por cento, porque apresenta no exterior o negro azulado de que estão revestidas as innumeraveis fendas da massa, e no interior uma textura compacta e um aspecto escuro, signaes considerados como indícios de ura teor elevado. Porém um tal minério’ nos ensaios inglezes apenas accusará 3 por cento, e será este o teor que adoptaremos para os nossos cálculos, mas sem perder de vista o teor verdadeiro que suppomos em meio termo de 4*/8 por cento.
CLASSIFICAÇÃO HYPOTHETICA DO MINÉRIO DE S. DOMINGOS
É mais que provável que o jazigo de S. Domingos apresenta na sua massa as variações da riqueza que se observam nos jazigos analogos. A’ falta de bases em que fundar uma classificação admittiremos uma sem embargo, por ser absolutamente necessária para o estudo comparativo dos differentes methodos que podem adoptar-se para tirar o melhor partido possível do minério d’esta mina. Em 100:000 ton. min. 1. a Classe 6% proporção 0,20 20:000 min. 1:200 cobre 2. * » 3 ' » 0,40 40:000 » 1:200 » 3. a » l 1/, » 0,40 40:000 » 600 » Media geral 3% » 1,00 100:000 » 3:000 » Id .d a l.ae2.a4% 60:000 » 2:400 » Id. 2.ae3.a2‘/4 80:000 » 1:800 »
ESTADO ACTUAL DOS TRABALHOS EM S. DOMINGOS
Os trabalhos n’esta mina têem-se limitado até agora á parte superior das escavações antigas, cujo limite inferior só poderá ser conhecido depois de estabelecida a nova machina de esgoto que se acha quasi em estado dc poder funccionar. Com os meios actuaes (bombas movidas por homens) a despeza é enorme e o nivcl das aguas baixa tão lentamente que só se tem podido penetrar uns 8“ por baixo da galeria de desagúe, achando-se descoberta a massa pyritosa apenas em 10 a 12“ de profundidade.
ARRANQUES
Os arranques têem consistido em atacar os massiços deixados pelos antigos, e em baixar o solo de maneira que fiquem as escavações mais espaçosas e com os pilares sufficientes para a segurança da mina. Apesar da prudência com que são dirigidos e executados estes trabalhos, offerecem sem embargo algum perigo pela ignorância em que se está sobre a posição e extensão das escavações inferiores. Os antigos, cujo fim era evidentemente arrancar o minério mais rico, buscavam-no por meio de poços numerosos e galerias tortuosas; e logo que o encontravam, fiados na solidez da massa mineral, praticavam escavações immensas que em Fahlum chegavam até 100“ de altura. D’aqui provém os desmoronamentos que se notam na parte superior dos ja ¬ zigos lavrados antigamente. Em Rio Tinto as escavações antigas, menos expostas á acção destructiva que exerce sobre as pyrites o ar húmido e quente, têem-se conservado melhor que as modernas sujeitas á decomposição pelo augmento da temperatura que as luzes e os operários produzem, sobretudo quando é lenta a ventilação. E de esperar que as escavações de S. Domingos, entupidas e alagadas por baixo do nivel da galeria de desagúe, se tenham conservado, ainda melhor que as de Rio Tinto, permeáveis ao ar. Entretanto seria exposto dar a estes trabalhos desde já as grandes dimensões que a massa intacta permitte.
TRABALHOS PREPARATÓRIOS
A medida que marcham estes arranques necessariamente irregulares, até poder encontrar o terreno virgem, os trabalhos preparatórios que devem servir mais tarde para multiplicar os pontos de ataque e facilitar a ventilação, extraeção e esgoto, avançam com toda a rapidez que admitte o nivel das aguas. „ POÇOS Acham-se habilitados dezoito poços, dos quaes só dois de menos de 30“ não chegavam ainda ao nivel da massa pyritosa. Os mais, ou já penetraram n’ella, ou se acham por baixo do seu nivel, ainda que em esteril por estarem collocados principalmente na sallanda sul. GALERIAS Por outro lado marcha também para poente a galeria longitudinal que deve unir os poços da linha do meio, que segue proximamente o eixo do jazigo, e da qual partirão travessas que a porão em communicação com as linhas lateraes, especialmente com as do sul, onde se contam sete poços entre os dois extremos n.° 1 e n.° 6.
CENTRO DOS TRABALHOS
Os trabalhos mais activos acham-se actualmente concentrados na parte de levante para baixo da depressão conhecida pelo nome de Curral do Concelho, e circumscriptos n’uma area de 5:000 a 6:000“2, isto é, n’um oitavo proximamente da secção que consideramos disponível na massa principal. Ainda que ali Jia oito poços, comtudo só se acham em communicação os seis mais centraes, que são também os que se acham a menor distancia uns dos outros. Este grupo de escavações está separado do poço n.° 1 por uma distancia de 300“ a contar da galeria longitudinal (S. Bernardo) que avança para poente na linha do meio, e do poço n.° 6 por uns 80“ desde o extremo da galeria diagonal de Santo Agostinho que se dirige a NE.
PRODUCÇÃO NORMAL
Como os poços não distam igualmente uns dos outros, não é possível preparar ao mesmo tempo os massiços de arranque em toda a secção considerada, empregando a possível actividade em todos os pontos. D’este modo os arranques estarão muito desenvolvidos no Curral do Concelho, muito antes -de estarem concluidos os trabalhos preparatórios de poente. Suppondo' empregados constantemente n’esta mina 400 brocadores, distribuídos em galerias e arranques, a producção annual póde elevar-se a 100:000‘toneladas de 1:125kil, e isto muito folgadamente, porque n’uma secção de 30:000“2 vem a tocar 75“2 a cada brocador, ainda que os trabalhos se façam simultaneamente num só andar, o que sem duvida não acontecerá. Esta producção corresponde a 25:000“2 de excavação, admittindo para cada metro cubico quatro toneladas.
