CATALOGO DOS OBJECTOS PERTENCENTES À MINA DE S. DOMINGOS EXHIBIDOS NA EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DO PORTO EM 1865

Ano: 
1865
Descrição: 

CATALOGO DOS OBJECTOS PERTENCENTES À MINA DE S. DOMINGOS
EXHIBIDOS NA EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DO PORTO EM 1865
Por
JAMES MASON,
ENGENHEIRO E DIRECTOR GERENTE
LISBOA
TYP, DA SOCIEDADE TYPOGRAPHICA FRANCO-PORTUGUEZA
6, Rua do Thesouro Vello, 6.

A MINA DE S. DOMINGOS
Tres legoas ao nascente da antiga Myrtilis Julia, hoje Mértola, edificada sobre o rio Guadiana, via-se ha poucos annos a serra de S. Domingos tão erma como nua de vegetação.
A meia encosta do lado do poente via-se apenas um humilde hermiterio com a invocação do Santo que deu o nome á serra: a cruz hasteáda na empêna convidava o viandante ou o pastor a descançar à sombra de duas annosas oliveiras, enquanto os pequenos rebanhos iam, de passagem, pelando o magro pasto que a aridez do solo deixava com custo vegetar.

Penedias escalvadas, de um vermelho sanguíneo coroavam o cume da serra e marcavam sobre ella os limites de enormes excavações, cujas profundezas não eram conhecidas. Grandes escoreaes revestiam a encosta por todos os lados e davam-lhe um aspecto particular, augmentando-lhe a aridez.
E tudo isto representava o trabalho de muitas gerações, e o resultado de uma rui- dosa industria, à qual succedeu o silencio profundo que segue sempre os grandes cataclismos.
E tão grandes excavações, tão vastos escoreaes tornaram-se em fim objecto apenas de contos phantasticos e de lendas curiosas, que foram passando nas visinhanças, de boca em boca, de geração em geração atravez de muitos seculos.
Estava porém reservado para a geração presente o commettimento de seguir os passos dos antigos exploradores, procurando nas entranhas da terra a materia util que ali- mentava a grande industria romana; e á actual empreza da mina de S. Domingos cabe a gloria de ter emprehendido e levado a cabo tão elevado projecto, quebrando, co- mo por encanto, o silencio profundo que durante seculos reinou n'aquellas paragens, por meio da actividade industrial que ahi tem sabido introduzir, e obtendo em recompensa a realisação dos contos phantasticos e das lendas populares, traduzindo-se os thesouros encantados em prodigiosa quantidade de mineral util.
A mina de S. Domingos tem hoje um logar importante entre os primeiros estabelecimentos mineiros da Europa, posição conquistada á custa de um capital avultado sob a egide de uma administração prudente e de uma acertada direcção technica. É com estes elementos que se tem sabido aprovei- tar todas as condições naturaes que a posição e riqueza do jazigo offerecem. É por este modo que James Mason, engenheiro e director gerente da empreza em Portugal e F. T. Barry, director commercial em Londres, tem conseguido collocar a mina de S. Domingos na vanguarda de todas as suas congeneres da provincia de Huelva em Hespanha, dominando completamente o mercado inglez, o verdadeiro mercado do mundo, d'onde afastam todos os concorrentes que não podem medir-se em forças productivas com a mina de S. Domingos.
O capital dispendido até hoje pela empreza no estabelecimento de S. Domingos e seus accessorios monta á elevada cifra de 300:000 libras sterlinas, proximamente; todo este capital acha-se immobilisado e representado pelas numerosas edificações levanta- das na serra de S. Domingos, pelo caminho de ferro que une a mina com o porto de embarque, com as obras e edificações n'este porto etc.
Em dezembro de 1858 via-se apenas na encosta da serra a pequena ermidinha de S. Domingos, hoje é tal a transformação que custa a distinguil-a entre as numerosas edificações que constituem a povoação mineira, composta de mais de 300 fogos, com uma bella igreja, casa para escola, hospital, palacio da empreza, laboratorio, sala de desenho, theatro, casa de philarmonica, casa de recreio com bilhar e gabinete de leitura, hotel, cavallariças, e officinas apropriadas para todos os serviços.
Todos estes edificios, construidos em seis annos, estão assentes em torno das excavações antigas que seguem alinhadas a crista da serra.