PROFUNDIDADE PROVÁVEL DOS TRABALHOS ANTIGOS
Se não é possivel por ora conhecer-se com certeza a extensão dos trabalhos antigos, póde-se admittir como provável que devem ter avançado muito pouco no sentido vertical debaixo da galeria de desagúe. Ainda que os antigos só aproveitavam os pontos mais ricos, e podiam deixar intacta a parte superior em quanto exploravam e lavravam os niveis inferiores, é evidente que os seus escassos meios de esgoto deviam refrear a sua cobiça, limitando muito as investigações em profundidade: 25“ por baixo do desagúe natural parece-nos já uma profundidade exagerada: entretanto supporemos que os nossos antepassados chegaram a reconhecer a massa pyritosa até 40“ verticaes. Esta altura multiplicada por 30:000“ 2 dá-nos 1.200:000“°, que correspondem a 4.800:000 toneladas.
EXTENSÃO ATTRIBUIDA AOS TRABALHOS ANTIGOS
Quanto á extensão dos trabalhos antigos dentro d'estes limites de profundidade, seremos ainda obrigados a avaliada fundados na base das conjecturas. A riqueza que tentava a cobiça dos conquistadores acha-se concentrada n’aquellas -extensas massas em pontos tão raros como as oásis no meio do deserto; de modo que o que para nós é um terreno productivo era para elles um campo esteril que convinha atravessar rapidamente. Assim é que em Rio Tinto, onde os trabalhos antigos tinham um desagúe natural, e onde por consequência as suas explorações não eram incommodadas pelo verme roedor do esgoto artificial, os vasios deixados pelos antigos apenas chegariam a um centesimo da massa atacada. Era S. Domingos pelo contrario, onde era necessário dedicar um braço ao arranque, outro ao esgoto, a proporção de um centesimo parece exorbitante. Entretanto, fieis ao nosso systema de pessimismo, que julgamos o mais prudente nas regiões subterrâneas, admittiremos que as escavações antigas de S. Domingos attingiram uma proporção dupla da de Rio Tinto, isto é 24:000“2, e que a massa mineral, até á profundidade de 40“ , fica reduzida a um volume de 1.176:000“°, que devem produzir 4.704:000 toneladas de rl:125kil, cuja extraeção limitada a 100:000 toneladas annuaes deve durar 47 annos.
PRODUCÇÃO DA MINA EM 119 ANNOS DE LAVRA
O resto da massa, até 100“ de profundidade, contém 7.200:000 toneladas, que correspondem a 72 annos de lavra, o que dá um total de 11.904:000 toneladas extrahidas em 119 annos. Estes algarismos que, segundo as observações anteriores, devem ser um tninimum, parecem-nos mais que sufficientes para tentar a cobiça de uma companhia poderosa.
ENTULHO DAS EXCAVAÇÕES
Para poder arrancar toda a massa utilisavel é necessário substitui-la por entulhos á medida que os arranques avançam de baixo para cima. O systema de lavra seguido até agora em Rio Tinto evitava este gasto, aproveitando unicamente 40 por cento da massa, e deixando os 60 por cento em pilares e solhos. Em Agordo e no Rammelsberg ha muito tempo que foi abandonado este methodo pelo dos entulhos, mas conforme com as regras da arte. Entretanto, quando o systema de lavra por galerias e pilares é bem executado, os 60 por cento dos pilares e solhos não ficam perdidos, porque depois de ter seguido até certa profundidade este systema, marchando de cima para baixo, póde depois adoptar-se a marcha inversa. Este systema mixto é o que nos parece mais economico numa mina onde as aguas são muito abundantes, e o que terá de ser seguido em S. Domingos para aproveitar os massiços deixados pelos antigos. Suppondo uma exeavação annual de 25.:0Q0“2 na massa pyritosa, necessita-se para os entulhos outra exeavação em esteril das duas terças partes d’este volume, isto é 17:000“2. Esta ultima póde ser feita, como em Agordo, por meio de galerias que penetrem desde o interior da mina no terreno continente, e que a certa distancia se ramifiquem concluindo em camaras formadas por desmoronamento. Este systema é o mais barato, porque os gastos de excavação quasi que ficam reduzidos a praticar uma galeria em terreno facil e a conserva-la em estado viável. O desabamento depois é espontâneo, ou facil de provocar. Suppondo que 1“° escavado, transportado, e bem collocado, chegue a custar 300 róis, o que é excessivo, temos um gasto annual de uns 5:100$000 réis, repartidos por 100:000 toneladas. Sáe o entulho por tonelada de minério a 51 réis. EXTRACÇÃO A extração faz-se actualmente por meio de sarilhos de mão a uma profundidade média de 33 a 43“ . E evidente que este estado de cousas não pode ser senão temporário. Junto aos poços n.° 4 e n.° 5 já principiaram a construir dois malacates ou sarilhos de bestas. O effeito util d’esta machina movida por quatro mulas boas trabalhando doze horas pode chegar nas vinte e quatro de 6 a 8.000:000 Portanto cada malacate pode elevar por dia de uma profundidade de 75“ umas 83 toneladas de 1:125kil, e por anno, trabalhando trezentos dias, umas 25:000 toneladas. D’onde resulta que quatro malacates seriam em rigor sufficientes para extração a 75“ de profundidade. Este numero pode reduzir-se a tres adoptando turnos de oito horas em vez de doze. Um malacate de doze mulas pode custar por dia, incluindo todos os gastos de pessoas e material de extração, 12$000 réis. A tonelada virá a custar 130 réis, e menos contando trezentos dias. Este gasto é exagerado para a parte superior onde suppomos que existem os trabalhos antigos, e cuja profundidade média de extração não passa de 55“ . A extração n’este caso custaria 95 reis por tonelada. A profundidade média de extraeção para toda a massa, até 100“ de profundidade, não passa de 90“ . A esta profundidade o trabalho util da extração de 100:000 toneladas de 1:125kil eleva-se a 10.125:000 dynamodos, ou ao dobro do trabalho nominal que exige o consummo de umas 500 toneladas de hulha, que podem custar na mina depois de construído o tramway a 5$000 réis uns 2:500$000' réis. Sáe o gasto de hulha por tonelada a 25 réis. O gasto total por tonelada não passará de 60 réis, comprehendendo todos os gastos de material e pessoal. CARRETEIO INTERIOR Este serviço será feito por vias ferreas desde os pontos de arranque. A distancia media aos poços de extração ê de uns 300“ . Reduzindo o effeito util a 3 toneladas transportadas a um kilometro, temos 10 toneladas transportadas ao poço por dia de trabalho. Custa a tonelada comprehendendo o material e pessoal 40 réis. ESGOTO O esgoto é feito actualmente (julho de 1860) no poço n.° 1 por meio de duas bombas de duplo effeito. O corpa é de bronze e os tubos de gutta-percha para resistirem á acção das aguas vitriolicas. O diâmetro do embolo é de 152“ . Estas bombas empregam nas vinte e quatro horas 40 homens que se revesam muito a miudo, e que só vem a trabalhar quatro a cinco horas cada um por dia, ganhando a 440 réis por ser o trabalho muito violento. O nivel das aguas acha-se a uns 8 y2“ por baixo da galeria de desagúe, e desce, ainda que lentamente, com uma extração que se pode calcular em 400“° diários. Vem a custar o metro cubico de agua 44 réis, isto é, a igual profundidade, trinta e nove vezes mais que o meio termo das minas de Cornwall, onde se empregam machinas de vapor. Até chegar á parte inferior dos trabalhos antigos não será possivel formar uma idéa exacta da affluencia das aguas na região superior ao terreno virgem. A que se extrahe agora representa não só a affluencia correspondente ao nivel, e que varia com elle, mas também quando este desce uma parte da que se acha accumulada nos trabalhos antigos. Alem d’isso ha que observar as variações occasionadas pelas chuvas, que n’esta mina devem ser absorvidas rapidamente pela disposição dos affloramentos. A este mal porém póde-se obviar em parte dando facil escoo ás depressões da superfície. Em todo o caso a affluencia das aguas que em Rio Tinto nada custa, e que em Agordo não passa de 165“°, elevadas a 68“ em 24 horas, promette ser de alguma consideração em S. Domingos. A machina de esgoto movida por mulas deve começar a funccionar em breve, o que fará baixar o nivel mais rapidamente e com menos despeza. Ainda mesmo suppondo uma affluencia de 1:000“° a 50“ debaixo da galeria de desagúe, e um effeito util de 50 por cento na machina de vapor, bastam 15 a 16 cavallos vapor com um gasto de uma tonelada diaria de hulha, que a 5$000 réis occasiona um gasto annual de l:825$000 réis em combustível, o que, dividido por 100:000 toneladas, dá por tonelada 18 ijí réis. Os gastos de conservação, interesse, etc., são insignificantes, de modo que 30 réis por tonelada é já uma despeza exagerada. Custo da lavra por tonelada de l:125kil:
RESUMO DOS GASTOS
Arranque por tonelada de l:125kil............... 840 réis
Carreteio interior............................................ 40
Extraeção......................................................... 60
Esgoto............................................................. 30 »
Entulho........................................................... 50 »
Madeiras, entivações e diversos.................... 80 »
Administração................................................. 100 »
Interesses de capitaes.................................... 100 »
Total..........................................1$300 »

Apesar de estarmos persuadidos que ainda é possivel fazer economias sobre os gastos, admittiremos uma despeza total de 1 $500 réis por tonelada, e por anno de 150:000^000 réis. Os engenheiros Anciola e Cossio calculam o custo da lavra com interesses de capitaes em 990 réis (ton. de 1:125kl1). O engenheiro allemão Riecken que também escreveu uma memória sobre o mesmo assumpto só admittiu 930 réis.
INVESTIGAÇÕES SOBRE O SYSTEMA QUE SE DEVE SEGUIR PARA OBTER O MÁXIMO PRODUCTO LIQUIDO DA MINA DE S. DOMINGOS.
São numerosas as combinações que se offerecem á imaginação para alcançar este resultado; porém é necessário analysa-las e compara-las entre si pausadamente para descobrir a que em realidade apresenta maiores vantagens. As que examinámos mais minuciosamente são as seguintes ; A—Venda de todo o minério em Inglaterra. B—Fundição de todo o minério cm Portugal segundo o processo de Galles até obter cobre refinado. C—Fundição de todo o minério em fornos altos segundo o systema de Agordo (parcialmente) até obter cobre refinado. D—Fundição do minério de l . a classe e dos núcleos de ustulação- do minério de 2.a o 3.a classe súbmettido a ustulação. Cementação das terras. E__Venda do minério de l . a classe em Inglaterra e cementação em Portugal de 2.a e 3.a classe. f __Cementação de todo o minério em Portugal. 1. ° Empregando ferro fundido ordinário. 2. ° Empregando ferro cuprifero obtido do mesmo minério em Portugal. Porém antes de entrar no exame de cada um d’estes systemas, será necessário dizer duas palavras sobre transportes •e combustíveis, porque é sobretudo da organisação dos primeiros e do consummo dos segundos que depende o producto liquido.
TRANSPORTES POR TERRA— CAMINHO DA CARGA ESTRADA DE CARROS
Ainda ha pouco o transporte, feito por bestas de carga •entre a mina e o porto do Pomarão, custava a 50 réis a arroba, ou por tonelada de l:125kiI (76,5 arrobas) 30825 réis, o equivale a 212-213 réis por tonuelada kilometrica. Depois de concluida a estrada para carros, a concurrencia destes vehiculos fez descer o preço a 40 réis por arroba, 30060 réis por tonelada cm todo o caminho, e 170 réis poi\ tonelada kilometrica. É claro que um tal systema só póde ser adoptado provisoriamente para uma mina que se acha nas circuinstancias da de S. Domingos, sobretudo estando baseado o negocio sobre a venda do minério em Inglaterra.
TRAMWAY
O tramway da mina ao Pomarão terá um desenvolvimento de 17 a 18kil, com uma inclinação favoravel aos transportes da mina ao porto. Como o custo do transporte depende de uma quantia fixa que se deve dividir pelo numero de toneladas, e de uma quantidade proporcional a este numero, é clara que para o fixar é preciso conhecer a totalidade das toneladas importadas e exportadas, porque o custo de tração na tonelada importada é maior pela inclinação do terreno. O gasto annual fixo, incluindo juros, amortisação e conservação, póde calcular-se em 15:000^000 réis. Quanto aos gastos de tração suppômos o effeito util de uma mula, 10 toneladas transportadas ao Pomarão, e voltando com os wagons vasios, de modo que para as importações haveria um transporte especial para subir o excesso dos wagons. , O effeito util na importação é supposto de 2 toneladas somente, isto é, o 5.° do effeito util na exportação. Cada •dia de trabalho de uma mula, comprehendendo pessoal e material, custa 700 réis.