O jazigo metalifero, cujos affloramentos ahi são distinctos, consiste em uma massa compacta de pyrite de ferro cuprifero, com percentagem variavel de cobre, mas a que se pode attribuir o teor médio de 3 por cento. contendo além d'isso enxofre na proporção de 49 a 50 por cento. Esta massa pyritosa tem proximamente 500 metros de comprimento e 60 metros de possança média.
Os trabalhos mais profundos estão 52 metros abaixo da galeria de esgoto, galeria romana, ou 90 metros abaixo da superficie. Acima d'este andar ou pizo ha outro. 12 metros abaixo da mesma galeria.
O systema de desmonte em cada andar consiste na abertura de galerias longitudinaes, proximamente parallelas ao eixo maior da massa, e de outras transversaes, deixando pillares de sufficiente espessura para sustentar os tectos das excavações.
Há abertos em todo o campo da lavra 27 poços destinados, uns para esgoto e os de mais para ventilação dos trabalhos e para passagem dos operários, para o que são alguns munidos das competentes escadas.
O esgoto é feito por meio de bombas movidas por uma excellente machina a vapor que pode dar um effeito util de 30 cavallos.
A extracção tem logar por galerias inclinadas que communicam os dois andares com a superficie; e o transporte é feito em waggons puxados por meio de um malacate de cavalgaduras no tunel do andar inferior, e em zorras puxadas por muares no tunel do andar superior.
A mesma machina a vapor, que hoje é em- pregada no esgoto, deverá em pouco tempo substituir na extracção o emprego do motor de sangue.
Um caminho de ferro communica a mina com o Pomarão, porto de embarque situado na margem esquerda do Guadiana, junto á foz da ribeira de Chança que separa o Alemtejo da provincia de Huelva. A distancia a percorrer é proximamente de 48 kilometros,. e o transporte, feito primeiramente por meio de muares, depois por um systema mixto de muares e locomotivas, é agora completa- mente executado por locomotivas de construcção especial.
O porto do Pomarão não existia, fez-se. As margens aprumadas do Guadiana foram rasgadas e formou-se o espaço necessario para as differentes vias de resguardo do caminho de ferro, para deposito de mineral, para casas de habitação, escriptorios e armazens.
Um excellente caes reveste em grande extensão a margem e a elle encostam os numerosos navios de vela e a vapor que ali vêm receber carga. O serviço está de tal modo montado que os waggons vem directamente descarregar o mineral nos porões dos navios.
Um vapor da empreza anda constantemente em viagens entre o Pomarão e a barra de Villa Real de Santo Antonio, dando reboque aos navios de vela quando não tem vento de feição. São oito legoas de rio onde até 1859 se ouvia apenas o som compassado e monótono dos remos de algum batel; hoje as aguas do Guadiana agitam-se aos impulsos dados pelo movimento de centenares de navios de vela e pelos propulsores dos barcos de vapor, que dão ao rio uma animação e uma vida acima de toda a descripção, e tornam admiravel o panorama que o Pomarão hoje nos offerece.
Sem o rio Guadiana de tão facil navegação em uma tão longa distancia, sem um tão bom porto de embarque, como o Pomarão e o caminho de ferro construido pela empreza, a mina de S. Domingos teria a sorte de muitas outras que vivem rachiticas á falta de facil circulação.
Hoje a importancia d'este porto é tal, que se acha n'elle estabelecido pelo governo de Sua Magestade uma estação telegraphica e uma delegação aduaneira de primeira classe, onde são registrados os navios e onde são pagos os direitos de importação e de exportação.
Foi de 563 o numero de navios que durante o anno de 1864 receberam carga no Pomarão para a transportarem a diversos portos da Gran-Bretanha. A quantidade de mineral exportado n'esses navios foi de 423 mil toneladas inglezas de 1:016 kilogrammas.
A primeira carregação de mineral da mina de S. Domingos teve logar em 23 de março de 1859, e no periodo que decorreu até 31 de dezembro ultimo a exportação total tem sido de 400:000 toneladas.
Esta enorme quantidade de mineral representa todavia uma pequena fracção do que a massa metalifera de S. Domingos póde fornecer. Só a quantidade de mineral contido ainda na parte da massa acima do pizo ou andar de 52 metros, pode calcular-se em 6 a 8 milhões de toneladas, o que dá para um consumo annual de 200:000 toneladas de pyrites durante o largo periodo de 30 a 40 annos.