FRETES POR MAR
Com vapores de helice destinados exclusivamente aos transportes da mina e sem retorno, a tonelada póde custar 16,5 sh. = 30712 réis. Havendo importação aquelle preço desce á medida que esta augmenta attingindo o TnímwwíTO quando o retorno é completo.
GASTOS DE VENDA
Aos fretes ha que juntar os gastos de carga e descarga, direitos de porto, commissões, seguros, e descontos etc., cujo conjunto varia sobretudo cora o valor da tonelada. Para o minério de 3 por cento estes gastos não passam de 10350 réis.
FRETES PELO RIO
Estes transportes serão feitos pelos vapores a reboque. Limitam-se ao gasto de conservação das barças e a uma pequena quantia para carga e descarga, dada como gratificação. Julgámos que não passará de 100 réis por tonelada nos 50 kilometros entre o Pomarão e Villa Ileal. combustíveis O combustivel vegetal de que se poderia dispor na mina de S. Domingos é tão escasso que nos vemos obrigados a considera-lo como r.ullo nos nossos cálculos. Para o futuro, se a sementeira dos pinhaes der bom resultado, poderá a mina realisar grandes economias, assim no combustivel como nas madeiras de entibação. Mas tendo mostrado a experiencia quão destructora é a acção dos gazes provenientes da ustulação das pyrites sobre a vegetação, é provável que, introduzindo o processo de via húmida, não deixa vingar os pinhaes semeados naturalmente nas proximidades da mina para evitar os gastos de transporte. HULHA A hulha póde obter-se facilmente nos portos de Galles a 8 sh.; suppondo o transporte máximo de 16 x/2 sh., e 2 sh. para carga, descarga, etc., teríamos o preço da hulha no Pomarão eVilla Real a 60000 réis. Custo....................................................... 10800) F re te ....................................................... 30712 60000 réis. Direitos, carga e descarga................... 0488) ANTHRACITE A boa anthracite póde custar a 10 sh., o que com os demais gastos faz subir o preço da tonelada a uns 60500 réis. C PreÇ° máximo será 70000 réis, suppondo que custa a 12ya sh. CORE O coke obtido de hulhas miúdas sáe mui barato nas minas, porém o seu peso especifico muito inferior ao da hulha torna o transporte mais caro era igualdade de peso. Alem d isso a sua fragilidade produz grande quebra. Compra............................... 12 sh. 20700) Frete................................... 20 » 40500 80500 réis. Quebra, carga e descarga.. 10300)
FERRO COADO O preço do ferro coado poderá baixar quando muito em Inglaterra / o ,. a 51k h .......................... ........... 1 W 5 ;i^ 0 0 0 re :Spor Direitos, carga e descarga.. . . . . . 20813 tonelada Frete máximo.................................. 20712] Ha que aggregar o transporte pelo tramway.
VALOR DO MINÉRIO DA MINA DR S. DOMINGOS ENXOFRE
Suppondo nulla a proporção do cobre no minério, a pyrite cie ferro por si só poderia produzir economicamente 22 a 27 por cento do enxofre que contém, isto é, a oitava parte do peso do minério. A pyrite pura contém 0,53 de enxofre. Os gastos de ustulação nos fornos inglezes com as camaras de condensação, a colheita e o refino do enxofre podem subir por tonelada de minério a 700 réis. Lavra de 8 toneladas de minério a 10500 réis. .. 120000 Ustulação, refino etc.................................................. 50600 Gastos de venda......................................................... 10800 Fretes e transporte ao Pomarão em tramway.......... 40200 Total......................... 230600 Valor de uma tonelada de enxofre, 6 libras.......... 270000 Producto liquido. . . . 30400
Podendo contar com um grande consummo de enxofre, e«te lucro ainda seria sufficiente para lavrar a mina. ACIDO SULFURICO Applicando as pyrites á fabricação do acido sulfurico junto á mina, o seu producto seria maior, porque se poderia aproveitar mais de metade do enxofre contido no minério.
CAPAROSA
Depois de extrahida uma parte do enxofre as pyrites abandonadas a si mesmas convertem-se em sulfato de ferro. Uma tonelada de pyrite poderia produzir 2y3 toneladas de caparosa verde com um gasto insignificante.
ACIDO SULFURICO DE NORDHAUSEN, OCRES ETC /
A caparosa é matéria prima para o acido sulphurico de Nordhausen, e para os ocres. Desgraçadamente a falta de consummo torna estes valores completamente imaginários quando se trata de uma grande producção, e teremos que limitar-nos ao valor do cobre, e a uma parte minima do enxofre.
COBRE
As aplicações e teste metal são tão vastas que não é de temer uma grande baixa no seu preço, porque o menor movimento n’este sentido provoca logo uma procura que o detem. Entretanto o desenvolvimento rápido que vae tomando a mineração do cobre no Lago Superior, e os progressos inevitáveis das minas da grande zona metallifera de Huelva e Alemtejo, devem necessariamente influir no preço d’este metal.
PRODUCÇÃO DO COBRE
A producção total do cobre computada por Leplay de 1837 a 1847 em 52:400 toneladas métricas, era, segundo Whitney, em 1854 de 57:811. A lavra das minas começada no Lago Superior em 1845, e que em 1853 só produzia 1:300 toneladas métricas, chegou a 6:200 em 1859. Os engenheiros Anciola e Cossio calculam que a mina de Rio Tinto pode produzir annualmente 21:500 toneladas de cobre. O engenheiro Riecken suppõe que a provincia de Huelva póde produzir facilmente 1.200:000 toneladas de minério; seria a 3 por cento um total de 36:000 toneladas de cobre annualmente.
Á vista d’isto não admira que dentro de alguns annos a producção do cobre augmente até ao dobro da producção actual, ainda que não é facil que as minas de Cornwall possam resistir á baixa que deve naturalmente resultar d’esse augmento de producção. Felizmente para a mina de S. Domingos, pelas circumstancias vantajosas em que se-acha, deve temer menos que nenhuma a depreciação do cobre, que só poderia affectar os seus lucros, mas nunca a sua existência. Quasi no mesmo caso se encontram a maior parte das minas de Huelva e do Alemtejo.
PREÇO MEDIO ADOPTADO PARA O COBRE
Ainda que o preço do cobre tenha sido muito superior a 100 libras por tôrieiada ingleza n’estes últimos dez annos, apesar do augmento da producção, adoptámos como preço medio 100 libras, fundados nas considerações que acabámos de expor. Este preço porém poderia soffrer uma baixa considerável sem comprometter se quer a prosperidade das nossas minas. (A) Venda de todo o minério em Inglaterra Este systema é seguramente o mais simples. Vejamos se é o melhor. ENXOFRE O valor do minério de S. Domingos depende do cobre e do enxofre que contém. O seu teor em enxofre é de 50 por cento, e nas fabricas de acido sulfurico podem aproveitar mais de metade d’este teor, isto é, mais de 25 por cento de minério; mas como o emprego das pyrites em vez do enxofre occasiona maiores gastos, considera-se que 4 toneladas de pyrite equivalem num a fabrica de acido sulfurico a 1 tonelada de enxofre. Entretanto o preço de 4 toneladas de pyrite não é igual ao de uma tonelada de enxofre, porque ha uma grande abundancia de pyrite no mercado. A producção de pyrites em Inglaterra passou de 101:000 toneladas, e em 1856 a Bélgica produziu mais de 19:000. Estas 120:000 toneladas podem produzir 90:000 toneladas de acido sulfurico. Segundo as noticias que temos, a tonelada de pyrite tem sido vendida nas fabricas inglezas por libra e meia e uma libra. Este ultimo preço é o que nos parece mais provável; mas julgamos que não será possível realisa-lo para todas as pyrites que se apresentam no mercado. Calculamos que só uma quinta parte das pyrites de S. Domingos poderá obter este preço para o enxofre, isto é, 20:000 toneladas.
COBRE
Quanto ao valor do cobre mineralisado, é necessário distinguir o teor verdadeiro do que resulta dos ensaios inglezes, em que, como já dissemos, a perda é menor que a da fundição. D’aqui resulta que os preços do minério pobre nas fabricas inglezas, comparados com os das tarifas de outras fabricas, parecem á primeira vista muito mais elevados do que em realidade são. A perda docimastica nos minérios ordinários de Cornwall, cujo teor é de 6 a 7 por cento, não baixa em geral de 20 por cento, chegando a attingir 30 e 40 por cento no minério de 3 e 4 por cento. Em minérios muito pobres para a fundição, mas que ainda podem ser tratados pela cimentação, a perda póde ser total. Quanto ao preço do cobre mineralisado em minério de 2 a 5 Yg (teor do ensaio), o meio termo é de uns 72 a 73 por cento do preço do cobre no mercado. D ’este modo o minério de S. Domingos, cujo teor real é de 4½ por cento, só contém para as fabricas inglezas 3 por cento, e só pode realisar na venda o seguinte preço, suppondo que o do enxofre no mercado é de 6 libras por tonelada e o do cobre 100 libras.
Cobre 0,03 X£ 1 0 0 x 0 ,7 3 = £ 2 ,1 9 ) Q ,. E n x o fre .............0,2 x / l = £ 0/20j £ 2’39 = 10^755 ré,s’ Gasto:
Para 100:000 toneladas
min. Lavra.........................................
Tramway..................................
Frete (maximum)...................
Gastos de vendas................... l$500 $220 3$712 l$350 150:000$000 22:000$000 371:200$000 130:000$000 .
Total gasto............... 6,$782 678:200$000
Producto da venda do minério................. 10$75õ 1.075:500$000
Producto liquido . .. 3$973 397:300$000 Este lucro tem que ser dividido pela companhia de lavra, pela empreza tramway, pelo estado, na proporção de 5 por cento, e na de por cento pelo proprietário da superfície. Suppondo para o tramway um lucro de 50 por cento teriamos a repartição seguinte:
Tramway...................................................... 11:0000000
Estado (386:3000000x0,0682) 6,82 por cento do producto collectavel.............. 26:3450660 Proprietário da superfície— metade......... 13:1720830 Mineiro............................................................ 346:7810510
T o ta l............................................. 397:3000000
O lucro do minério é de 51 a 52 por cento do gasto total, o que é um forte juro attendendo á promptidão do embolso e á segurança da empreza. (B) Fundição de todo o minério em Portugal pelo processo de Galles Um leve exame d’este processo basta para convencer-nos de que não póde ser applicavel em Portugal ainda mesmo admittindo ura consummo de combustivel igual ao das fabricas inglezas. Mas quando se considera que a variedade de minérios, que affluem para Swansea de tantos pontos do globo, permitte combinações que evitem a addição de matérias estereis para formar a escoria, e que pelo contrario esta addição torna-se necessária, e deve ser considerável no minerio simples de S. Domingos, é evidente que o consummo de combustivel n’este caso deve ser maior. Alem d’isso a escoria teria que ser basica, e a perda metallica da fundição mais sensível.
Resultados por tonelada de minério: Lavra .................'.................................................... 10500 Tramway com o lucro.......................................... 0330
Reboque no Guadiana............................................ 0100
Gastos especiaes..................................................... Idem geraes...........................................................