Em um local denominado Achada do Gamo, junto do caminho de ferro, trata-se hoje de montar um vasto estabelecimento onde deverão ser calcinados, triturados e tratados pelo processo de cementação as pyrites, cuja pobreza em cobre não permitte a sua exportação para os mercados estrangeiros. Estão já montadas uma machina de vapor e os apparelhos de trituração, e prosegue-se com actividade na construcção dos fornos de calcinação e dos tanques de cementação.
Duas grandes albufeiras, que devem fornecer a agua necessária para esta operação, estão já construídas.
É elevado o numero de pessoas empregadas nos differentes serviços; a direcção technica, a administração, os trabalhos subterraneos e da superficie, as differentes officinas, o caminho de ferro, e o serviço do porto do Pomarão, occupam hoje perto de 900 pessoas. Entretanto este numero já foi mais elevado e subiu a 5:000 em quanto durou a construção do caminho de ferro.
O numero de cavalgaduras muares empregadas no interior da mina, nos differentes serviços exteriores e na conducção de mineral pelo caminho de ferro era em Abril ultimo de 269; e antes de estar construido o caminho de ferro, quando o transporte para o porto de Pomarão era feito somente por cavalgaduras, chegou a 1:500 o numero d'estas, em pregadas diariamente n'este serviço. Além das immensas vantagens indirectas que Portugal tira de tão collossal empreza, não são menos importantes as vantagens que o fisco aufere directamente, pois que o imposto especial de minas, pago pela empreza em relação ao mineral exportado em 1864. subiu á verba de 18:863$250; e as contribuições predial, pessoal, industrial, parochial e municipal, e os direitos de importação e de exportação prefizeram em 1864 a quantia de 18:772$420.
Eis pois em resumido quadro tudo quanto parece tornar a mina de S. Domingos digna de todo o interesse e na Europa a primeira entre as do mesmo genero. São estes os titulos com que a empreza mineira de S. Domingos, representada por James Mason, engenheiro e director gerente, accode ao chamamento para a festa de todas as industrias. ao concurso internacional de todos os ramos da actividade humana, exhibindo os seguintes objectos, que não só representam os differentes estabelecimentos da empreza em Portugal, mas dão idéa da sua vastidão, natureza do jazigo, e da antiguidade dos trabalhos dos primeiros exploradores.
Pinturas, photographias, modelos, e desenhos
N.° 4 Vista da serra de S. Domingos em dezembro de 1858.
N.° 2 Vista do estabelecimento mineiro que sobre a serra de S. Domingos se tem levantado desde dezembro de 1858 até março de 1865, tomada do lado do sul.
N. 3 Idem, idem, tomada do lado do poente. N. 4 Vista do porto de Pomarão nas margens do Guadiana.
N. 5 Idem, idem.
N.° 6 Vista da Achada do Gamo, local aonde a empreza está montando uma fabrica para beneficiar o mineral mais pobre de baixo de um systema inteiramente novo, do quál é inventor e tem um privilegio por 15 annos, dado pelos governos portuguez e hespanhol, o engenheiro e director gerente James Mason.
N. 7 Photographia de uma das locomotivas que estão em servico activo no caminho de ferro que une a mina de S. Domingos ao Pomarão.
N.° 8 Modelo da barca Pomarão, de fundo razo, construida expressamente para serviço da empreza de S. Domingos na conducção do mineral.
N. 9 Planta dos trabalhos subterraneos, executados no primeiro andar, 12 metros abaixo da galeria romana de esgoto.
N. 10 Planta dos trabalhos subterraneos executados no segundo andar, 52 metros abaixo da galeria romana de esgoto.
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Specimens de mineraes e alguns objectos encontrados nos trabalhos antigos
N.° 1 Amostra de mineral extrahido 45 metros abaixo da face superior da massa.
N.° 2 Idem, idem.
N.° 3 Idem, idem.
N.° 4 Idem, idem.
N.°
5 Idem, idem.
N.° 6 Idem, idem.
N.° 7 Idem, idem.
N.°
8 Idem, idem.
N.° 9 Idem, idem.
N.° 10 Idem, idem.