Juro do capital flutuante de 1.100:000$000 a 8. por cento........................................................ $880 Gastos da venda do c o b r e . .............................. $880 Total gasto............................................ 19$160 Producto da venda............................... 13$5OO Perda por tonelada............................... 5$660 e por 200:000— 566:000$000 réis. Este resultado, que poderia ser um lucro em minérios mais ricos, seria sempre inferior ao que se póde obter por outros meios. C—Fundição de todo o minério em fornos altos Escolhem-se os fornos altos como em Agordo ou Mansfeld, porque são os que produzem a maior economia do combustível. Assim mesmo em Agordo, cujo minério é o único que se póde considerar idêntico, porque os schistos de Mansfeld são já fusíveis sem addição e muito mais com fluorspatho, o consummo de combustível (carvão vegetal) sobe em sua totalidade a 0,'624 em peso de minério ustulado até obter cobre negro, sem contar o combustível (carvão e lenha) que consome a ustulação do minério e das mates. Ora, é sabido que o coke, unico combustível de que poderá dispor-se em S. Domingos, não produz o mesmo effeito que o carvão vegetal em igualdade de peso; ordinariamente considera-se que se necessitam 5 de coke para produzir o mesmo resultado que 4 de carvão vegetal. D onde resulta que o minério de S. Domingos exigirá um consummo de coke igual a 78 por cento do minério ustulado. Suppondo-o só de 70 por cento, os resultados serão os seguintes: O minério que só dá 3 por cento nos ensaios inglezes, mas que contém 4 4/2, produz n’esta fundição 3,7792 por cento. Uma parte da perda é devida á quebra que soffre o minério, outra á fundição. O balanço do tramway dá para o custo e lucro no transporte de uma tonelada 397á/2, sejam 400 réis. Resumo dos gastos Lavra............................................................. 1ÕO:OOO$OOO Fundição: Transporte ás eiras de ustulação........... 3:000$000 Ustulação.................................................. 16:400$000 Transporte do minério ustulado á fabrica ímargem do Guadiana)....................... 27:500$000 Coke 75:000X 0,7x8$õ00 ................... 446:250$000 Hulha 9:000x 6$000.............................. 54:000$000 Mão de obra a 400 réis o jornal........... 150:000$000 Fundente 1 0 :0 0 0 x 5 0 0 ......................... , 7:500$000 Gastos geraes 50 por cento dos especiaes 328:875$000 Afino do cobre 3:779,2 x C $ 3 5 5 ........... 24:01G$S16 Colheitas e venda do enxofre, 2:000 toneladas........................... ’..................... 22:256$000 Venda de cobre 3:779,2x29$250 . . . . 110:541$600 1.340:339$416 Economia nos fretes a de-| -459^390 duzir 5:779,2 x S $ 7 1 2 )..................... 1.313:887$026 Juros do capital fluctuantc do fundidor 8 por cento.......................................... G4:800$000 Gasto total...............l.'383:687$026 Productos: Enxofre 2:OOOx27$OQO ....................... 54:000$000 Cobre 3:779,2 x 4 5 0 $ 0 0 0 ....................... 1.700:640$000 Total, produtos . . . . 1.764:640$000 Producto liquido . . . '370:952$974 É evidente que com tal resultado nem o mineiro acharia fundidor, nem se resolveria a se-lo, ainda mesmo que o lucro excedesse o que produz só a venda do minério em Inglaterra. D — Fundição do minério de 1.“ classe e dos núcleos de ustulação CJ MESTAÇAO DAS TERRAS O teor do minério está distribuído do modo seguinte: Minério: De l . a classe 20:000 ton. a7 J/„ por cento-l:500 ton. cobre De 2.a classe 40:000 » a 4 ‘/; » 1:800 » » De 3.a classe 40:000 » a 3 » 1:200 » » 100:000 » a 4 i/0 4:500 Resultam da ustulação............................. 75:000 Fundição para cobre: l .a classe. .. 15:000 ton. a 10 por cento-l:500 Núcleos___ 10:000 » a 10 » 1:000 Minério ustulado......... 25:000 ton......................... 2:500 Fundição para • ferro .- N úcleos.... 6:600ton. a 8 porcento 528 Cimentação: Terras......... 43:400 » a 3,39 » 1:472 75:000 4:500 Balanço de transportes pelo tramway T oneladas Importação............................................................ 5:135 Exportação.............; ............................................ 36:871 Somma.............................................. 42:006 Differença........ '.............................. 31:736 Dobro da importação..................... 10:270 Preço do transporte por tonelada .. 453 réis
Balanço de fretes Toneladas Im portação........................................................... 30:019 Exportação............................................................. 5:779,2 Somma......................... .................... 36:698,2 Differença........................................ 25:138,8 Gasto total de fretes (coke a4$500 réis; o resto a 3$712 réis). Importação a 4$094 réis 126:591$328 réis (gasto verdaExportacão (supposto) a deiro) 2$712 r é is................. 21:452$390 Total (supposto)............. 148:04-3$718 Do gasto total supposto ha que deduzir o que corresponde á exportação, e que verdadeiramente nada custa. Introduzindo em cada processo o verdadeiro custo do transporte ver-se-hia o gasto verdadeiro de cada processo. r, n P i i • V 26-'591^328 OêUAH ,■ Custo do frete por ton. ,(verdadeiro) —- ____ —= o$449, reis 36:698,2 148:0433718 Idem (supposto). = 4$034 36:698,2 Differença..................................................... ........ 585 » Esta differença multiplicada pelo numero total de toneladas dá o gasto supposto da exportação. Resumo dos gastos L av ra.............................................................. 150:000$000 Cimentação..................................................... 124:609$640 Fundição para cobre roxo............................ 388:548$463 Enxofre, colheita, refino e venda................. 22:690$000 Venda de cobre............................................. 110:541$600 Total gasto.................................... 796:389$703 Productos: Enxofre.. . 2:000 ton. a 27$000 réis 54:000$000 Cobre....... 3:779,2 » a 450$000 » 1.700:640$000 Economia nos fretes: 5:779,2 equilibradas a 3$712 ré is......... 21:452$390 Total — producto illiquido....................... 1.766:092$390 Total gasto................................................. 796:389$703 Total — producto liquido (menos o juro do capital flutuante)............................ 979:702$687 N‘estas circumstancias o producto liquido seria distribui do do seguinte modo: Para o mineiro:
Lavra ......................................................... 150:000$000
Venda do minério na mina..................... 720:000$000
Lucro do mineiro — producto liquido (400 por cento do gasto).............................. 570:000$000 Imposto para o estado.................. 38:874$000
Para o fundidor: Gasto do tratamento................................ 646:389$703
Compra do ,minério.................................. 720:000$000 409:702$687 Total gasto................................................ 1.366:389$703
Producto illiquido.................................... 1.776:092$390
Producto liquido (30 por cento do gasto) Lucro do fundidor: Juro do capital flutuante 8 por cento do do dito, 4 por cento do gasto.............. 55:640$000 Lucro da fundição 26 por cento do gasto 354:062$687 Distribuição mais rigorosa do producto liquido: Distribuição absoluta dos lucros: Para o mínimo............................................ 511:689$000 Para o estado............... 38:874$000 Para o dono da superfície .. 19:437$000 58:311$000 570:000$000 Para o fundidor.......................................... 354:062$687
Producto liquido verdadeiro . . . 924:062$687
Distribuição relativa: Proporção Para o mineiro...................................................... 0,5548 Para o estado...................................................... 0,0420 Para o dono da superfície................................... 0,0210 Para o fundidor................. 0,3822 1,0000 O mineiro é melhor retribuído por causa dos riscos da empreza. O fundidor lucra menos que o mineiro, porque o seu risco é menor. O estado tem os gastos da administração. Para o dono da superfície que em nada concorre para o producto liquido, ainda que a sua parte pareça menor, é .em realidade exorbitante a retribuição. E —Venda do minério de 1.a classe em Inglaterra Cimentação de 2.“ e 3? Adoptando este systema, temos: Toneladas Minério de l . a classe com 6 por cento, segundo o ensaio inglez.....................................................20;000 Minério de 2.a, 4^2 p. c. 1:800 toneladas de cobre 40:000 » de 3.a, 3 p.c. 1:200 » » 40:000 Minério para a cimentação 3% p. c. contém 3:000 toneladas de cobre 80:000 Cobre obtido 2:519,5 toneladas. Minério ustulado 60:000 toneladas com 5 por c. Toneladas de cobre 3:000 Minério para fundição de ferro 8:400 toneladas com 8 por cento................................................ 672 Terras para cimentação 51:600 toneladas com 4,51 por cento.................................................... 2:328 3:000 Balanço do tramway: Toneladas Importação............................................................... 6:471 Exportação............................................................... 35:600 Somma..................................................... 42:070 O preço do transporte é n’este caso 460 réis por tonelada. Balanço de fretes: T on eladas Importação 8.......................................................... 17:024 Exportação............................................................26:119,5 Somma................................................ 43:143,5 No calculo do gasto suppõe-se que o transporte de cada tonelada de exportação e de importação custou 3$712 réis. Em realidade só as de exportação tiveram este gasto, e as de importação nada. Ou distribuindo o gasto total de fretes pelo numero total de toneladas, encontrámos o meio termo seguinte: 96:9553584 réis _ . ' . — y y — = 2$224 reis 43:143,5 toneladas Custo supposto...................................................... 3$712 » Economia resultante das toneladas equilibradas 1$488 réis Esta differença multiplicada pelo numero total de toneladas é igual ás toneladas de importação multiplicadas por 3$712 réis, producto que constitue a economia dos retornos. Substituindo o custo verdadeiro dos fretes ao supposto haveria uma diminuição em cada verba dos gastos de que resultaria o verdadeiro gasto de cada processo. Gastos relativos ás 80:000 toneladas destinadas á cimentação: L a v ra ........................................................ 120:000$000 Cimentação................................................ 146:016$5G0 Refino do cobre. Enxofre, colheita, refino e venda. 65:507$000 18:144$000 Venda do cobre da cimentação.............. 73:695$375 Gasto total............................... 423:362$935 Producto de 1:600 toneladas de enxofre........ 43:200$000 Producto de 2:519 toneladas de cobre............ 1.133:775$000 1.176:975$000 Producto liquido....................... 753;612$065 Gastos- Venda de minério de 1? classe Lavra......................................„................. 30:000$000 Separação d’esta classe........................... 4:000$000 * Transporte ao Pomarão e a Inglaterra. . 90:864$000 Gastos da venda........................................ 32:500$000 Total...................................... 157:364$000 Producto da venda: Cobre por tonelada E n x o f ^ 0’SV t o ! 5-8 = 26«100 2 6 $ 1 0 0 x 2 0 :0 0 0 = ......................... 522:000$000 Producto liquido....................... 364:6365000 Gastos: Resumo De cimentação............... 423:362$935 Da venda do minério... 157:364$000 580:72G$935 Producto: Da cimentação............... 1.176:975$000 Do minério de l . a.......... 522:000$000 1.698:975$000 Producto liquido to ta l............. 1.118:248$065 Economia nos fretes................. 63:193$088 Producto liquido definitivo . . . 1.181:441$153 Este lucro ficaria reduzido a 1.093:441$153 réis se na venda do minério nada pagassem pelo enxofre. Deduzindo os juros do capital fluctuante de fundição, etc., ficaria reduzido o producto realmente a 1.130:241$153 réis. Mineiros................ Distribuição distribuição 628:3903000 dos lucros „ _ Distribuição Proporção m ítis j u3(,a 0,5559 673:2753000 Estado.................... 47:7403000 0,0422 51:1503000 Dono da superfície. 23:8703000 0,0211 25:5753000 Fundidor................ 430:2413103 0,3808 380:2413153 1.130:2413153 1,0000 1.130:2413153 P — Cimentação de todo o minério com ferro cuprifero Toneladas de cobre O minério contém, a 4*/2 por cento................... 4:500 Só se obtem pela cimentação.................................. 3:779,2 As 100:000 toneladas de minério cru produzem 75:000 toneladas de minério ustulado. O minério ustulado produz: Toneladas Núcleos para a fundição de ferro cuprifero........... 11:600 Terras para a cimentação........................................ 63:400 Os núcleos contém : Toneladas a 10 por cento........ ........1:160 toneladas decobre 1:160 As terras contém: 5,2 a 5,3 porcento........... 3:340 se obtem.............. 2:619,2 Total minério ustulado a 6 por cento.......... 4:500 3:779,2