N.° 14 Idem, idem.
N.° 12 Idem, idem.
N. 13 Amostra de mineral extrahido 83 metros abaixo da face superior da massa.
N. 14 Idem, idem.
N. 15 Idem, idem.
N.° 16 Idem, idem.
N.° 17 Idem, idem.
N.° 48 Idem, idem.
N. 19 Idem, idem.
N.° 20 Idem, idem
N.° 21 Idem, idem.
N. 22 Idem, idem.
N. 23 Amostra do mineral extrahido 60 metros abaixo da face superior da massa.
N. 24 Amostra da rocha metarmophica no contacto com a parte superior da massa.
N. 25 Idem, idem.
N. 26 Amostra da rocha amorpha de ferro Oxy-hydratado com pequenas crystallisações, extrahido 40 metros ao sul . da massa.
N. 27 Amostra de escoreas das explorações antigas.
N. 28 Amostra de schisto talcoso sublusente, arrancado à distancia de 200 metros ao sul da massa e 18 metros abaixo da superficie do solo.
N. 29 Amostra de schisto talcoso sublusente, arrancado á distancia de 100 metros ao norte da massa e á superficie do solo.
N. 30 Amostra de schisto talcoso sublusente, arrancado a distancia de 200 metros ao sul da massa e á superficie do solo.
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N. 31 Amostra da rocha esteril da salbanda do norte, 30 metros abaixo da face superior da massa.
N. 32 Idem, idem.
N. 33 Amostra da rocha esteril da salbanda do sul, 72 metros abaixo da face superior da massa.
N. 34 Idem, idem.
N.º 35 Amostra da rocha esteril da salbanda do norte; 72 metros abaixo da face superior da massa.
N.° 36 Idem, idem.
N.° 37 Amostra da rocha esteril da salbanda, proxima á extremidade oeste da massa e 30 metros abaixo da face superior da mesma.
N. 38 Amostra da rocha que constitue uma cunha de esteril na massa mineral e proxima á extremidade oeste da sua face superior.
N. 39 Amostra de tijolos encontrados na superficie entre os restos dos trabalhos antigos.
N. 40 Idem, idem.
N.° 41 Um madeiro tirado dos trabalhos antigos.
N. 42 Um resto de cobre fundido, encontrado no logar onde se suppõe ter existido um forno romano.
N. 43 Um crivo de cobre achado entre as escoreas das fundições antigas.
N.° 44 Um travessão de cobre terminado por uma cabeça de javali, encon- trado entre as escoreas dos trabalhos antigos.
N. 45 Tres lampadas de barro encontradas nos trabalhos subterraneos dos romanos.
N.° 46 Um pedaço de tubo pertencente a uma bomba de bronze, na qual se vê a acção que a agua tem exercido sobre esta liga, tendo apenas estado onze mezes debaixo d'agua.
N. 47 Uma roda hydraulica de cubos para desague da mina nas explorações antigas.
É parte de uma das nove rodas hydraulicas que se encontraram nos trabalhos subterraneos antigos, abaixo da galeria romana de esgoto. Estavam em differentes niveis e elevavam a agua, successivamente até a lançarem na galeria de esgoto. O movimento era-lhes dado pela força animal.
Collecção especial de moedas e de diversos objectos de pequenas dimensões, encontradas nos trabalhos antigos.
Nº 1 Uma estatueta de cobre.
» Uma pequena tampa de cobre.
» Um anel de cobre.
» Um gancho para cabello de senhora.
2 Quatorze moedas antigas indecifraveis.
3 Uma moeda da época de Constancius II.
4 Uma idem, idem de Vespasian Coloseum.
5 Uma idem, idem de Arcadius ultimo dos imperadores.
6 Uma idem, idem de Julianus.
7 Uma idem, idem de Magnentine com o ultimo symbolo.
8 Uma idem, idem de Nero.
9 Uma idem, idem de Claudius.
10 Uma idem, idem de Antonius Pius.
14 Uma idem, idem de Aurelius.
12 Uma idem, idem de Constantinus Magnus.
13 Uma idem, idem de Caligula.
N. 14 Três idem, idem arabes.
15 Cinco idem, idem de Tiberius.
16 Uma idem, idem de Domicianus.
17 Cinco idem, idem de Adrianus.

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