T o n eladas de ferro coado Para precipitar o cobre das terras necessita-se... . 6:548 Cobre contido............................................................. 1:160 Total de ferro cuprifero........... Dos núcleos obtem-se 0,56 de ferro. Balanço do tramway: Importação................................................. Exportação................................................. Som m a..................................• . Custa a tonelada de transporte 610 réis. Balanço de fretes: Importação................................................... Exportação................................................... Somma......................................... 7:708 9:200 22:000 31:200 24:150 5:779,5 29:929,5 Resumo dos gastos e productos: Lavra.............................................................. 150:000^000 Cimentação e refino do cobre.................. 300:686^280 Enxofre— colheita, refino e venda......... 23:060^000 Gastos da venda do cobre.......................... 110:541^600 Total — gastos............................ 584:287^880 Ton eladas Producto de cobre 3:779,2 1.700:640^000 Idem do enxofre.. 2:000 54:000^000 Economia nos fretes........... 21:452$390 1.776:092$390 Producto liquido........................ 1.191:804^515 Deduzindo os juros do capital flutuante .. 52:720^000 Producto liquido real............... 1.139:084^510 Distribuição do producto liquido : Distribuição Proporção Mineiro........................................... 673:275^000 0,5910 Estado.............................................. 51:150^000 0,0449 Dono da superfície......................... 25:575^000 0,0224 Fundidor................. .................... 389:084^510 0,3417 1.139:084^510 1,0000 Cimentação de todo o m inério com ferro ordinário A cimentação ordinaria dá os resultados seguintes: O balanço e a totalidade dos fretes fazem subir o transporte da tonelada pelo tramway a 880 réis, augmentando a importação relativamente á exportação. A totalidade dos transportes diminue
Resumo Gastos........................................................... 648:417^680 Productos..................................................... 1.776:092^390
Producto liquido........................................... 1.127:674^710
Producto liquido da cimentação com ferro cuprifero................................................... 1.191:804^510
Differença a favor da cimentação com ferro cuprifero................................................... 64:129^800
Motivos d’e sta differença
O ferro obtido pela fundição dos núcleos de ustulação sáe mais barato que o que se pode comprar em Inglaterra. Alem d’isso, como os núcleos levam uma parte de cobre das terras, estas ficam com menos, e necessita-se menos ferro para precipitar o cobre. Quanto á cimentação sée mais barata porque tirados os núcleos ficam menos terras para cimentar. Outras pequenas difterenças dependem dos transportes pelo tramway. Os numeros anteriores provam a grande vantagem da cimentação sobre os demais processos metallurgicos, quando se tratam minérios pobres da qualidade dos de S. Domingos. Depois da cimentação o meio mais conveniente de utilisa-los é vende-los ustulados, tendo extrahido antes 2 por cento de enxofre, e mesmo 12 a 15 por cento se o consummo o permittisse, o que é duvidoso. Só podendo vender as fabricas de acido sulfurico mais de 50:000 toneladas como minério de enxofre, é que a venda do minério cru seria preferível á do minério ustulado supposta a extração de 2 por cento de enxofre (D' no quadro synoptico.) O lucro elevado que offerece o systema raixto E representa sobretudo as vantagens reunidas do equilíbrio de uma grande parte dos fretes, e depende em grande parte da venda total do enxofre, e principalmente da cimentação de 2.a e 3.a classe. No caso de se não vender o enxofre (E') fica merecendo a preferencia a modificação E" do quadro synoptico. Se todo o minério tivesse o teor d a l . a classe, a venda do minério cru perderia immediatamente as vantagens do equilíbrio dos fretes e da venda total do enxofre, e as de cimentação resaltariam logo, identificadas as circumstancias, mesmo para um minério de 7 */2 por cento de cobre. O systema mixto D deve o seu producto liquido muito principalmente á cimentação parcial. Se, em vez de fundir, se vendesse o minério ustulado segundo a modificação D', o producto liquido subiria logo para provar a inferioridade da fundição comparada com a venda directa. Quanto ao systema de Galles, parece-nos supérfluo entrar em mais considerações a tal respeito. O progresso mais lucrativo em Swansea torna-se ruinoso em S. Domingos pela poderosa influencia das circumstancias locaes. Considerados os systemas em si mesmos relativamente ao teor, nota-se que a cimentação é vantajosa na rasão inversa da riqueza metallica, em quanto que as vantagens da fundição augmentam pelo contrario na rasão directa 5 de tal modo, que passado certo limite (variavel com as circumstancias) a fundição seria preferível á cimentação. Porém as condições de localidade e do teor em S. Domingos Nos nossos cálculos sobre a cimentação supporaos introduzidas essas melhoras. A ustulação e lixiviação e a cimentração serão praticadas pelos methodos conhecidos; porém nos transportes e na preparação mechanica applicada ao minério depois da ustulação adotamos os systemas mais aperfeiçoados, unicamente propomos uma modificação ainda não experimentada, mas que realisará seguramente uma grande economia. Consiste em extrahir das pyrites. o ferro necessário para a cimentação, conseguindo ao mesmo tempo a extração do cobre contido no minério que se concentre no ferro obtido, representando este ultimo 0 papel do enxofre na fundição crua.
PRODUCÇÃO DE TODAS AS MINAS METALLICAS DO HARTZ E DA SAXONIA
Hartz de 1801 a 1805 meio termo annual:
Gasto............................................ 637:370^400
Producto.................................................... 799:050^400 Lucro.......................................................... 161:680^000 Saxonia 1838: Gasto.................................................. . . . 1.007:400,>000
Producto......................................• .......... 1.020:600^000 Lucro.......................................................... 13:200^000
Total ambos os paizes: Gasto........................................................ 1.644:770^400 Producto................................................... 1.819:650$400 Lucro......................................................... 174:880^000
D ’onde se vê que a mina de S. Domingos por si só pode dar um producto liquido annual seis a sete vezes maior que o de todas as minas reunidas dos celebres districtos do Hartz e da Saxonia! Alem da mina de S. Domingos o Alemtejo conta outras similhantes pelo jazigo em Aljustrel, em Grândola e em Odemira. A situação de Odemira é pelo menos tão vantajosa como a de Mértola. Quanto ás minas de Grândola e de Aljustrel, a sua posição topographica não lhes permittindo um producto liquido tão elevado, os accionistas teriam que contentar-se com um lucro de 300 a 400 por cento dos gastos. Oxalá que estas minas encontrem, como a de S. Domingos, companhias tão poderosas, e directores tão hábeis na parte technica, e na especulação commercial. Lisboa, 22 de setembro de 1860. — João Maria Leitão. Está conforme. = Repartição de minas, em 21 de maio de 1861;== Antonio José de /Sousa Azevedo.